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Soul Love: à noite o céu é perfeito – Lynda Waterhouse

Algumas noites são mais estreladas que outras e todas as vidas que se entrelaçam sobre a Terra, são sempre iluminadas por essas mesmas estrelas…

Soul Love: à noite o céu é perfeito

Lynda Waterhouse

Editora Melhoramentos

“Essa é uma das coisas que as pessoas não nos ensinam quando falam de crescer: como lidar com as dores que não passam com um beijo.”

Sobre a Autora

Lynda Waterhouse mora em Elephant and Castle, na região sul de Londres. Seus hobbies incluem faltar às aulas de aeróbica, assistir filmes mudos e ouvir música antifolk.

Sinopse

Jenna não quer trair os amigos e não revelará o que se esconde por trás de sua expulsão do colégio, assumindo toda a culpa sozinha. Como castigo sua mãe a levou para passar algum tempo com uma tia numa tediosa cidadezinha do interior. É lá que Jenna encontra Gabe, um rapaz autêntico, melancólico e reservado. Completamente diferente de todas as outras pessoas ela conhece. É inevitável: Jenna se apaixona por ele. Será que Gabe é sua alma gêmea? Ele mostra a Jenna a beleza de um céu noturno sem nuvens, escuro, um contraste perfeito para o brilho das estrelas. E, em meio a livros, música, poesia e noites estreladas, o sentimento entre eles se torna cada vez mais forte. Mas Cleo, uma garota antipática que tem uma ligação muito estranha com Gabe, não está gostando nada desse romance. Afinal, ela não quer que ninguém mais saiba o grande segredo de Gabe…

Soul Love: à noite o céu é perfeito

Jenna pisou na bola com sua mãe e seu castigo é ir passar um tempo com sua tia Sarah numa pequena cidade chamada Little Netherby, bem diferente do clima londrino ao qual está habituada. Seja como for, agora ela terá que passar as férias sentindo o calor e tédio enquanto ajuda a Sarah no pequeno sebo que mantém como sustento, com o namorado. O que Jenna não esperava era conhecer Gabe, um garoto que esconde um segredo e que vai mudar toda sua vida.

“Os erros deviam ser iguais a desejos reversos. A gente devia ter o direito de desfazer três erros de nossa vida.”

Soul Love tem um clima típico dos romances adolescentes, a garota com ares rebeldes encontra o garoto misterioso e se apaixona. O detalhe especial da história fica exatamente com esse segredo que envolvem Gabe, que traz um tema pouco abordado em obras juvenis (seria spoiler dizer o que é, então vou me abster de adentrar mais nesse quesito). Exatamente por essa questão que é abordada, no Brasil, Soul Love recebeu em 2006 o selo de recomendação da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ.

“É assim que as coisas acontecem quando você é rotulada. Você tem de ser a primeira na fila dos culpados.”

Nesse ponto, apesar da boa surpresa durante a leitura – já que em momento algum consegui adivinhar qual seria o segredo de Gabe – o fato de ser um segredo para o leitor e não apenas para a personagem, acaba por atrapalhar um pouco na hora de falar e conscientizar sobre o assunto. (Não vou adentrar muito nisso porque é o ‘roto falando do mal lavado’, já escrevi uma história com um ‘bônus’ assim, secreto para o leitor e, realmente, reconheço que isso tira um pouco a força do tema que é abordado).

Sobre a construção da protagonista Jenna, o que se revela é uma garota volátil e rasa. Não acredito que por desenvolvimento ruim, mas exatamente por ela ser assim, alguém que se volta completamente e unicamente para suas próprias necessidades e vontades e que carece de amadurecimento. Sem dúvidas ela transparece isso em vários momentos, que acabam dando aquela vontade de adentrar a história e “jogar uma verdades na cara dela“… ehehe Por outro lado, é como se o que é narrado no livro, fosse a primeira grande lição que a vida lhe trouxe, a oportunidade de crescer e amadurecer.

“Platão diz que a astronomia força a alma a olhar para o alto e nos leva de um mundo para outro.”

O romance é fugaz, nasce e cresce em velocidade rápida e quem não acredita em amores à primeira vista, sem dúvidas terá seus problemas para digerir o fato. Contudo, acho que foi acertado para a história, ele pareceu juvenil, à princípio e se desenvolveu a medida em que os personagens se conhecerem e conviveram.

“Quando somos crianças, achamos que tudo tem solução. Um brinquedo quebrado tem conserto. Alguém
acende uma luz e nosso medo do escuro desaparece. Crescer talvez signifique tomar consciência de que a vida não é bem assim.”

Um dos pontos interessantes é que, apesar de algumas figuras típicas dos livros juvenis, como a “garota rival que quer disputar o mesmo garoto“, o livro consegue mostrar que sempre existe mais nas pessoas do que as aparências, mais do que os estereótipos e as imagens que são desenhadas para elas. É o caso de Cleo, que tem uma amizade antiga com Gabe.

