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A Lista de Convidados ♥ Lucy Foley

Resenha de A Lista de Convidados de Lucy Foley, em edição especial do Intrínsecos 029, de fevereiro de 2021, da Editora intrínseca.

Seu nome está nA Lista de Convidados? O meu com certeza está e eu não perderia essa união por nada, já que bem, não é apenas pela Jules, tem também o Will. O glamour, o lugar exótico e único. E, claro, terá bolo (ou assim eu espero). Mas o mais importante de tudo é que também haverá um assassinato. Ah, não ficou sabendo? Eu disse que era um evento imperdível! A não ser que você seja a vítima…

A Lista de Convidados (The Guest List)
Lucy Foley
Tradução Maria Carmelita Dias
Intrínsecos | Intrínseca | 2021 | 304p.
Disponível em Amazon
“Aqui temos todo o perigo extra da ilha. O caráter selvagem deste lugar impregna a pele. Esses convidados vão se sentir bem distantes dos códigos morais normais da sociedade, a salvo dos olhos intrometidos.”
Resenha de A Lista de Convidados de Lucy Foley, em edição especial do Intrínsecos 029, de fevereiro de 2021, da Editora intrínseca.
Sobre Lucy Foley

Lucy Foley estudou Literatura Inglesa e trabalhou durante anos no mercado editorial como editora de ficção, até se dedicar à escrita em tempo integral. A Última Festa é sua estreia na literatura de suspense, que chegou ao Brasil pela Intrínseca e primeiramente pelo Clube Intrínsecos, após a publicação de três romances históricos, que foram traduzidos para dezesseis idiomas. Já escreveu para veículos como ES Magazine, Sunday Times Style, Grazia e outros.

Resenha de A Lista de Convidados de Lucy Foley, em edição especial do Intrínsecos 029, de fevereiro de 2021, da Editora intrínseca.
Sinopse de A Lista de Convidados

Em uma ilha afastada na costa da Irlanda, convidados se reúnem para celebrar uma união de dar inveja. O noivo, bonito e charmoso, é uma estrela de TV em ascensão. A noiva, elegante e ambiciosa, é editora da própria revista. A festa de casamento é um reflexo de suas personalidades: vestido e terno de grife, localização remota e exclusiva, decoração luxuosa, uísque da melhor qualidade. Tudo rigorosamente planejado.

Mas a perfeição só existe mesmo nos planos. E o perigo mora nos detalhes. À medida que as garrafas de champanhe estouram e a festa avança, o ressentimento e a inveja começam a se sobrepor à alegria e aos votos de felicidade. E então uma tempestade desaba com fúria sobre a ilha, e esse é só mais um motivo para abalar os ânimos já alterados.

Depois de uma abrupta queda de luz no meio da festa, a garçonete anuncia aos convidados que um corpo foi encontrado. Isolados e aguardando a chegada da polícia, apenas uma coisa é certa: o assassino é uma das pessoas presentes no evento.

Resenha de A Lista de Convidados de Lucy Foley, em edição especial do Intrínsecos 029, de fevereiro de 2021, da Editora intrínseca.
A Lista de Convidados

Um castelo numa ilha isolada na Irlanda, rodeada de mar revolto. Talvez a cena possa lhe fazer pensar em um cenário propício para uma bela história e tenho certeza de que a noiva, Jules, também acha. Seu casamento precisa ser marcante, impactante, deixar uma memória inesquecível nos convidados. Não apenas para que isso gere ainda mais renome à sua sofisticada revista on-line, a The Download, mas também porque seu noivo é ninguém menos que Will, um prestigiado participante de um reality show de sobrevivência.

“Você descobre todos os segredos íntimos fazendo esse tipo de trabalho. Vê coisas que ninguém mais tem o privilégio de ver. Todas as fofocas que os convidados matariam para descobrir. Como cerimonialista, não é possível se dar ao luxo de deixar escapar alguma coisa. Tem que estar alerta para qualquer detalhe, todos os turbilhões por baixo dos panos. Se eu não prestar atenção, qualquer marola pode crescer e se transformar em uma onda gigante, destruindo todo o meu cuidadoso planejamento. E eis outra coisa que aprendi: às vezes, as marolas menores são as mais fortes.”
Resenha de A Lista de Convidados de Lucy Foley, em edição especial do Intrínsecos 029, de fevereiro de 2021, da Editora intrínseca.

