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Aprendendo Criatividade com Addie LaRue

sobre fundo de madeira com folhas espalhadas, uma caneca, um diário e um lenço, está a edição em português do livro A Vida Invisível de Addie LaRue, representando a criatividade em Addie LaRue.

Encontrar criatividade no livro A Vida Invisível em Addie LaRue é como respirar, não exige esforço algum. Isso porque a personagem que vem conquistando mais e mais leitores e que vai ganhar adaptação para os cinemas é dona de um verdadeiro espírito criativo.

Para quem ainda não leu essa história, vou deixar aqui as informações sobre o livro e também a sinopse:

A Vida Invisível de Addie LaRue

 

Título original:
The Invisible Life of Addie LaRue

Autoria:
V. E. Schawab

Autoria:
Tradução Flávia de Lavor

ISBN:
978-6555872552

Editora:
Galera Record

Ano de lançamento:
2021

Gênero:
Fantasia

Páginas (nº):
504
França: 1714. Addie LaRue não queria pertercer a ninguém ou a lugar nenhum. Em um momento de desespero, a jovem faz um pacto: a vida eterna, sob a condição de ser esquecida por quem a conhecer. Um piscar de olhos, e, como um sopro, Addie se vai. Uma virada de costas, e sua existência se dissipa na memória de todos. Após tanto tempo vivendo uma existência deslumbrante, aproveitando a vida de todas as formas, fazendo uso de tantos artifícios quanto fosse possível e viajando pelo tempo e espaço, através dos séculos e continentes, da história e da arte, Addie entende seus limites e descobre ― apesar de fadada ao esquecimento ― até onde é capaz de ir para deixar sua marca no mundo. Trezentos anos depois, em uma livraria, um acontecimento inesperado: Addie LaRue esbarra com um rapaz. Ele enuncia cinco palavras. Cinco palavras capazes de colocar a vida que conhecia abaixo: Eu me lembro de você. Uma jornada inspirada no mito faustiano sobre busca e perda, eternidade e finitude e, acima de tudo, uma questão: até onde se vai para alcançar a liberdade? Best-seller do The New York Times e recomendado pelo Entertainment Weekly, A vida invisível de Addie LaRue é um livro inesquecível e que colocou V.E. Schwab entre as principais autoras de fantasia da atualidade.

A partir da sinopse ou mesmo para quem já leu o livro, temos o ponto de partida perfeito. Ah e não precisa se preocupar, farei referências ao longo do texto, mas não trarei spoilers sobre o final e o plot para além do que já foi narrado na sinopse.

Addie LaRue e o Mito Faustiano

Antes da gente falar da própria Addie, é importante destacar duas coisas sobre essa história. A primeira delas é que na própria sinopse você encontra uma referência ao mito faustiano, ao afirmar que A Vida Invisível de Addie LaRue é uma versão moderna do mito.

Mas, afinal, o que é o mito faustiano?

Fausto é um personagem de uma lenda alemã que faz referência ao Dr. Johannes George Faust, que estima-se ter vivido de 1480 a 1540. Isso porque são datas apenas estimadas, já que vários locais divergem sobre a exatidão do ano de nascimento do Dr. Fausto.

De acordo com a lenda, Dr. Fausto ficou conhecido por ser médico, mago e alquimista, já que nessa época, magia não era apenas acreditada, como chegava a ser uma matéria da grade curricular das universidades.

Alguns relatos incluem nessa lista não apenas essas especialidades, como também as ocupações de vidente e astrólogo. Um homem total multitarefas, eu sei, é realmente impressionante!

Seja como for, multitarefas ou não, Dr. Fausto colecionava outra coisa além de funções, que eram as acusações de charlatanismo. Por causa disso, ele chegou a ser banido de alguns lugares e recebeu acusações de abusos de alunos para os quais ele lecionava.

E fica ainda pior, a medida que uma história era revelada, muitas outras surgiam e, a medida que o tempo passava, ficou cada vez mais difícil discernir o que era um acontecimento ou uma acusação real ao Dr. Fausto e o que era crença popular. A história do Dr. Fausto então começou a ser mesclada com ditos, lendas e mitos populares que já existiam à época e até mesmo com passagens bíblicas!

O que o Dr. Fausto tem a ver com a história da Addie LaRue?

A questão é que a crença popular afirmava que o Dr. Fausto fez um pacto com o demônio Mefistófeles. O pacto serviria para que ele tivesse uma vida longa, sem envelhecer para que pudesse, assim, ser um homem capaz de superar os conhecimento de sua época.

