A Troca vai lhe fazer uma pergunta importante, você já imaginou trocar de casa com alguém? Ou melhor ainda, já imaginou trocar de vida com alguém? E não estamos falando de qualquer devaneio de viver por um dia na pele de algum ídolo. O que A Troca de Beth O’Leary é bem mais interessante: são avó e neta que trocam de vida por dois meses, numa história que vai aquecer seu coração e lembrar que a vida foi feita para isso mesmo, viver!
A Troca (The Switch)
Beth O’Leary
Tradução Ana Rodrigues
Intrínsecos | Intrínseca | 2020 | 352p.
Disponível em: Clube Intrínsecos | Amazon
“Porque essa troca é uma ideia maluca, é claro. Insana. Mas também é genial, é o tipo de ideia que eu queria ter tido em outra época, antes de ficar tão acostumada com a minha cadeira favorita nas reuniões dos Patrulheiros do Bairro, com a minha poltrona verde na sala e com o conforto de ver as mesmas pessoas dia após dia.”
Sobre Beth O’Leary
Beth O’Leary estudou inglês na universidade antes de começar a trabalhar com publicações infantis. Ela vive o mais perto possível do campo, sem se afastar muito de Londres, e escreveu Teto para dois durante as viagens de trem para o trabalho. Ela agora se dedica em tempo integral à escrita e, se não estiver trabalhando, você a encontrará em algum lugar com um livro, uma xícara de chá e vários casaquinhos de lã (qualquer que seja o tempo).
Sinopse de A Troca
Leena Cotton tem 29 anos e sente que já não é mais a mesma. Eileen Cotton tem 79 e está em busca de um novo amor. Tudo de que neta e avó precisam no momento é pôr em prática uma mudança radical. Então, para colocar suas respectivas vidas de volta nos trilhos, as duas têm uma ideia inusitada: trocar de lugar uma com a outra.
Leena sabe que precisa descansar, mas imagina que a parte mais difícil será se adaptar à calmaria da cidadezinha onde a avó mora. Cadastrada em um site de relacionamentos, Eileen por sua vez embarca na aventura com a qual sonha desde a juventude. Dividindo o apartamento com dois amigos da neta, ela logo percebe que na cidade grande suas ideias mirabolantes não são tão complicadas assim.
Ao trocar não só de casas, mas de celulares e computadores, de amigos e rotinas, Leena e Eileen vão descobrir muito mais sobre si mesmas do que imaginam. E se tudo der certo, talvez destrocar não seja a melhor solução.
A Troca
Em A Troca você vai conhecer as Eileen’s mais legais do mundo: Eileen, a avó, que está lá na casa dos oitenta, que quer muito passar um tempo em Londres, viver uma aventura, mas que também não quer deixar a família e suas responsabilidades de lado.
De outro lado, a Eilleen, ou Leena, como todos a conhecem, a neta, a que trabalha demais, que tem o namorado perfeito e que, bem, trabalha demais. Ela não quer assumir, mas está prestes a entrar em colapso. Porque, como eu disse, ela trabalha demais e, segundo, porque ela vem carregando um fardo pesado demais para dar conta sozinha.
E é por isso que avó e neta, as duas Eileen’s, vão troca de lugar! Eilleen vai passar dois meses no apartamento de Londres de Leena, procurando, quem sabe, um amor passageiro e a chance de viver algo novo ou um sonho que ela deixou adormecido enquanto a vida acontecia. Enquanto isso, Leena vai para a casa de sua avó, na pacata cidade de Hamleigh, no interior inglês.
“Encare como um período sabático. Dois meses de férias. Você não tem permissão para voltar ao escritório da Selmount até estar descansada e relaxada, até não ter mais a aparência de alguém que passou um ano em uma zona de guerra.”
“Sem esperança. É uma maravilha. Sabemos exatamente onde estamos… sozinhos como nascemos, e como morreremos, e coisa e tal… Enquanto ter encontros, nossa, ter encontros enche a gente de esperança. Toda vez que você acha que encontrou um homem bom, gentil… Logo aparece os problemas com a mãe, os egos frágeis e os fetiches estranhos com queijo.”
