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A Revolução dos Bichos ♥ George Orwell

Resenha do clássico de George Orwell, A Revolução dos Bichos, em edição especial pela Editora Intrínseca.

O clássico A Revolução dos Bichos de George Orwell se prova (infelizmente), atemporal. Numa história narrada ao estilo de fábula, o autor nos leva até a Fazenda do Solar, quando os animais decidem tomar conta do lugar e expulsar o dono da fazenda e qualquer humano que viva por lá. Só que o que deveria ser um sonho de liberdade e igualdade, acaba sendo subjugado por um sistema cada vez mais rígido e cruel.

A Revolução dos Bichos (Animal Farm)
George Orwell
Tradução André Czarnobai
Ilustrações Ralph Steadman
Intrínseca | 2021 | 240p.
Disponível em Amazon (edição exclusiva)
“Todos os hábitos do Homem são maus. E, acima de tudo, nenhum animal deve jamais tiranizar a própria espécie. Fracos ou fortes, inteligentes ou simplórios, somos todos irmãos. Nenhum animal deverá jamais matar outro animal. Todos os animais são iguais.”
Sobre George Orwell & Ralph Steadman

George Orwell (Eric Arthur Blair) nasceu em Motihari, na Índia, em 25 de junho de 1903. De 1922 a 1927, serviu na Polícia Imperial em Burma. Depois de morar em Paris por dois anos, voltou à Inglaterra, onde trabalhou como tutor particular, professor e funcionário de uma livraria. Orwell lutou na Guerra Civil Espanhola ao lado dos republicanos e ficou gravemente ferido. Na Segunda Guerra Mundial, serviu na England’s Home Guard e trabalhou para a BBC. Em seguida, se juntou ao Tribune e se tornou correspondente especial para o Observer. É autor também, entre outras obras, de 1984. Morreu de tuberculose em Londres em 1950.

Ralph Steadman nasceu em Chesire em 15 de maio de 1936 (ano em que a Guerra Civil Espanhola começou). Foi agraciado com diversos prêmios internacionais e ganhou renome nos Estados Unidos pelas ilustrações do clássico de Hunter S. Thompson Medo e delírio em Las Vegas, entre outros trabalhos, como Alice no País das Maravilhas, I, Leonardo, Between the Eyes, Paranoids e The big I am.

Sinopse de A Revolução dos Bichos

Desde o seu lançamento, em 1945, A revolução dos bichos se tornou um marco da literatura. Publicado em todo o mundo, vendeu milhões de exemplares e segue vital e relevante até — e principalmente — hoje.

Nesta fábula sobre uma rebelião de animais cansados de serem explorados por seus donos humanos, George Orwell ilustra como uma nova tirania toma o lugar de uma antiga e como o poder corrompe até as causas mais nobres. Depois de se rebelarem na Fazenda do Solar, os animais, liderados por um grupo de porcos, estabelecem um regime igualitário e cooperativo que funciona até alguns bichos começarem a usufruir de mais privilégios do que o estabelecido inicialmente. Com regras que mudam a toda hora, sempre beneficiando quem as cria, a revolução logo se torna uma confusa teia de ordens e tarefas sem sentido, culminando em paranoia, confrontos e dúvidas.

Resenha do clássico de George Orwell, A Revolução dos Bichos, em edição especial pela Editora Intrínseca.
A Revolução dos Bichos: da crítica à ditadura estalinista às dificuldades de lançamento

Mesmo entre aqueles que não leram o clássico A Revolução dos Bichos de George Orwell, é bem provável que já tenha, ao menos, ouvido falar. O livro do autor chegou ao domínio público no 1º de janeiro desse ano e é fato que muitas edições estão sendo lançadas aqui no Brasil. Mas que fique claro que o fato não é uma reclamação.

Longe disso, inclusive, a obra de George Orwell, publicada pela primeira vez 1945 consegue (muito infelizmente) se manter atual até os dias de hoje. O que é um mérito de criação para o autor é, ao mesmo tempo, a comprovação de que o homem é o lobo do homem, como diria Hobbes. Ou, trocando em miúdos, os ciclos da humanidade não cessam, podem ganhar novas roupagens, se abastecer de novos nomes e representantes, mas a tendência à opressão de uns sobre os outros, essa é certeira: continua a existir desde que o mundo o mundo; ou melhor, desde que o homem é homem.

