A autora Oyinkan Braithwaite já aponta no título de sua obra o que está por vir em Minha irmã, a serial killer. O livro, publicado pela Editora Kapulana em 2019, segue num ritmo estilo novela, rápido, conciso. E com uma trama profunda sobre uma serial killer e, bem, a sua irmã.
Minha irmã, a serial killer (My sister, the serial killer)
Oyinkan Braithwaite
Tradução de Carolina Kuhn Facchin
2019 / 184 páginas
Editora Kapulana
Disponível em Amazon
“Ayoola me convoca dizendo: – Korede, eu o matei.
Eu tinha esperado nunca mais ouvir essas palavras.”
Sobre Oyinkan Braithwaite
Oyinkan Braithwaite nasceu na Nigéria, na cidade de Lagos, onde ainda reside. Ela tem graduação em Escrita Criativa e em Direito, pela Kingston University, de Londres. Depois de se formar, trabalhou como assistente editorial na “Kachifo”, uma editora nigeriana, e como gerente de produção na “Ajapaworld”, uma empresa de educação e entretenimento infantil. Atualmente, Oyinkan atua como escritora e editora freelancer.
Sinopse de Minha irmã, a serial killer
Em Minha irmã, a serial killer, a nigeriana Oyinkan Braithwaite conta uma história ao mesmo tempo bem-humorada e assustadora sobre duas irmãs com temperamentos e atitudes bem diferentes uma da outra: Korede e Ayoola.
Korede é amargurada, mas pragmática. Sua irmã mais nova, Ayoola, é a filha favorita, a mais bonita, e, possivelmente, com sérios distúrbios comportamentais. Seus três últimos namorados aparecem mortos. As duas irmãs desempenham papéis inusitados nessa trama de suspense e relações emocionais complexas.
Oyn conduz com maestria literária esse thriller psicológico que surpreende e encanta o leitor a cada página. Conta uma história cheia de suspense e mistério, com humor peculiar e ácido, sem deixar de lado a complexidade da mente de uma sociopata.
Minha irmã, a serial killer: a história
Talvez você não saiba e provavelmente os CSI da tevê mentiram para você. Mas a água sanitária não limpa tudo. Não todo o sangue. Ela apenas tira o odor. É preciso esfregar bastante, checar todos os locais possíveis e impossíveis. Cada pequeno detalhe. Porque é assim que as pessoas são pegas. Nos pequenos detalhes.
A história de Korede começa assim, mais uma ligação de sua irmã Ayoola. Ela fez de novo. Matou de novo. Mais um cara. E, claro, ela precisa de ajuda. E é o que Korede faz. Limpa tudo, tim-tim por tim-tim. Até não sobrar vestígios de todo o sangue. Do corpo. Da vida que acabou de desaparecer no banheiro da própria casa.
Não demoramos a conhecer ambas as irmãs. Korede, a enfermeira que trabalha arduamente. A irmã não tão bonita, ou para quê negar, ela não chega aos pés de Ayoola. Das curvas, pele e perfeição de Ayoola. Qualquer uma se sentiria assim, é claro. “Essa é sua irmã?” A pergunta que Korede sempre ouve com um tom perplexo de pessoas tentando entender como os extremos podem ser tão próximos em parentesco.
“Aposto que você não sabia que a água sanitária apenas esconde o cheiro de sangue. […] A água sanitária desinfeta, mas não é muito eficiente na limpeza de resíduos; então, só a uso depois de ter esfregado o banheiro, eliminado qualquer traço de vida, e de morte.”
O que ninguém vê sob o manto da beleza de Ayoola, é a frieza. A total ausência de empatia e sentimentos. É alguém que acaba de postar foto sobre o desaparecimento do namorado e já quer postar selfies, afinal, estão bonitas demais para serem desperdiçadas. Alguém que precisa que lhe ensinem como se comportar em sociedade. Ayoola, a irmã serial killer.
O desenrolar da trama se foca em um drama típico: Korede é apaixonada por um dos médicos com quem trabalha. E seu mundo vira de cabeça para baixo quando esse mesmo médico se apaixona por sua irmã. Não que sua irmã, a serial killer o ame. Mas ela o quer. E ela é alguém que tem o que quer. É exatamente aí que mora o perigo.
Identificando o modus operandi da irmã, Korede tenta de tudo para afastar o casal. Mas é claro que quem parece a vilã, é ela. Até as consequências serem muito mais graves do que era possível imaginar. Até Korede precisar escolher um lado. Mas que lado ela escolherá?
“No aniversário de um mês de namoro, ela o esfaqueou no banheiro de seu apartamento. Não era a intenção, é claro. Ele estava braco, gritando, o hálito manchado de cebola quente no rosto dela. (Mas por que ela tinha uma faca?)”
A leitura de Minha irmã, a serial killer
O livro foi, decididamente, devorado. Numa única noite, numa sentada, como a gente gosta de dizer. Os capítulos são curtos, a narrativa te prende, é macabramente divertida. A história puxa sua curiosidade e você se pergunta: até onde tudo isso vai?