Chegaram até a afirmar que a morte dele tinha caráter sobrenatural, e que foi obra do próprio Mefistófeles. Aqui minha brilhante imaginação questiona: e se Fausto ainda caminha entre nós?

As muitas versões do Mito Faustiano

Em resumo, esse é o que compreende o mito Faustiano que, com o tempo, foi sendo transformado e ganhou inúmeras versões literárias, assim como adaptações para o teatro e cinema.

A primeira versão que se tem notícia é do autor Johann Spiess, e foi publicada em 1587. Mas, sem dúvida, a versão mais famosa viria em 1775, com o poema que foi considerado a obra-prima do escritor alemão Goethe, sob o título Fausto, um fragmento. Publicado em duas partes, a segunda ocorreu apenas postumamente.

Na obra de Goethe, Fausto quer se livrar das limitações humanas e quer ter conhecimento sobre absolutamente tudo, e por isso, faz o pacto com Mefistófoles.

Os pactos de Dr. Fausto e de Addie LaRue

Nesse ponto já é possível notar a criatividade incrível de V. E. Schawab ao abordar o tema em sua fantasia contemporânea. Afinal, o que a história demonstra é uma personagem que está insatisfeita com seu lugar comum e que, por isso, se viu levada à firmar um pacto para conseguir algo que é humanamente impossível.

Addie LaRue quer a possibilidade de viver tudo que deseja, e sua vida limitada, tanto em termos de idade, quanto em termos de lugar da mulher no mundo da época (França, 1714), representam barreiras intransponíveis.

Sobretudo, é esse desejo do que não se pode alcançar no seu lugar de mundo, que a leva a fazer o pacto. E, é a partir dele que a problemática da história se desdobra: Addie recebe a imortalidade, mas em contrapartida, ninguém é capaz de se lembrar dela. Está fadada ao esquecimento perpétuo.

Agora, vamos ao que mais interessa:

Onde entra a criatividade em A Vida Invisível de Addie LaRue?

O principal ponto que será trabalhado na história de Addie é sua busca em deixar sua marca no mundo. O que dificulta sua tarefa é o fato de que ninguém é capaz de se lembrar dela e, ao mesmo tempo, é impossível que ela deixe marcas no mundo, como uma fotografia, revelar seu verdadeiro nome ou deixar pegadas.

É exatamente nesse ponto que a criatividade da Addie se faz presente e com muito louvor. Nem sempre em avaliações literárias ouvimos o debate do quanto os personagens são criativos ou nos mostram caminhos criativos durante sua jornada.

Mas estou aqui para dizer que sim, Addie LaRue é incrivelmente criativa. E podemos nos inspirar não apenas em sua trajetória, mas na sua capacidade em encontrar caminhos e saídas criativas para seus problemas, para nos inspirar a resolver os nossos próprios.

A medida que lemos o livro, que se alterna entre presente (2014) e passado (desde quando Addie foi amaldiçoada), surgem diversas provas de como ela conseguiu conhecer sua maldição a fundo e, também, de contorná-la.

Ou seja, como ela conseguiu desdobrar as regras para trabalharem ao seu favor e, ao mesmo tempo, encontrou saídas alternativas para deixar sua marca no mundo. Como ela

Inteligência Criativa em Addie LaRue

Aqui eu pergunto para você: o que são essas saídas alternativas senão uma grande prova da inteligência criativa da Addie?

Para quem não sabe, estar em situações adversas pode ser o ponto de partida para ser criativo e nos tornarmos mais criativos. Porém, é claro que ninguém vai ter 300 anos para praticar e acertar sua vida.

Mas isso também não significa que não podemos usar essas situações em nosso favor. É isso que a Addie LaRue faz, ela consegue acessar em si mesmo e no mundo ao seu redor, uma coisa que se relaciona de forma muito íntima à criatividade: inspiração.

A inspiração é um processo, de certa forma, prévio à criatividade. A inspiração é a luz que surge no mundo das ideias e que acende aquela lâmpada que, às vezes, a gente nem sabe ao certo de onde veio.

Através de sua criatividade, Addie LaRue se transforma nessa luz, numa inspiração para impulsioar as pessoas a deixarem suas marcas por ela, sem perceberem. Você tem noção do quão engenhoso, incrível e inteligente isso é?

Isso é muito maravilhoso, é pensar em ser a conexão das pessoas, ser a inspiração, quem guia. É criar através do outro. Addie se transforma em inspiração!

Além disso, existe outro alimento criativo que faz muita diferença na jornada da personagem, que são as suas fontes criativas.