Resenha do clássico de George Orwell, A Revolução dos Bichos, em edição especial pela Editora Intrínseca.
“O que essas pessoas não conseguem enxergar é que se você incentivar o uso de métodos totalitários, pode chegar o momento em que eles serão usados contra você.” Prefácio de George Orwell

George Orwell escreveu A Revolução dos Bichos como uma crítica ao regime totalitário russa (ditadura estalinista) que vinha ganhando força e colocado sob panos quentes pela própria Inglaterra. Isso inclusive gerou dificuldades para que o livro fosse publicado, o que não impediu que a obra finalmente viesse a público e ganhasse o mundo. Ainda bem.

Um dos pontos mais interessantes que Orwell trouxe em A Revolução dos Bichos, para além da sua temática, é a narrativa através de uma fábula (histórias em que animais apresentam características humanas), utilizando também uma construção simples, para que a obra pudesse ser facilmente traduzida para outros idiomas.

“O resultado de pregar doutrinas totalitárias é o enfraquecimento do instinto que permite aos povos livres diferenciarem o que é perigoso do que não é.”

A edição de A Revolução dos Bichos que li e que está nas fotos aqui do post é da Editora Intrínseca, que trouxe uma versão com capa dura e sobrecapa, além dos materiais extras que trazem um ótimo norte temporal e crítico acerca da leitura. São eles o Prefácio e o Prefácio à edição ucraniana, ambas escritas por Orwell. Além disso, conta com dois Posfácios, um do tradutor da obra, André Czarnobai, adentrando os pormenores da tradução; e um do crítico literário José Castello, que aprofunda na vida de George Orwell, trazendo informações relevantes para a compreensão de quem ele foi e de como a história exprimia seus ideais.

Aliás, o livro, que conta com dois cartões postais ilustrados (exclusivo pela Amazon), tem ilustrações de Ralph Steadman, trazendo consigo um efeito satírico e mordaz. É um complemento perfeito para a obra de Orwell e um deleite para o leitor.

Resenha do clássico de George Orwell, A Revolução dos Bichos, em edição especial pela Editora Intrínseca.
“A tirania te novas faces, macabras e assustadoras. O romance de George Orwell continua a ser um instrumento vigoroso para desmascará-las.” Posfácio – Máquina de Despir Tiranias, por José Castello
A Revolução dos Bichos: a história da Fazenda Animal

Um dia qualquer, o velho Major, um premiado porco branco da Fazenda do Solar, tem um sonho. Nesse sonho ele vê dias melhores, dias em que os animais da Inglaterra não terão mais que servir aos humanos, não terão mais que sustentá-los e viver sob condições tão limitantes e degradantes. Ele sabe que talvez esse dia demore a chegar, mas ao fazer um discurso para os demais animais da Fazenda, ele os contagia com sua certeza.

Um dia, os animais serão donos de seu próprio destino, sem rações limitadas, sem cabresto, com pastos verdejantes para desfrutar a vida. Assim surge o Animalismo que, resumidamente, lembra que todos os animais são iguais.

Resenha do clássico de George Orwell, A Revolução dos Bichos, em edição especial pela Editora Intrínseca.
“Quatro patas bom, duas patas ruim.’ Essa frase, disse ele, encerrava em si o princípio fundamental do Animalismo. Qualquer um que a compreendesse em sua totalidade estaria a salvo da influência humana.”
Resenha do clássico de George Orwell, A Revolução dos Bichos, em edição especial pela Editora Intrínseca.

Um dia, mais próximo do que o velho Major jamais imaginou, o sonho chega. Os animais, cansados de estarem sob o julgo do Sr. Jones, reivindicam a Fazenda do Solar para si. Agora ela se chama Fazenda Animal. Sob a supervisão dos porcos, os trabalham se iniciam: precisam fazer a colheita, manter tudo funcionando para que nada lhes falte.

Mas o que prometia ser uma nova fase na vida desses animais, com novos direitos como aposentadoria, maiores porções de ração, não precisar abrir mão de suas crias e muito mais, aos poucos começa a parecer algo diferente do planejado. Não se pode negar que melhor que antes, ainda que eles comam menos e trabalhem mais. Mas não estão sob o comando de nenhum humano e é isso que importa. Afinal, eles são animais livres.