Seus convidados podem achar a escolha até mesmo inusitada, mas Jules é alguém que tem tudo sob controle. Então não apenas o planejamento do casamento foi impecável, como a execução, delegada à Aoife, cerimonialista e proprietária do castelo, também o será. E talvez, mesmo com os convidados confinados em um lugar um tanto quanto sombrio, repleto de histórias assustadoras unido às suas diferenças realçadas como sob uma lupa, não fossem empecilho para que tudo fosse perfeito. O detalhe que, por descuido, não constou do programa do casamento, é que um assassinato também iria ocorrer na grande festa.

“No entanto, eu não gostaria de me casar em um lugar como essa capela. É bonita, sim, mas definitivamente há algo de trágico nessa beleza, até mesmo um pouco macabro. Destaca-se contra o céu, como dedos longos e retorcidos, estendidos, brotando do chão. Tem um quê de assombrada.”

Agora, o que resta a perguntar é: quem é a vítima? E, especialmente, quem é o assassino? Essa é uma das partes mais interessantes da história criada por Lucy Foley, ela anuncia de pronto ao leitor que um crime aconteceu. Mas aqui o mistério não se resume apenas à quem é culpado, diz respeito também à vítima.

“Ergo o olhar e vejo: um grande cormorão, empoleirado no lugar mais alto da capela em ruínas, suas asas pretas arqueadas abertas para secar, como um guarda-chuva quebrado. Um cormorão em um campanário: um mau presságio. O pássaro do diabo, como é chamado por aqui. O cailleach dhubh, a bruxa negra, o portador da morte. Espero que os noivos não saibam disso… ou não sejam supersticiosos.”

Assim, ela desbrava uma trama, alternando entre o ponto de vista de alguns personagens: Jules, a noiva; Aoife, a cerimonialista; Hannah, a acompanhante; Johnno, o padrinho; e Olivia, a madrinha. E, a partir daí, vamos conhecendo os noivos, seus convidados e as histórias por trás da história que se desbrava. Afinal, ninguém é feito apenas de presente e o passado que conecta alguns dos personagens é como a vida cotidiana, às vezes cheio de detalhes quase irrelevantes, às vezes, repleto de segredos que serão levados até o túmulo, sem ser revelados.

“O som do grito reverbera no ar mesmo após ter terminado, como um vidro estilhaçado. Os convidados ficam paralisados na esteira daquele urro. Todos, absolutamente todos, olham para fora da tenda, em direção à escuridão estrondosa de onde ele veio. As luzes piscam, ameaçando outra falha de energia.”

Apesar de algumas diferenças em níveis sociais presentes entre os personagens é difícil ter muita empatia e se pegar à eles. Algumas construções são um tanto quanto frágeis e, por mais que alguns temas importantes sejam trazidos à tona, como relacionamentos abusivos, no fim das contas, o núcleo de personagens se resume à brancos, quase todos ricos e mimados, em uma mistura de amargura pelo dinheiro que têm ou pelo quanto desejam ter. Representatividade, em vários aspectos, não é uma palavra que passa perto dessa história.

“Realize feitos corajosos e aguente firme […] Se não consigo mover o céu, então vou despertar o inferno.”

A ambientação é um ponto interessante, a ilha traz um local que parece ao mesmo tempo abraçar e sufocar, especialmente com as histórias que circundam o lugar. Ainda que, de certa forma, muitas vezes são informações jogadas no princípio do livro e pouco exploradas em seu desenvolvimento, seguindo o fio mais pelo esforço imaginativo do leitor. Todos os personagens tem suas próprias percepções sobre o local e sofrem com o enfeito do confinamento, mas, ao mesmo tempo, o que poderia ser mais um personagem interessante na história: o próprio castelo ou a ilha, não chegou a tanto.

“Já entendi a esta altura que neste lugar há correntes de ar que conseguem entrar de alguma forma, mesmo com portas e janelas fechadas. Elas passam por nós fazendo piruetas, beijam nossa nuca, causam comichão em nossa espinha, suaves como a ponta dos dedos.”

A narrativa também, infelizmente, não cativou. Não só achei o ritmo muito lento, como também a trama não consegue evoluir e prender. Você fica oscilando entre personagens “ok” e personagens detestáveis num desenvolvimento arrastado, que se prende sempre aos mesmos fatos e detalhes e que é pouco profundo. E o problema nem é ter personagens detestáveis, porque é possível ter uma história incrível repleta deles. Mas, a medida que os segredos surgem, que a sujeira para de caber debaixo do tapete, o que você percebe é que o bolo de casamento veio recheado de coincidências. Não uma ou outra, mas alguma conspiração maluca do universo que uniu absolutamente todos os núcleos dos personagens para entrelaçar os motivos para determinar a vítima e o assassino. Ficou aquela sensação de que a história forçou a barra.

