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A Última Margem de Ursula K. Le Guin

Fotografia em flat lay do livro A Última Margem, de Ursula K. Le Guin, publicado no Brasil pela Editora Morro Branco, em edição capa dura na cor azul marinho, com escrtios e ilustração na capa em azul claro brihante. O cenário incluio vela, fundo com tecido e livro aberto, pinhas em um pote redondo, xícara cinza sobre pires com um macaron e os outros livros do Ciclo Terramar aparecendo no canto.

A aventura de A Última Margem

A Última Margem é o terceiro livro do Ciclo Terramar, saga da celebrada Ursula K. Le Guin, que está sendo publicada em edições de luxo pela Editora Morro Branco.

Do mesmo modo que a saga iniciada em O Feiticeiro de Terramar nos levou até as profundezas d’As Tumbas de Atuan, em A Última Margem acompanhamos mais uma vez o arquimago Ged em uma batalha entre luz e trevas, essencial para o equilíbrio do mundo.

Por isso, fica o aviso: este post pode conter spoilers sobre o primeiro e segundo volumes do Ciclo Terramar!

Imagine que a magia está se esvaindo do mundo: primeiro de maneira lenta, tal qual sussurros fáceis de ignorar. Mas, com o tempo, a velocidade aumenta, e mais e mais rumores surgem aqui e ali de que a magia está deixando as terras de Terramar.

Por isso, Ged é chamado para ajudar o jovem príncipe Arren, de Enlad, a descobrir o que vem sugando a magia do mundo e trazendo desequilíbrio, fome, pragas e destruição.

Assim, Ged parte em mais uma aventura, mas já muito diferente do jovem aprendiz de magia que nos deparamos no primeiro livro d’O Ciclo Terramar.

Agora, em A Última Margem, Ged é Arquimago e Senhor dos Dragões, conhecido até mesmo nos lugares em que sua magia não é reconhecida.

Mas, em compensação, o desafio que aguarda nestas páginas é também maior, mais perigoso e mortal, porque nasce de um dos desejos mais sombrios das pessoas: o poder de ser imortal.

Desfrutamos da luz do sol por muito tempo, nos aquecendo naquela paz que o restabelecimento do Anel trouxe, realizando pequenas coisas, pescando nas águas rasas. Hoje à noite, precisamos examinar as profundezas.

Equilíbrio como ponto central de A Última Margem

Viajando por terras longínquas e descobrindo que a magia também depende do equilíbrio do mundo, nós nos surpreendemos com mais uma jornada fantástica de Ursula K. Le Guin.

Dentro dos mistérios e temas que abordados na história, o foco central é a própria magia, que está sumindo das terras de Terramar e ameaçando o equilíbrio do mundo.

Isso porque alguém está transformando os feiticeiros e dotados de magia em meros seres sem alma. São todos cascas vazias que se entorpecem e buscam caminhos sombrios para o que acreditam ser a vida eterna.

“Eles perambulam”, o capitão disse, “sem olhar para o mundo”.

Assim, a batalha verdadeira começa na jornada em se descobrir o que está acontecendo de fato, quem está causando e como a própria magia pode ser restaurada.

A partir disso, conhecemos a história que é, sem dúvidas, a mais atemporal apresentada por Ursula até agora no Ciclo Terramar.

E isso acontece porque em A Última Margem, não se trata apenas de uma jornada pessoal que nos faz buscar a correção de erros, fazer as pazes com quem somos ou retirar a venda colocada pelo mundo ao nosso redor.

Aqui, a ausência de magia traz um desequilíbrio que é demonstrado através da exacerbação da pobreza, indiferença, doenças e mau agouro.

O que se passa nesta ilha é maligno, maligno: essa perda do ofício e da altivez, essa falta de alegria, esse desperdício. Esse é o trabalho de uma vontade maligna.

Assim, o problema, logo é possível que a gente perceba, não está conversando simplesmente pela perda mágica. Mais importante que isso é o debate em pauta sobre os discursos sedutores do poder, exercido através do vício e objetivando algo inalcançável.

A bordo do Visão Ampla e em companhia de Ged e Arren, a busca aqui então não é uma mera batalha para que a luz vença as trevas. Aqui falamos em uma luz que seja capaz de restaurar o equilíbrio entre as trevas e ela própria.

Fotografia em flat lay do livro A Última Margem, de Ursula K. Le Guin, publicado no Brasil pela Editora Morro Branco, em edição capa dura na cor azul marinho, com escrtios e ilustração na capa em azul claro brihante. O cenário incluio vela, fundo com tecido e livro aberto, pinhas em um pote redondo, xícara cinza sobre pires com um macaron e os outros livros do Ciclo Terramar aparecendo no canto.

O perigo de discursos sedutores

Diante de tudo isso, ou para nos guiar por tudo isso, Ursula desbravou novos pontos de Terramar. Assim, fomos de um incrível mundo flutuante que navega mar adentro a lugares empobrecidos nos quais a loucura tornou o lugar da magia.

Indo ainda mais longe, até A Última Margem, Ursula nos traz debates que vão conversar diretamente com os dias de hoje, mesmo em se tratando de uma fantasia publicada em 1972.

