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Não é errado ser feliz ♥ Linda Holmes

Resenha do livro Não é errado ser feliz de Linda Holmes, publicado em 2020 pela Intrínseca.

Talvez pareça uma afirmação óbvia, mas às vezes é importante lembrar que Não é errado ser feliz. E a história de Evvie e Dean é um perfeito lembrete disso. Ainda que, sim, alguém morreu, uma carreira acabou e não foi de um jeito bonito. Pega o chá, se aconchegue e prepare-se para ter o coração aquecido por essa história!

Não é errado ser feliz (Evvie Drake Starts Over)
Linda Holmes
Tradução Marina Vargas
Intrínseca | 2020 | 302p.
Disponível em Amazon
“Bem-vindos ao clube de comédia mais macabro do Maine. Aí vai uma piadinha sobre como o fantasma do meu marido é meio que um babaca. E sobre como eu sou um monstro.”
Resenha do livro Não é errado ser feliz de Linda Holmes, publicado em 2020 pela Intrínseca.

Sobre Linda Holmes

Linda Holmes é correspondente de cultura pop da NPR e host do podcast Pop Culture Happy Hour. Além disso, é também escritora, palestrante, crítica cultural e ex-advogada, e antes de trabalhar na NPR escreveu para veículos como New York Magazine e TV Guide. Em seu tempo livre, assiste a muitas comédias românticas, assa pães, vê os sobrinhos crescerem e recentemente tricotou seu primeiro gorro.

Resenha do livro Não é errado ser feliz de Linda Holmes, publicado em 2020 pela Intrínseca.

Sinopse de Não é errado ser feliz

Em uma cidadezinha costeira do estado americano do Maine, Evvie Drake raramente sai de sua casa enorme e vazia, mesmo um ano após a morte do marido. Todos na cidade, inclusive Andy, seu melhor amigo, acreditam que ela fica trancada ali porque ainda está em processo de luto ― e Evvie certamente não faz nada para mudar essa impressão. Já em Nova York, Dean, ex-arremessador profissional e amigo de infância de Andy, vive o pior pesadelo de um atleta em sua posição: não consegue mais arremessar e, o pior de tudo, não faz ideia do motivo. Enquanto a imprensa trata de cobrir seu fracasso com uma insistência voraz, o convite de Andy para que passe um tempo no Maine parece a oportunidade perfeita para recomeçar.

Quando Dean se muda para o apartamento anexo à casa de Evvie, os dois fazem um acordo: ele não fará perguntas sobre o ex-marido dela, e ela não vai perguntar sobre a carreira dele no beisebol. Mas na vida, como no esporte, tudo pode mudar, até o último segundo. E assim tem início uma inesperada amizade… com potencial de se tornar algo mais.

Não é errado ser feliz

Já faz um ano que o marido de Eveleth Drake faleceu num acidente e ela continua reclusa em sua casa, isto é, salvo as saídas religiosas aos sábados para o café da manhã na lanchonete com seu melhor amigo Andy. Mas isso é o que se espera dela numa cidadezinha do Maine e em que seu marido é uma lenda para as pessoas: O Médico bom samaritano. Ou talvez seja mais como uma assombração, ao menos para Evvie.

“- Você não é um fiasco – disse Andy, colocando a mão no ombro de Dean. – Você é um caso perdido. É bem diferente.”
“Lembrar a si mesma que coisas como aquela haviam acontecido – que ele podia ser doce, engraçado e dedicado a ela de uma maneira que fazia com que se sentisse quase extasiada – foi o que a manteve em casa, casada com ele. Essas eram as amarras. E quanto mais raros eram esses momentos e quanto mais infeliz ela ficava, com mais frequência vasculhava todas as evidências de todos os dias em que tinha sido feliz.”
Resenha do livro Não é errado ser feliz de Linda Holmes, publicado em 2020 pela Intrínseca.