“[…] grande parte do casamento, já percebi, é feito de aparências. Se conseguirmos aparentar alegria e júbilo durante todo o evento… bom, talvez então possamos disfarçar quaisquer forças mais obscuras borbulhando no fundo desse caldeirão.”

Especialmente quando se coloca luz frente às coincidências tramadas, costumo exprimir minha ideia de construção narrativa como o livro The Pixar Touch de David A. Price traz: “Coincidences to get characters into trouble are great; coincidences to get them out of it are cheating.”* Em tradução livre, “Coincidências que colocam os personagens em problemas são ótimas; coincidências que as tiram deles, são trapaça.” Aqui, sendo bem gentil, a vítima pode até ter sido colocada em apuros devido às coincidências, mas a história, por sua vez, as usa como justificativa para os problemas que ela mesma necessita para existir: como justificar essa morte e, especialmente, como criar o maior número possível de suspeitos? Como um bolo em camadas construído sobre uma base frágil, está prestes a desmoronar.

“[…] casar significa encontrar a pessoa que você mais conhece no mundo. E não me refiro a saber como preparar seu café, ou qual é seu filme favorito, ou como se chamava seu primeiro animal de estimação. É um conhecimento em nível mais profundo. Conhecer a alma da pessoa.”
Resenha de A Lista de Convidados de Lucy Foley, em edição especial do Intrínsecos 029, de fevereiro de 2021, da Editora intrínseca.

Claro que leituras são sempre pessoais, por mais que alguns amem, outros podem detestar e minha opinião, apesar de encontrar semelhantes acerca do livro, não exprime o sentimento de todos os leitores, muitos inclusive, que adoraram o primeiro e este livro da autora. A Última Festa foi o primeiro livro de Lucy Foley que a Intrínseca trouxe ao Brasil, também primeiramente pelo Intrínsecos (#015 de dezembro de 2019). Ainda não li A Última Festa, mas também não posso negar que a similaridade dos enredos, somados aos comentários de que A Lista de Convidados é melhor e mais bem elaborado, trouxe desânimo para conhecer essa outra história. Veremos. Se quiser conhecer A Última Festa, ler a sinopse, é só clicar aqui.

“Tudo parece ter mudado nesta ilha, como se o lugar estivesse causando isso e tivéssemos vindo parar aqui por algum motivo.”
Resenha de A Lista de Convidados de Lucy Foley, em edição especial do Intrínsecos 029, de fevereiro de 2021, da Editora intrínseca.
Aleatoriedades

O livro A Lista de Convidados da Lucy Foley foi publicado primeiro em edição especial do Intrínsecos, o clube de assinatura de livros da Editora Intrínseca. Para conhecer o clube, é só clicar e conferir o site Intrínsecos.

Como todo kit do Intrínsecos, a edição de A Lista de Convidados é em capa dura e com textura, e veio acompanhada de cartão postal com a capa comercial do livro, marcador de página temático da história e exclusivo, Revista Intrínsecos brinde especial, que, aliás, foi um jogo estilo detetive incrível!

Por último, dica para quem gosta de suspense: O que aconteceu com Annie da C. J. Tudor, que também saiu primeiro pelo Intrínsecos e Iluminadas da Lauren Beukes.

* The Pixar Touch de David A. Price texto disponível em The Pixar Touch Book

Que a Força esteja com vocês!

xoxo

Retipatia
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  • Juliana Sales

    Não consigo me decidir se quero ler esse livro ou não. Eu li A Última Festa e fiquei bem decepcionada. Talvez por conta das expectativas que criei, esperava uma história de investigação, mais voltada para o romance policial, mas encontrei quase um drama, focado nas relações entre os personagens e seus problemas. A premissa de A Lista de Convidados me agrada, mas se o desenvolvimento for como o de A Última Festa, já sei que não vou gostar. Aliás, o que você disse sobre os personagens aqui também se aplicar no outro livro da autora.

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    • Retipatia

      Oi Juliana!
      Ah eu super te entendo. Por todos os comentários que eu vi, o foco no desenvolvimento da história é bem mais na relação dos personagens e não na questão investigativa. Inclusive por isso acho que senti as coisas superficiais. E muita gente que leu os dois, disse que A Lista é melhor o desenvolvimento e também que o padrão da história é o mesmo. Eu imagino que uma hora vou ler sim, mas sei que não vai ser por agora, com essa história ainda fresca na minha memória.
      Obrigada pela visita! 🙂
      xoxo

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