Um deles é sobre o vício em substâncias alucinógenas, outra, o poder de discursos ideológicos ou religiosos sobre nossos pensamentos e atitudes.

Uma epidemia é um movimento da grande Harmonia, do Equilíbrio em si… Isso é diferente. Carrega o cheiro do mal. Podemos sofrer quando a harmonia das coisas se ajusta, mas não perdemos a esperança e nem renunciamos à arte e esquecemos as palavras da Criação. A Natureza não é antinatural. Não se trata de um ajuste da Harmonia, e sim de sua perturbação. Há apenas uma criatura que pode provocar isso.

Mesclando a jornada pessoal do próprio jovem Arren à jornada para salvar a magia do mundo – e o próprio mundo – , é possível traçar inúmeros paralelos e reflexões sobre a realidade que estamos inseridos, até mesmo no chamado pós-pandemia.

A crença e a existência da magia é nublada na história pela ganância e pelo medo. E, ao mesmo tempo, o fio por detrás é mais do que o simples limiar que entrelaça vida e morte: o poder.

Um poder que se impõe não pela força, mas de modo sutil e, talvez por isso, mais perigoso. De modo sutil, o que temos é um discurso ideológico e de crença que ludibria, mente, distorce e oferece uma recompensa inalcançável.

Nas palavras da própria autora:

acho irresponsável deixar uma crença pensar por você ou uma substância química sonhar por você.

ursula k. le guin – Posfácio de a última margem

O fim do Ciclo Terramar?

Quando Ursula K. Le Guin escreveu o Ciclo Terramar, a história nascida da ideia de um conto, se encerrou como uma trilogia, composta pelos três títulos que já citamos aqui:

Porém, a autora continuou sua jornada por Terramar tempos depois, com novas obras que exploram, inclusive, o lado mais feminino da magia, levando o protagonismo do feiticeiro Ged para outras personagens.

Por enquanto, a Editora Morro Branco publicou os três primeiros volumes, obras que merecem celebração e leitura, seja você ainda aprendiz de feiticeiro ou arquimago.

Por aqui, se tornou uma das melhores jornadas fantásticas que já experimentei, sempre dotada de uma complexidade ímpar nas diversas camadas que a autora é capaz de construir ao longo da trama. Sem dúvidas, uma história que não acaba na última página, ou sequer, na última margem do mundo.

Fotografia em flat lay do livro A Última Margem, de Ursula K. Le Guin, publicado no Brasil pela Editora Morro Branco, em edição capa dura na cor azul marinho, com escrtios e ilustração na capa em azul claro brihante. O cenário incluio vela, fundo com tecido e livro aberto, pinhas em um pote redondo, xícara cinza sobre pires com um macaron e os outros livros do Ciclo Terramar aparecendo no canto.

Ficha Técnica de A Última Margem

A Última Margem

Ciclo Terramar

 

Título original:
The Farthest Shore

Autoria:
Ursula K. Le Guin

Autoria:
Tradução Heci Regina Candiani

Editora:
Morro Branco

Ano de lançamento:
2023 (edição da Morro Branco)

Ano de lançamento:
1972 (primeiro lançamento do livro)

ISBN:
978-6586015799

Gênero:
Fantasia Épica

Páginas (nº):
224
“Um homem não faz seu destino: ele o aceita ou o nega…”
A ordem foi rompida. Cantores esqueceram suas canções, feiticeiros não lembram mais como evocar seus poderes, habitantes mergulham em uma prometida imortalidade e as fontes vitais da magia estão secando.
Ged, feiticeiro e Senhor dos Dragões, decide adentrar em mares sem fim para encontrar a fonte dessa ruína e conter o inexplicável mal que se espalha rapidamente. Com a ajuda do jovem príncipe de Enlad, Arren, ele embarca pelas águas que circundam as ilhas do continente em uma jornada traiçoeira que testará suas forças e desejos.
Para restaurar a magia e trazer de volta o equilíbrio às terras afligidas pela destruição, os dois precisarão desbravar os cantos mais remotos do mundo, ultrapassando sua última margem — até os confins do reino da morte, de onde talvez não consigam mais voltar.
Aclamada como uma das melhores séries de fantasia de todos os tempos e ganhadora dos principais prêmios, como Locus e Hugo, a obra de Ursula K. Le Guin, que se tornou referência e inspiração para a literatura fantástica mundial, chega agora em versão definitiva com ilustrações do inigualável Charles Vess.

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  • Luly Lage

    Miniina, esse post foi vráu atrás de vráu, fico imaginando o livro em si, hahahaa!

    Achei incrível como, realmente, a gente consegue ver muitos problemas estruturais da sociedade nessa narrativa… Isso de a perda da magia partir do desequilíbrio me fez pensar em magias da vida real e de como, de fato, elas são massacradas por muitos desequilíbrios (e desigualdades) que vivemos. E 50 anos atrás já tinha alguém escrevendo sobre! Espero que a editora continue trazendo as histórias da Ursula pra gente…

    responder