Fontes de Criatividade em Addie LaRue

Imagine você, mulher, sem ninguém que se lembre da sua existência, sem família, sem teto, sem dinheiro, nem trabalho, e que seja impossível das pessoas se lembrarem de você. Se a ideia já é difícil de imaginar em pleno 2022, imagina para a Addie sozinha na França do início do século XVIII?

É claro que Addie precisou dar um jeito várias e várias vezes, e vamos conhecer muitas partes da jornada dela no livro, justamente buscando essa forma de fazer com que sua existência invisível funcionasse. Muitas dessas partes são tristes e refletem realidades duras e cruéis que muitas mulheres precisaram e ainda precisam se submeter. Não estou romantizando nenhuma delas.

Ao longo do tempo, nesse longo hiato de 300 anos dos quais acompanhamos alguns trechos, Addie viajou por muitos lugares do mundo. Conheceu outros lugares, culturas e povos, viu guerras começarem e terminarem e viu a tecnologia se transformar.

Assim, seria fácil simplesmente dizer que viajar e conhecer novos lugares é uma forma maravilhosa de fonte criativa. De se inspirar e alimentar sua criatividade. De fato, viajar tem esse poder, mas a ideia vai além disso. Segue comigo que já explico.

Paul Erdõs e as Fontes Criativas

Paul Erdõs foi um matemático húngaro, considerado um gênio e que publicou mais de 1.400 artigos nos mais diversos temas e seguimentos de estudo. É um número muito elevado e nenhum matemático até hoje superou essa façanha.

E você deve estar se perguntando porque Paul Erdõs entrou aqui na história da Addie, mas já te esclareço a relação.

Um belo dia, Erdõs estava na sala dos professores da universidade em que lecionava e viu um problema matemático no quadro. Por não ser uma área que ele dominava, perguntou o que era aos colegas e, quando lhe explicaram, ele resolveu o problema em alguns minutos.

A questão é que os professores vinham trabalhando há meses naquele problema e a solução que finalmente chegaram tinha cerca de 30 páginas. A de Erdõs tinha duas linhas.

A pergunta que não quer calar é: como ele conseguiu essa proeza?

Paul Erdõs era conhecido por não ter endereço fixo e se hospedava sempre na casa de outros matemáticos e cientistas, para trabalhar com eles.

Deixando de lado suas excentricidades, que o tornavam um hóspede não muito querido, sua capacidade em ser tão produtivo se relaciona ao fato dele se mudar constantemente. Não apenas em questão física, de uma casa e país a outro, como também em relação aos temas dos seus trabalhos.

Conhecido por resolver problemas matemáticos extremamente difíceis de maneira simples e elegante, ele não focava apenas na matemática. Paul se envolvia em trabalhos das mais diversas áreas e chegou a ter vários trabalhos sendo publicados como coautor mesmo depois de sua morte.

Isso porque Erdõs buscava suas inspirações em lugares incomuns, em todos os campos e não apenas no seu próprio. Não raro, a solução para um novo problema acabava sendo encontrada em outro estudo, de outro lugar, com outra temática.

E o que Paul Erdõs tem a ver com a Addie LaRue?

Assim como Paul, Addie foi capaz de fazer várias associações diferentes ao longo da sua jornada. Ela se alimentou de música, pintura, esculturas, livros, línguas, paisagens, guerras, sofrimento, alegria, paixão, dor, vergonha e muito mais.

Porque essa parte é o essencial, é muito fácil buscar inspiração em nossos lugares de conforto e eles realmente podem ser ótimos combustíveis. Mas encontrá-la fora da nossa zona de conforto é o verdadeiro desafio.

Diante de tantas adversidades, Addie LaRue precisou da criatividade para se reinventar e adaptar um número incontável de vezes.

Para se tornar alguém que é uma inspiração para os outros, ou seja, se tornar a fonte criativa dos outros, Addie descobriu que plantar a semente de uma ideia é uma coisa poderosa. Mas, para isso, precisou antes descobrir como conectar seus aprendizados.

Afinal, ninguém é inspiração pura e simplesmente por existir, ser inspiração é uma construção.

Finalmente, a Addie LaRue nos ensina dois pontos-chave em sua história: em primeiro lugar, como alimentar a nossa criatividade a partir de nossas fontes criativas. Segundo, como ser inspiração para o outro, a partir da construção dela mesma.

O que é uma pessoa, se não as marcas que deixa para trás?

pág. 13

Por aí, você já viu a Addie LaRue sob esse olhar criativo? E se ainda não conhece a personagem, se interessou?

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