“Essa parte do ‘se descobrir’ não é exatamente meu forte. Estou apenas montando a estratégia aqui… Você fica responsável pelos resultados.”
“Encare como um período sabático. Dois meses de férias. Você não tem permissão para voltar ao escritório da Selmount até estar descansada e relaxada, até não ter mais a aparência de alguém que passou um ano em uma zona de guerra.”
“Sem esperança. É uma maravilha. Sabemos exatamente onde estamos… sozinhos como nascemos, e como morreremos, e coisa e tal… Enquanto ter encontros, nossa, ter encontros enche a gente de esperança. Toda vez que você acha que encontrou um homem bom, gentil… Logo aparece os problemas com a mãe, os egos frágeis e os fetiches estranhos com queijo.”
“Essa parte do ‘se descobrir’ não é exatamente meu forte. Estou apenas montando a estratégia aqui… Você fica responsável pelos resultados.”
“Já se passaram quatro gloriosos meses desde que meu marido se mandou com nossa professora de dança, e, até este exato momento, não senti falta dele nem uma vez.
Observo o pote de vidro em cima do aparador com os olhos semicerrados. Meu pulso ainda dói depois de ter passado quinze minutos tentando abrir a tampa, mas me recuso a desistir. Algumas mulheres moram sozinhas a vida toda e elas comem coisas que vêm em potes de vidro.”
A melhor parte é que essa troca um tanto quanto inusitada de vida vai trazer temas tão atuais e, ao mesmo tempo, antigos da humanidade que, unidos à prosa agradável de Beth O’Leary, vai te transportar para Londres, dar um abraço apertado e dizer, vai ficar tudo bem.
Não que as personagens saibam disso de cara, ninguém sabe, nem o leitor, é certo. Intercalando capítulos de Eileen e Leena, nós somos apresentados às duas personagens, vimos cada uma enfrentar seus próprios desafios e precisar se reinventar. Através de suas protagonistas e os personagens ao seu redor, A Troca passa por muitos temas como o luto, carreira, família, envelhecer, ser um idoso ativo, senso de comunidade e pertencimento, lar, amizade, companheirismo e acho que dá para encaixar mais alguns itens nessa lista. Mas, indubitavelmente, A Troca é sobre o amor.
“Tenho que encarar a verdade: as opções são muito escassas aqui em Hamleigh-in-Harksdale, com uma população de cento e sessenta e oito pessoas. Se quero encontrar o amor nesse ponto da vida, preciso ampliar meus horizontes.”
“Não que eu esteja com vergonha por estar procurando pelo amor. Mas pessoas jovens costumam achar engraçado que os velhos queiram se apaixonar.”
“Saiba apenas que sempre que deixar uma oportunidade escapar; sempre que duvidar de sua capacidade, sempre que pensar em desistir de qualquer coisa que queira… vou estar cutucando você do além.”
“Vovó faz chocolate quente do jeito certo: no fogão, com creme e chocolate de verdade. É o mais puro exagero servido em uma xícara.”
“Regra número um de namoros. Você não pode mudar um homem. Mesmo se ele tiver todos os dentes.”
“De repente me dou conta de que vejo a minha avó como uma mulher invencível, mas isso é absurdo – ninguém passaria por tudo que ela passou sem sequelas.”
“Essa é a coisa certa a fazer. Estamos encalhadas, nós da família Cotton. Se queremos chegar a algum lugar, precisamos dar uma sacudida nas coisas.”
Amor pode ser a palavra-chave para definir as Eileens e suas histórias em A Troca: aqui, ele se estende das diversas formas que existem, tem amor maternal, amor de avó, amor de neta, amor de família, de filha e irmã. E tem também amor antigo, amor novo, amor redescoberto. Tem amor próprio, tem amor de amiga, tem amor de irmandade, amor de paixão, amor arrebatador, amor casual e amor de vida.
Com Eileen, temos a questão importante sobre a vida ativa na velhice, tanto em termos sociais, quanto em relacionamentos amorosos e sexuais. Eileen vem nos mostrar que não existe tempo para amar, desejar e fazer o que bem entender. Para realizar seus sonhos. Mais que uma mulher de fibra, que mostra ser amparo para todos, seja onde estiver, ela é inspiração. E, graças à ela, essa leitura me aqueceu muito. Confesso que, por vezes, eu queria pular os capítulos da Leena só para continuar com a Eileen.