O estilo, vale acrescentar, me lembrou muito a construção de um conto/novela, por não trabalhar muitas tramas paralelas e fora do círculo dos acontecimentos principais. É uma história bem “direto ao ponto”, por assim dizer e, mesmo assim, a autora conseguiu trazer temas muito válidos e questionamentos incríveis com um pano de fundo bem elaborado para as personagens.
Só abro o parêntesis para que você não leia esperando a construção e desenvolvimento tradicionais de romances thrillers. Vi algumas críticas ao livro que me sugeriam muito que as pessoas esperavam algo mais próximo do tradicional romance de suspense/thriller e por isso foram pegas de surpresa e não saíram muito satisfeitas.
“Leva-se muito mais tempo para despachar um corpo do que descartar uma alma, especialmente se você não quer deixar para trás nenhuma evidência criminosa.”
Elementos presentes em Minha irmã, a serial killer: relacionamentos, codependência entre irmãs e traumas familiares
Além do drama do amor não correspondido de Korede, a autora interlaça alguns elementos à narrativa principal que são muito perspicazes. Um deles é o relacionamento dependente entre irmãs, em que Korede, mesmo com todo amargor que corre em suas veias, está sempre cedendo às vontades de Ayoola, vivendo sua vida à margem e sombra da outra, controlando seus atos através dos atos de Ayoola.
É difícil definir o relacionamento das duas como saudável. E a autora explora até mesmo as origens dessa codependência das irmãs, com amostras do passado da vida em família com um pai abusivo e de uma mãe alheia por vontade própria à tudo que fosse possível.
E, falando de vida em família, Braithwaite aborda ainda a tríade filha-mãe-filha. Korede é mais do que a irmã mais velha de Ayoola. A mãe a responsabiliza por todos os erros da casa, da vida. Pelos erros de Ayoola. E, de certa forma, a própria Korede absorve para si – há muito tempo – essas obrigações. Não só o zelo, mas a responsabilidade. Inclusive, pelos assassinatos que a irmã comete.
“Mais e mais ela me lembra dele. Ele podia fazer algo ruim e se comportar como um cidadão modelo logo depois. Como se a coisa ruim nunca tivesse acontecido. Está no sangue? Mas o sangue dele é o sangue dela e o meu sangue.”
Além da relação em casa sendo descrita como tóxica, é interessante como a autora desbrava as nuances da serial pelo olhar de alguém que a ama. Pelo olhar de Korede. Ela mostra o quanto a balança da irmandade, da família pode representar tudo ou nada. O quanto laços construídos podem ser difíceis de romper.
É muito interessante como a própria cegueira para a psicopatia de Ayoola se demonstra em vários estágios: na irmã, que sabe dos crimes, mas age em seu favor, acobertando os crimes. Da mãe que escolhe ver o que deseja. Dos amantes que fazem parte do modus operandi, tanto quanto escolhem ver apenas a superfície que desejam.
“Os pais e parentes mais amorosos cometem assassinatos com um sorriso no rosto. Eles nos forçam a destruir a pessoa que somos: um tipo sutil de assassinato.” Jim Morrison
Outro ponto muito rico que encontramos na história é sobre a cultura, a estrutura não apenas social, mas familiar à que as personagens estão imersas, vivendo não apenas com certa sombra do pai a pairar, mas também, num mundo em que aparências são tão importantes quanto a realidade. Minha irmã, a serial killer é uma ficção nigeriana, tal como Oyinkan Braithwaite, e foi lançado em inglês, nos Estados Unidos, em 2018.
Um thriller repleto de humor ácido, com revelações inquietantes, regrado à relacionamentos conturbados e uma irmandade para lá de questionável. Minha irmã, a serial killer, mostra os desdobramentos não apenas da vida de uma serial killer à solta, mas daqueles ao seu redor, independentemente do grau de ignorância que possuam acerca da realidade.
“Sou mais assombrada por suas ações do que ela. Podemos ter escapado da punição, mas nossas mãos não estão menos sujas de sangue.”
Aleatoriedades
- O livro Minha irmã, a serial killer de Oyinkan Braithwaite foi recebido em parceria com a Editora Kapulana.
- Para as fotos da vez, é claro que eu precisava chamar minha irmã, a serial killer. Digo, só a minha irmã mesmo para fazer uma dupla para as fotos (de quebra convenci ela a passar esmaltes combinando com o livro e iguais ao meu… rsrsrs).
- Sugestões de livros para quem curte histórias sobre seriais killer: Sweeney Todd: o barbeiro demoníaco de Fleet Street | Iluminadas de Lauren Beaukes | O Assassino do Zodíaco de Sam Wolson | Uma Mulher na Escuridão de Charlie Donlea | O Inverno dos escritores Mortos de Miller Brito
- O livro está em promoção no mês de maio na loja virtual da Loja Kapulana!
Que a Força esteja com vocês!
xoxo