Evvie vai muito bem se escondendo, obrigada, o chão do anexo que o diga, já que tem servido como cama ultimamente. Mas as cobranças se acumulam e, sem o salário do marido, Tim, o que ela ganha como freelancer não é suficiente para manter a casa. E é exatamente por isso que ela vai aceitar a sugestão de seu amigo Andy e alugar o anexo de sua casa para um desconhecido. Quer dizer, Evvie não o conhece. Mas além de ser amigo de infância de Andy, ele é uma estrela do beisebol. Uma estrela em declínio, é certo, mas ainda assim, uma estrela.

“Além disso, ele era bonito e agradável, desde que você não morasse com ele, e se casou com a namoradinha do ensino médio. Ele simplesmente tinha algo, aquela coisa que faz com que determinados caras meio que passem deslizando suavemente pela vida. Para algumas pessoas que o viram crescer, acho que ele era… um unicórnio.”
“Não havia muito mistério; ele tinha o mesmo corpo de sempre. Os mesmos ligamentos, músculos e articulações. E tinha a mesma mente; não havia esquecido nada do que já sabia. Alguma coisa havia se quebrado, e o que estava quebrado poderia ser consertado. Isso era lógico.”

Tudo que Dean Tenney quer é paz. Aliás, depois de um ano tentando de tudo que é imaginável para recuperar sua habilidade em arremessos, ele não quer ouvir falar beisebol. Tornar-se irreconhecível também seria ótimo. Por isso passar alguns meses no anexo de Evvie parece maravilhoso: cidade pequena, o lugar não é caro e ele poderá pensar num recomeço. Seja como for que se recomeça depois de perder a razão da sua vida.

“… terapia é como escova de dentes. Você não pode usá-la em ninguém além de você mesma.”
“O seu trabalho é esse. Aí um dia você acorda e… aparentemente, está fazendo a mesma coisa. Mas é como se estivesse tentando entortar uma porra de uma colher com o poder da mente. Era como arremessar com o braço de outra pessoa. Era essa a sensação.”
Resenha do livro Não é errado ser feliz de Linda Holmes, publicado em 2020 pela Intrínseca.

Logo que Evvie e Dean percebem que gostam da companhia um do outro e a porta entre a casa e o anexo começa a ficar aberta, eles fazem um acordo: não vão falar sobre as coisas que os incomodam. Ou seja, nada de beisebol ou sobre o marido de Evvie.

“Ser casada com Tim era como… era como remar em um barco, só que por dez anos. Você não está chegando a lugar nenhum e quer parar, mas quanto mais avança, mais pensa: ‘Bem, vou remar só mais cem metros, caso o outro esteja bem ali na frente. Então não terei remado até aqui à toa.'”
“Essa coisa de almas gêmeas platônicas que vocês fazem não é algo muito comum na vida da maioria das pessoas.”

E então, como estamos em uma comédia romântica, claro que essa amizade vai mais do que apenas prometer se tornar um algo a mais. Assim começa a construção da história, a aproximação dos personagens e a descoberta de quem eles realmente são. E você chega a ter certeza de que Evvie e Dean podem muito bem ser seus vizinhos enquanto quer saber como vai a vida deles.

“Eveleth sempre havia odiado a sensação de ruborizar. Vinha junto de um desejo miserável de deixar de ser, por completo, de se transformar em uma névoa que pudesse ser dispersada. Aquele rubor, no entanto, foi como um desabrochar, como se, ao olhar para baixo, ela fosse ver pétalas esvoaçando de seus ombros.”
“Dean arremessava como um grande felino atacando em um documentário sobre a natureza. Ela identificava quando ele estava prestes a arremessar, via quando ele se posicionava, observava as contrações enquanto ele esperava, mas, toda vez que acontecia, a execução era surpreendentemente impiedosa e silenciosa.”

Uma das partes mais legais e bem construídas da história é que tudo acontece ao mesmo tempo. Pode parecer estranho, mas na vida da gente, os acontecimentos vêm e vão em simultâneo. Enquanto a máquina de pinball dos meus sonhos aparece disponível, meu melhor amigo me dispensa porque começou a namorar, sem contar que o cara do meu anexo é muito gato e sarado para passar despercebido.