“Detesto essa expressão, perdeu a Carla. Como se não tivéssemos cuidado dela direito e deixado que partisse. Não temos boas expressões para falar sobre a morte… são todas pequenas demais.”
“Hank pode estar novamente sob controle, mas acho que eu não estou. O que aconteceu comigo naquele campo, chorando daquele jeito, gritando para o vento, correndo em círculos? Bee tem razão: as coisas não estão como deveriam. Essa simplesmente não sou eu.”
“Acho que esse é o problema com relacionamentos pela internet. As pessoas não conseguem ouvir a risada ou ver o modo como seu olhar fica bobo ao falar sobre alguém que ama.”
“Sabe do que você precisa, meu bem? Precisa de uma lista. Vamos pegar papel e caneta e organizar tudo o que precisa ser feito antes de o bebê chegar, então podemos elaborar um plano e depois um plano de emergência.”
“Quando nos conhecemos, ela me disse que não sabia o que significava solidão até o marido falecer quatro anos atrás. Agora, passa dias, às vezes semanas, sem nem sequer trocar um olhar com outra alma. Não há nada parecido com isso, ela diz. É uma espécie de loucura.”
“Esperança. Uma oportunidade. Durante toda a minha vida, você sempre disse As mulheres Cotton não desistem, então, quando esse lema era mais importante do que qualquer coisa no mundo, você deixou a Carla fazer exatamente isso.”
“Estou na minha quarta fornada de brownies. Descobri quatro maneiras inteiramente diferentes de fazer brownies ruins: queimá-los, deixá-los crus, esquecer de forrar o tabuleiro com papel-manteiga e esquecer de colocar farinha na receita (um erro grave).”
Já Leena, apesar de parte do seu drama pessoal estar nas questões do luto que a história narra, a palavra amor também se faz presente aqui. Afinal, a dor do luto só existe porque também existe amor. Esse é o principal sentimento que move a história de Leena e, em consequência, também traz seus efeitos na vida de Eileen. Mas a forma como o luto foi trabalhada, não apenas foi sincera e real, como também mostrou que cada indivíduo lida com ele à sua própria maneira e é necessário ouvir o outro tanto quanto a nós mesmos.
Apesar das cenas românticas que acontecem com a personagem de Leena terem sido um tanto quanto clichês à um ponto exacerbado (o que me fez revirar os olhos muitas vezes e acabou pesando a leitura, em dados momentos), e que eu também guarde algumas ressalvas sobre o desdobramento de alguns dos acontecimentos em relação ao relacionamento de Leena com Ethan, gosto de como a personagem tem uma trajetória no livro que do tipo que faz a gente pensar que sim, dá pra gente perseguir nossos sonhos (sem se exaurir no caminho).
“… na maior parte do tempo, estou me preocupando em vez de pensando. Espero que Samantha não seja como eu, pelo bem dela. Meu cérebro não sabe quando calar a boca. Aposto que sou capaz de pensar em vinte ‘piores cenários’ antes que você consiga pensar em um.”
“Quando as coisas acontecem, a gente lida com elas. E normalmente acontece alguma coisa em que a gente não pensou, então porque se preocupar?”
“Quando sentimos a falta de alguém, é fácil esquecer que esse alguém é mais do que só a pessoa de que nos lembramos: que tem facetas que só mostra quando há outras pessoas por perto.”
“De qualquer forma, essa é a tradicional solução britânica paraum desentendimento familiar: se agirmos como se não tivesse acontecido, depois de um tempo o ato de fingir que não se está bravo se torna verdade.”
“Às vezes, é mais fácil ficar com raiva do que ficar triste.”
“Essa é a pior parte de uma tragédia familiar, eu acho. Nossa melhor rede de apoio some de uma hora para outra.”
“Talvez consertar uma à outra seja a linguagem do amor da família Cotton.”