Há também alguns pontos sobre amizade que são mostrados no livro, especialmente através dos colegas de escola de Jenna. Afinal, não são apenas relacionamentos românticos que podem ser assim, nocivos e que tendem a existir apenas enquanto existir conveniência. Algumas ações podem parecer extremas, imaturas e impensadas, mas de modo geral, casam bem com a ideia da história de repassar aspectos reais sobre a juventude e (i)maturidade.

“Ser amigo significava compartilhar coisas nas quais se acredita e não fazer o papel de quem só está ali para satisfazer as vontades de uma ou mais pessoas. E, se você não consegue perdoar as fraquezas dos seus amigos, é melhor ficar sem eles.”

Há outro relacionamento tóxico evidenciado no livro: o da tia de Jenna, Sarah, com o namorado Kai. Apesar de ser uma subtrama, é clara a complexidade da situação, especialmente para quem não quer perceber a verdadeira situação à qual está submetido. Vi algumas críticas indicando que Jenna deveria ter feito mais por Sarah. Mas acho que isso apenas traria a ideia de que ‘todos viveram devidamente suas vidas‘, anulando a proximidade à realidade, em que sabemos que isso nem sempre ocorre. E, a bem da verdade, o crescimento pessoal de Jenna não a tornava apta a ‘resgatar‘ a tia. Acredito até mesmo ser injusto cobrar da garota essa responsabilidade, já que a única certeza que fica quando o livro acaba, é exatamente a de que a personagem ainda tem um longo caminho a ser percorrido (e não temos todos?).

A narrativa da autora segue bem o estilo e padrão dos livros juvenis e, apesar de não ver grandes diferenciais nela, não recordo de nenhum ponto marcante que também a desabonou. Li o livro no mês de HAHA e, sei que se fosse um problema durante a leitura, estaria gravado a ferro em minha memória. Os extremos sempre são recordados por aqui com mais facilidade…

“Todo ano, no primeiro sábado de agosto, às dez da noite, olhe para o céu e verá Cassiopeia, ao norte. Eu
estarei fazendo o mesmo.”

O título do livro remete à uma ideia de “alma do amor” e, por mais clichê e romântico que possa soar, acho que combina com a ideia da história, de que o amor pode esperar, que ensina e faz crescer. O subtítulo também faz uma menção bem legal, mas já atrelada à história de um modo mais explícito.

“Estou totalmente de acordo com Platão. A astronomia realmente nos obriga a olhar para cima, à procura de um novo mundo. Amo o céu noturno. Olhar para o alto faz nosso espírito elevar-se também. Sempre me sinto mais cheia de esperanças quando olho para as estrelas.”

O livro tem sim seu viés juvenil, mas para quem curte histórias românticas clichês, com um sentimento nostálgico de relembrar a época escolar, os dramas, e com um diferencial sobre o segredo de Gabe, acredito que a leitura será muito bem-vinda. E, claro, recomendo que todo primeiro sábado de agosto, às dez da noite, olhem para o céu. Cassiopeia estará visível e Jenna e Gabe também estarão olhando, afinal, à noite, o céu fica perfeito!

Aleatoriedades

  • O livro foi lido em indicação da minha linda Kaka, do blog O Reino das Páginas, já que é um dos favoritos da vida dela! Obrigada especial para essa linda pela indicação!
  • No livro, Gabe e seus amigos tem uma banda, que toca música antifolk. Apesar de tocarem alguns grandes sucessos que eu dificilmente enquadraria como antifolk, fui pesquisar sobre esse estilo e vi que ele é bem complicado de ser definido, já que acaba variando de artista para artista. Segundo o site Antifolk.com, o antifolk é um gênero musical que dá preferência à escrita das músicas sobre a técnica e à personalidade acima da elegância. Pode ser vista como uma evolução do folk, ou como uma combinação de punk e folk. (Tradução livre). De modo geral, são músicas que falam do cotidiano, que não utilizam tantos efeitos e/ou instrumentos e vem tornando-se popular nos últimos anos, com participações em trilhas sonoras de filmes como Juno. Particularmente, não consegui agradar muito com nenhuma das músicas que ouvi e que estavam listadas como antifolk, talvez seja porque meu gosto é bastante folk… rs
  • Fui fazer as fotos para esse livro e já estava na vibe natalina da vida e, sem dúvidas, como não pensar em estrelas depois dessa leitura??? Impossível!

Que a Força esteja com vocês!

Ouvindo: Someone New – Hozier (just a little bit folk…)

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  • Dai Castro

    As fotos já estão com um climinha gostoso de Natal mesmo! Eu achei a premissa bem parecida com o que vemos em livros adolescentes, mas acho que o mistério consiga dar um toque a mais para a história, embora imagino que construir a história em torno de algo que não se pode ser revelado seja um desafio a mais. Eu tenho probleminha sim com amores instantâneos, mas achei que pode ser uma leitura gostosinha sim 🙂 Um beijo

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