“Ela ainda não havia recorrido a cremes ‘anti-idade’, mas imaginava que ‘revitalizante’ fosse mais para mais de trinta e menos de quarenta, ‘anti-idade’ para mais de quarenta e menos de setenta, e então, quando se fazia setenta anos, você simplesmente mandava todo mundo se ferrar.”
“Sem saber aonde iam, pareceu terrivelmente difícil escolher. A ideia era conseguir um resultado que só seria possível com um esforço considerável, mas sem aparentar fazer nenhum esforço. Ela não podia dar a impressão de que não estava se esforçando. Tampouco podia dar a impressão de que estava se esforçando.”

Vários são os temas que Linda Holmes explora em Não é errado ser feliz e, cada um dos dois personagens centrais nos leva para sua própria espiral de sentimentos e nos faz pensar em como suas vidas, ainda que tão diferentes, pareçam sincronizadas no luto que, ainda que de formas distintas, ambos carregam.

“Quando começou a chorar, a vantagem foi a mesma de sempre: chorar no chuveiro facilita a logística. O choro demanda providências: faz uma bagunça, incha o rosto, produz uma pilha de lenços que contam como evidência. Mas o choro no chuveiro é o choro do agente secreto, Evvie sempre pensara. Ficava entre você e as paredes de azulejos, e tudo que doía se transformava em água, e a água escoava pelo ralo.”
“Era possível que as coisas melhorassem quando parecia impossível. [..] Era por isso que até pessoas que não davam a mínima para patinação de velocidade conheciam Dan Jansen, que caiu nos Jogos Olímpicos de Inverno em Calgary depois de descobrir que a irmã havia morrido. As pessoas torceram por ele até o cara ganhar uma medalha de ouro anos depois simplesmente porque queriam acreditar que havia esperança.”
Resenha do livro Não é errado ser feliz de Linda Holmes, publicado em 2020 pela Intrínseca.

Enquanto de um lado Dean precisa lidar com a pressão da carreira encerrada de um modo nada elogioso, com xingamentos dos fãs e com as matérias jornalísticas acabando com ele, um sentimento novo surge por Evvie. Ao mesmo tempo, ele precisa aprender o que significa, de fato, seguir em frente. Ou o que significa recomeçar e deixar as coisas partirem, por mais que ele as ame.

“O que Eveleth mais odiava em ficar bêbada, e o que odiava ainda mais naquela noite, eram todas as coisas das quais mal se lembrava, mas sabia que eram verdadeiras.”
“Era como se tivesse se esvaziado de forma tão completa que nada dentro dela pudesse permanecer unido. O que havia restado flutuava no ar como a penugem soprada de um dente-de-leão.”

Acima de tudo, Evvie precisa descobrir como quebrar a carapaça que criou ao seu redor durante os anos do seu relacionamento com Tim. No meio disso, não só precisa lidar com os sentimentos que ela achava que jamais seria capaz de sentir novamente e que Dean é capaz de despertar, mas também com a crise que se instala em sua amizade com Andy.

“Não é drama. Não tenho a energia necessária para contar tudo o que aconteceu comigo nos últimos dois anos em duas horas só porque você acha que parece interessante.”
“Você ficaria espantada com o número de pessoas que já me disseram que tiveram câncer, se divorciaram ou perderam a casa em um incêndio, mas então esqueceram as chaves ou acabou o pó de café ou o cachorro comeu um chinelo e elas desmoronaram. É só a gota d’água.”
Resenha do livro Não é errado ser feliz de Linda Holmes, publicado em 2020 pela Intrínseca.

E, com Evvie, a questão de seu casamento ganha um viés muito bem trabalhado, não só porque, imersa numa cidade pequena, com uma dose considerável de conservadorismo vigente, as aparências são as coisas mais importantes. Mas também porque Evvie é vista apenas como a viúva que um dia foi sortuda demais por ser a escolha de Tim.

“Eu sinto que deveria ser capaz de resolver tudo isso. É o que digo a mim mesma, sabe? Recomponha-se. Você não está morrendo de fome, tem amigos, então simplesmente… dê um jeito na sua vida.”
“Evvie nem sabia a que tristeza ela estava se referindo. Havia tantas coisas tristes. Tudo ali era triste. A tristeza vivia nas paredes como um fantasma, e era hora de livrar dela.”
Resenha do livro Não é errado ser feliz de Linda Holmes, publicado em 2020 pela Intrínseca.

