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Mundo dos Sonhos de Cristina Puygcerver

Resenha do livro Mundo dos Sonhos, de Cristina Puygcerver, parte do Projeto Lendo Escritoras Nacionais.

Imagine estar num Mundo em que você realmente possa realizar todos os seus Sonhos e, mais importante de tudo: você também pode morrer. Mas vamos considerar isso apenas um risco operacional, certo!?

Em 2021 criei no Instagram o Projeto Lendo Escritoras Nacionais, que era voltado à leitura de obras de autoras nacionais (conheça o projeto aqui). Inicialmente, seriam selecionados poucos livros, mas como quem tem limite é município, eu acabei selecionando um número bem audacioso. Mundo dos Sonhos foi uma das escolhas do Projeto e, por isso, o exemplar do livro foi recebido em parceria com a autora, Cristina Puygcerver. Conheça mais sobre ela e o livro, aqui no Instagram!

“Sonhos são pequenos momentos da sua vida em que você foge da realidade e entra em um mundo onde a magia e a felicidade não te abandonam, e você pode fazer qualquer coisa sem se preocupar, pois não é real e então tudo pode ser perfeito. Sonhos são nada menos que sua parte mágica se tornando você por completo.”

A história de Mundo dos Sonhos

Kethner sofreu um trauma enorme quando seus pais foram vítimas de um assalto e, além de perder sua voz, ela agora vive em um orfanato. Seus dias são ansiar pela vida que perdeu, pelo tio pelo qual ela espera, mas nunca aparece, e por sua voz.

Mas um dia as coisas ficam diferentes. Kethner sonha com um lugar bonito, repleto de natureza e um castelo cintilante. Com uma rainha bondosa que está lá para lhe fazer companhia. E a melhor parte é que Kethner consegue voltar para esse sonho em várias noites e ter encontros incríveis com a Rainha.

O problema surge quando realidade e sonhos se misturam, quando ficar acordada fica cada vez mais difícil e mais tempo é passado no misterioso Mundo dos Sonhos. Kethner não apenas tem que descobrir como acordar em sua realidade, mas como fugir dos perigos que o mundo dos sonhos colocará em seu caminho. Afinal, ele sempre quer que você fique, mas não que você vá embora.

“Não julgue um livro pela capa ou uma floresta por sua obscuridade, a maldade às vezes se esconde sob a mais clara luz.”

O Mundo dos Sonhos e a Realidade em Ka

Uma das coisas mais interessantes que me despertaram o interesse em Mundo dos Sonhos, foi a questão de nos vermos presos nesse mundo que é, desculpe a redundância, dos sonhos. A ideia de um mundo perfeito, em que podemos ser e fazer o que quisermos é deliciosa demais, é tentadora demais. Ainda mais quando, como Kethner, você tem quatorze anos e sente pouco entusiasmo na sua realidade e anseia por dias melhores.

Quando se trata de sonhos, esse é um ponto super importante: será que estamos vivendo o momento, ou apenas a expectativa de nossos sonhos? Sabe aquela expressão, sonhando acordada? Será o quanto de nós podemos deixar se levar por nossos sonhos? Ao mesmo tempo, o quão importante são esses sonhos na nossa vida?

Depois de terminar a leitura do livro, é possível fazer um paralelo entre essas questões e a história. É claro que, no livro, o Mundo dos Sonhos, conhecido como Ka, é também real, ainda que tenha sido imaginado e criado nessa esfera que chamamos de sonhos. Ainda assim, pela trajetória dos personagens, é interessante ver como o fantástico e o belo assim se mantém exatamente porque existe, de outro lado, a realidade.

Quando então pensamos no livro Mundo dos Sonhos, uma coisa é certa: talvez você pense nos seus sonhos de modo distinto depois que terminar a leitura.

“Não se pode fugir do destino, ele foi escrito especialmente para você.”

A leitura de Mundo dos Sonhos: narrativa, personagens e a história

A leitura de Mundo dos Sonhos me tomou bastante tempo, especialmente no começo, senti dificuldade em conectar com os personagens, com a própria trama e a narrativa não conseguia me prender. Por isso, a leitura acabou sendo feita em pequenas doses.