“A verdadeira felicidade, dizia ele, estava em trabalhar duro e levar uma vida frugal.”
A Revolução dos Bichos: a instalação de um regime totalitário

A genialidade da obra de George Orwell é trazer, com simplicidade, algo que na realidade nem sempre é facilmente detectado. O processo pelo qual os animais da Fazenda Animal passam, desde o alimento do sonho com o discurso do velho Major, até as últimas páginas da fábula, mostra um retrato fiel não apenas da ditadura estalinista, como o autor pretendia. Mas de um sistema totalitário que vem se reproduzindo ao longo dos anos.

A semente da mudança é plantada, então, com o corte do status quo, ela, de fato, ocorre. Algo como sob nova gerência. A partir daí, são explorados os mais diversos métodos de controle da massa, aqui, dos animais mais e menos evoluídos em termos de inteligência. Desde a distorção, manipulação e controle da informação; criação de um bode expiatório; até a ameaça, medo, violência, privação, sentimento de patriotismo (fazendismo!?) e por aí vai. Infelizmente, métodos que ainda são perceptíveis em governos atuais que, muitas vezes não se dizem ditatoriais.

Resenha do clássico de George Orwell, A Revolução dos Bichos, em edição especial pela Editora Intrínseca.
“Para falar a verdade, Jones e tudo que ele representava haviam praticamente desaparecido de suas memórias. Eles sabiam que a vida hoje em dia era mais dura e mais simples, que passavam fome e frio com frequência, e que, via de regra, se não estavam trabalhando, estavam dormindo. Mas, sem dúvida, no passado era pior. Eles gostavam de pensar assim. Além do mais, naquela época eles eram escravos, agora eram livres e isso fazia toda a diferença, como Goela jamais falhava em ressaltar.”
Resenha do clássico de George Orwell, A Revolução dos Bichos, em edição especial pela Editora Intrínseca.

Talvez olhando assim não pareçam muitas coisas que vivemos nos dias atuais e vale destacar que é exatamente aí que mora o perigo, quando somos incapazes de percebê-los. Talvez alguns métodos tenham sido reajustados, mas basta pensar em um governo que semeia fake news, que é contra vacinas, que é negacionista em relação à gravidade da pandemia, que profere discursos preconceituosos e tantos outros, que realiza atos cada vez mais privativos à liberdade de imprensa e tantas e tantas outras coisas.

Já vivemos nossa revolução dos bichos, sob a alcunha de uma “revolução” que nos salvaria de algo que a memória do povo muitas vezes sequer se lembra bem. Aliás, o livro retrata o quanto a memória da sociedade é curta e não retém as informações. O que vale é o agora não é mesmo? Como se as aulas de História já não tivessem nos ensinado o suficiente. A questão toda é: seremos como os animais da Fazenda Animal?

“Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que outros.”
Resenha do clássico de George Orwell, A Revolução dos Bichos, em edição especial pela Editora Intrínseca.
Aleatoriedades

A edição de A Revolução dos Bichos, que está impecável, foi recebido em parceria com a Editora Intrínseca.

Por fim, para quem gosta de clássicos atuais e quer ler mais, recomendo conferir Fahrenheit 451 de Ray Bradburry e Kurt Vonnegut: Matadouro Cinco; Café da Manhã dos Campeões e Piano Mecânico.

Que a Força esteja com vocês! Quatro patas bom, duas patas ruim!

xoxo

Retipatia
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  • Mayla Malho

    Eu fico impressionada como algumas obras permanecem atuais ao longo do tempo, e fico também assustada com isso. Parece que a história se repete, só mudam os personagens.
    Ótima resenha, como sempre.

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  • Angela Cunha

    Sabe aqueles dias que você precisa de um motivo para sorrir? Hoje é um deles.
    Suas fotos me encantam e me deu até vontade comer maçã, mesmo não indo com a fuça delas rs
    Acho que Orwell nunca esteve tão em alta como nos últimos tempos e essa profecia do passado sendo vivida hoje em dia, chega a ser assustador!
    Essa edição da Intrínseca está tudo de mais perfeito e preciso muito ler!!!
    Beijo

    Angela Cunha/O Vazio na Flor

    responder