Sem dúvida, preciso acrescentar: obrigada pela terapia, Linda Holmes! Não que a leitura tenha sido uma terapia, ainda que com certeza seja terapêutica, mas obrigada por mostrar a importância da ajuda profissional quando o assunto é saúde mental. Todas as nossas dores são importantes, ainda que existe gente com dores maiores por aí. Que ninguém precisa e deve querer resolver e fazer tudo sozinho, porque não é simplesmente sobre aguentar firme. Às vezes precisamos desmoronar e está tudo bem.

“Dean, as pessoas não gostam de… fragilidade. Ficam inquietas. Com medo quando pensam que as coisas simplesmente acontecem. Acham que sempre há algo que se possa fazer para impedir que os monstros entrem debaixo da cama.”
“Ela diz que, quando alguma coisa acontece, boa ou ruim, há uma pessoa para quem você sempre liga primeiro. E, quando você é a primeira pessoa para quem alguém liga, é difícil se acostumar a não ser mais.”

Não é errado ser feliz é envolvente do início ao fim, traz um clichê ou outro muito bem acompanhado: às vezes de referências de seriados de tevê e, às vezes uma boa taça de vinho. Ou de ambos. E certamente vai fazer você conferir regras de beisebol para entender como diabos funciona aquele jogo. Mas, especialmente, é um abraço caloroso de uma história que vai mostrar que profundidade e leveza podem andar de mãos dadas. Afinal a vida pode ser bem difícil vez por outra, ou até quase sempre, e é bom lembrar que, não importa a época que seja, não é errado ser feliz.

“Na última vez que tentei ser feliz, uma pessoa morreu. Tenho a sensação de que, quando as coisas estão boas demais, algo terrível vai acontecer.”
“A única coisa que podemos fazer é desejar que, no fim das contas, tenhamos o suficiente.”
Resenha do livro Não é errado ser feliz de Linda Holmes, publicado em 2020 pela Intrínseca.

Aleatoriedades

O livro Não é errado ser feliz foi recebido em parceria com a Editora Intrínseca!

Eu li Não é errado ser feliz em abril, mas a resenha acabou aparecendo aqui apenas por agora porque é claro que eu precisava de uns equipamentos de beisebol para o cenário… Só que agora eles estão aqui e acho que devo procurar mais histórias com jogadores de beisebol para aproveitar ao máximo o investimento ahaha!

Por fim, mas não menos importante, esse livro é perfeito para fãs de Beth O’Leary, autora de Teto para Dois e A Troca!

Que a Força esteja com vocês!

xoxo

Retipatia
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  • Luly Lage

    Ai, Re, eu acho que só pelo título esse livro ENTREGA, viu! A gente aqui vivendo o fim do mundo tá sempre nesse linha tênue entre achar tudo horrível e se sentir mal por isso por ter gente pior, as coisas boas parecem erradas e não aguentamos mais as ruins. E aí está um romancim sério e com cara de fofo ao mesmo tempo nas nossas mãos? Ah, não, eu quero! hahahahaha

    Obrigada pelas indicações sempre pertinentes e resenhas trabalhadas!

    responder
  • Angela Cunha

    Hahahahahah eu ri de agora precisar de uns jogadores de baisebol. Divide?? rs
    Eu sei que preciso ler esse livro há um tempo, ainda mais com essa resenha tardia. Bom que saiu do hype e isso ajuda mais ainda na reflexão do leitor!
    Vivemos tempos complicados e sei lá, estamos cada vez mais sozinhos, de uma forma ou de outra.
    Ou não rs
    Beijo

    Angela Cunha?O Vazio na Flor

    responder
  • Ray Cunha

    Olá Re,
    Adorei sua resenha! Não conhecia ainda o livro e adorei a capa, o título, e o estilo da história. E como se não fosse o bastante, esse comentário sobre ser para os fãs de Teto para dois me conquistou ainda mais,
    Ah, e adorei a aleatoriedade dos artigos de beisibol. As fotos ficaram lindas!

    Beijo!
    http://www.amorpelaspaginas.com

    responder