Com o avançar da história, senti uma melhora no ritmo, mas ainda assim o texto poderia dar menos voltas em alguns momentos. Ao mesmo tempo, a história seria mais fluida se não recorresse à alguns acontecimentos previsíveis dentro da trama, que tiraram um pouco do seu brilho e potencial. Em certos aspectos, alguns acontecimentos chegam a ser um pouco sem sentido e os personagens colocados de forma não muito condizentes com sua realidade.

Dentro disso, a construção dos protagonistas, de Kethner e Daniel, o outro garoto humano que vai parar em Ka e se torna seu aliado, se mostrou interessante, fora do óbvio padrão de interesse amoroso, trazendo um vínculo de irmandade antes de mais nada.

Além disso, vários outros personagens que ganharam forma e encorparam a história, auxiliando-os em sua jornada, como o feiticeiro Murrum e o Guardião Bautos. A figura antagônica da história ficou por conta de uma única criatura, a feiticeira Allana que, como todo vilão que se preza, dá as deixas para que os mocinhos se recuperem e triunfem de vez em quando, ou não haveria história.

Um detalhe que me chamou a atenção foi como os personagens, ainda assim, são quase todos masculinos. Por incrível que pareça, as únicas referências femininas que são uma constante na história, são a própria Kethner e a vilã Allana. O mago-guia Murrum e os soldados e alguns outros sonhos que aparecem com frequência e contribuem de forma aprofundada na história, todos masculinos. Senti falta de mais representações positivas e de guerreiras na história.

Referências em Mundo dos Sonhos

Por outro lado, no universo de Mundo dos Sonhos, vamos encontrar algumas referências e influências literárias como do universo de Harry Potter e O Senhor dos Anéis. Uma pitada de contos verdadeiros, como o Barba Negra. E muitas criaturas fantásticas e seres que remontam a histórias fantásticas e contos de fadas como hidras, sereias e fadas.

Além disso, por todo o mundo de Ka, as relações de amizade, confiança e lealdade que vão sendo construídas, também dão forma à um laço profundo entre os personagens. Eles se tornam mais do que meros visitantes, fazem parte daquele mundo. Ainda que, no fim do dia, seu desejo principal seja retornar para sua própria realidade.

O que nos faz voltar à um dos pontos que comentei logo no começo do texto: como uma outra perspectiva é capaz de nos fazer ver a nossa própria realidade com um novo olhar. E, muito provavelmente, com muito mais bondade.

“Sempre que o medo vier, lembre-se do motivo pelo qual teve coragem de chegar até aqui.”

Por aí, já imaginou como seria ir parar em um Mundo dos Sonhos, com lutas de espadas, criaturas mágicas e feiticeiros?

Dicas de fantasia nacionais para conhecer e se apaixonar: Mirta Vento Amarelo de André Regal e Quando Fui Girassol de M. Becke.

Mundo dos Sonhos

Autoria:
Cristina Puygcerver

Editora:
AZO Agência Literária

Ano de lançamento:
2018

Gênero:
Ficção Brasileira | Fantasia Juvenil

Páginas (nº):
420p.
Após presenciar o assassinato dos próprios pais, Kethner se cala para sempre. No orfanato para onde fora mandada, cinco anos se passaram tendo de conviver diariamente com o silêncio de sua própria voz e a luta interna para não desmoronar diante de tudo, até que um dia ela abre os olhos em uma bela floresta ao lado de um enorme lago. A gentil mulher que se diz Rainha dali, explica a Kethner que tudo não se passa de um sonho e rapidamente se torna amiga da menina mostrando as belezas de seu sonho. Esse delicioso e extremamente realista sonho onde ela podia ter controle de si mesma, sensações reais e sua voz de volta, se repete por noites e noites deixando-a encantada por tudo que ele a proporciona e logo se tornando um refugio de sua realidade fazendo-a cada vez mais querer estar ali.
Quanto mais sonhava, mais sono sentia, mais dormia e mais sonhava. Esse ciclo a faz passar mais tempo em seu sonho do que no “mundo real” até que um dia ela não acorda mais. Kethner se vê presa onde é, na verdade, um mundo cheio de perigos e aventuras mortais. Fugindo da Rainha, que mostra sua real e terrível face, Kethner encontra Daniel e juntos descobrem criaturas fantásticas e enfrentam batalhas sangrentas contra os mais terríveis pesadelos, tentando a todo custo encontrar uma forma de “acordar” ou simplesmente sobreviver naquele Mundo dos Sonhos.
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