A Troca: as origens dos personagens que trocam de vida
Uma das coisas mais legais que A Troca traz até mesmo em seu nome é essa troca de vida que tira as personagens da sua zona de conforto. A troca não é uma questão apenas de localidade, é se aventurar a se redescobrir e, no processo, também compreender o outro. Tanto é que, durante a troca, as Eileens acabam não se falando tanto, mas ao mesmo tempo, criam um entendimento maior sobre quem são e quem é a outra Eileen.
Essa fórmula pode soar um tanto quanto tresloucada à primeira vista, mas viver a vida de outra pessoa já estava nas páginas de O Príncipe e o Pobre de Mark Twain, que foi publicado originalmente em 1881 e que inspirou várias e várias adaptações e versões reimaginadas desde então.
“…depois que a gente aceita a dor, fica um pouco mais fácil suportá-la.”
“Essas pessoas. Há tanta força nelas, tanto amor… Quando cheguei aqui, julguei que levavam vidas menores, insignificantes, mas estava errada. São algumas das pessoas mais incríveis que conheci.”
“Quero passar o tempo que ainda tenho com alguém que entenda as coisas que importam para mim, que tenha uma vida com partes mais problemáticas, como a minha.”
“Eu não teria conseguido me descobrir se não tivesse me tornado outra pessoa.”
“Se está abraçando alguém apertado o suficiente, você pode ser ao mesmo tempo quem oferece o ombro e quem chora.”
“O que você acha que as pessoas fazem quando perdem alguém? Simplesmente… seguem em frente como se nada tivesse acontecido? Você estava se recuperando. Sempre estará. E não tem problema. É apenas parte do que faz de você você.”
“Quando as pessoas falam sobre perda, sempre dizem que você nunca mais será o mesmo, que aquilo vai mudar você, que vai deixar um buraco na sua vida. E sem dúvida isso é verdade. Mas, quando perdemos alguém que amamos, não perdemos tudo o que essa pessoa nos deu. Ela deixa alguma coisa com a gente.”
Em algumas versões, ainda seguimos a ideia de troca de vida entre realeza e plebeu, mas em algumas ocasiões, a troca toma proporções distintas, sendo mais no estilo de A Troca, da Beth O’Leary e podendo ser até um tanto quanto mais literal, com trocas de corpos. Seja como for, as histórias acabam girando em polos em comum: o amor. Seja o próprio, aquele que envolve a forma como cada um se vê, mas também a relação com o outro e o mundo ao seu redor.
Uma leitura para se fazer acompanhada de um bom chocolate quente (tem receita da Eilleen no site da Intrínseca), muito recomendada para curar dores de cotovelo, dias ruins e corações partidos. Acredite, é uma receita muito melhor que os brownies que a Leena faz, fica à altura do chocolate quente da Eilleen!
Aleatoriedades
A edição em capa tradicional do livro A Troca foi recebido em parceira com e Editora Intrínseca. A Troca foi publicado primeiro pelo Intrínsecos, o Clube do Livro da Editora Intrínseca, para conhecer o clube, é só clicar aqui!
Um fato super legal é que A Troca será adaptado para os cinemas! Eu já fico imaginando como será esse filme e espero que ele traga os sentimentos tão bons que a leitura é capaz de proporcionar. Se quiser saber mais sobre os livros do Intrínsecos que serão ou já foram adaptados em filmes e séries, é só acessar esse post do blog!
Essa leitura foi feita com o Coletivo da Retipatia, meu clube do livro! Se quiser conhecer, tem o Instagram @coletivodaretipatia e também o projeto de apoio no Catarse.
Seria impossível resenhar A Troca e não deixar como sugestão Teto para Dois, também da Beth O’Leary. E, para quem gosta do estilo de leitura, a outra dica é Não é errado ser feliz, da Linda Holmes.
Que a Força esteja com você!
xoxo
Angela Cunha
Eu amei Teto Para Dois e amei A Troca!Ambos com temas importantes,mas diferentes entre si. Ambos para se levar lições de vida eternamente!
E eu vim, pois sabia que aqui encontraria todas as cores que me movem e que me fazem sorrir.
Pois a troca é isso, você dá alguma coisa e recebe outra de volta. Nem sempre é o que esperamos, mas sim, é sempre o que precisamos!!!!
E eu recebo tanto de ti, que fico envergonhada de não retribuir à altura!
Beijo
Angela Cunha/O Vazio na flor