Um mundo que parece cada vez menor, cada vez mais cheio, rápido, imediato, atribulado. Um planeta em que as observações de Matt Haig se tornam um guia um guia para viver bem em um planeta nervoso.
Observações sobre um planeta nervoso (Notes on a nervous planet)
Matt Haig
Tradução Donaldson M. Garschagen e Renata Guerra
2020 | 320 páginas
Intrínseca
Disponível em Amazon
“O cérebro do mundo é uma metáfora prosaica, mas adequada. Somos as células nervosas do cérebro do mundo, transmitindo-nos a todas as outras células nervosas. Enviando a sobrecarga de cá para lá. Neurônios sobrecarregados num planeta nervoso. Pronto para explodir.”
Sobre Matt Haig
Matt Haig é o autor best-seller de Razões para continuar vivo e outros cinco livros aclamados voltados para o público adulto, incluindo Como parar o tempo, Os Humanos e Os Radley. Na literatura infantil e infantojuvenil, ganhou o Blue Peter Book Award, o Smarties Book Prize e foi indicado três vezes para o Carnegie Medal. Sua obra já foi traduzida para mais de quarenta idiomas.
Sinopse de Observações sobre um planeta nervoso
Após anos convivendo com a depressão e as crises de pânico, Matt Haig percebeu que determinadas interações nas redes sociais agiam como gatilhos para a sua ansiedade. Haig começou a pesquisar a relação entre a quantidade de informações, imagens e interação virtual ao nosso dispor e nossa sensação crescente de cansaço, solidão e depressão.
Se somos bombardeados de imagens felizes e temos acesso a todo tipo de informação o tempo todo, por que nos sentimos cada vez mais perdidos e solitários? Por que vemos a incidência de quadros como depressão, ansiedade e síndrome do pânico aumentar? Essas perguntas só podem ser respondidas fazendo uma análise da nossa sociedade. E uma de suas conclusões é que o modo como vivemos está projetado para nos fazer perder o controle.
A partir desse prognóstico, Haig traz propostas para manter a sanidade em um planeta que nos deixa desequilibrados e para buscar a felicidade mesmo com a ansiedade sendo encorajada. É um olhar pessoal e fundamental sobre como se sentir feliz, humano e pleno no século XXI.
Observações sobre um planeta nervoso
Observações sobre um planeta nervoso chegou às minhas mãos em um timing perfeito. A leitura foi leve, prazerosa, reflexiva. Matt Haig pode até não ter previsto a pandemia que marcaria esse 2020, mas, de certa forma, ele sabe que tudo que nos fere e mais tenciona nesse período de crise mundial são as coisas que já existiam no planeta.
Pensei bastante em como seria a resenha desse livro e, tal como a leitura de A Sutil Arte de Ligar o F*da-se, do Mark Manson (só clicar no título para ler a resenha), acho que eu poderia fazer uma resenha para cada capítulo, para cada tema que é explorado no livro. Então, tal como no livro do Manson, resolvi fazer um texto diferente. Aqui, teremos 10 Observações, dignas de nota, sobre a vida nesse planeta nervoso. Segue comigo:
10 Observações – Dignas de Nota – sobre um Planeta Nervoso
Observação Número Um
“existe felicidade em ter menos”
Fumio Sasaki
A sociedade é capitalista, é cruel. Nunca se esqueça disso. Ela sempre vai querer te fazer desejar algo a mais, algo que você não tem, algo que você não é. Lembre-se do que já possui, de quem é. As coisas ficarão mais leves. Você não é o que você tem.
E tudo isso ainda se relaciona em termos de excessos. Não necessariamente de ilícitos, mas de pensamentos. Como coloca Haig, temos abas demais abertas no computador chamado cérebro. E, invariavelmente, precisamos que algumas sejam fechadas para funcionar direito. Para ficar leve, para conseguir processar. Na era da informação à distância de um clique, parar, desacelerar. Não ver uma ou outra notícia pode ser necessário de vez em quando. E está tudo bem não dar conta de tudo.
“Temos liberdade para pensar em qualquer coisa. Assim, faz sentido que, às vezes estejamos pensando em tudo. Mas às vezes é preciso ter coragem para fechar janelas se quisermos nos religar. Desconectar para reconectar.”
Matt Haig
Observação Número 2
“Aquele que tem medo de sofrer já está sofrendo daquilo que teme.”
Montaigne
Ter medo de sentir medo te traz apenas mais angústia. Fantasiar sobre situações que podem ficar piores, sobre coisas que não se tem controle é trazer para si pré-ocupações que alimentarão apenas o seu sofrimento. É aquela velha ideia de não sofrer por antecipação. Pode ser difícil, mas uma vez que você identifica a tendência, fica mais fácil contorná-la. Nas palavras de Franklin D. Roosevelt:
“A única coisa que devemos temer é o medo.”
Franklin Roosevelt
Observação Número 3
“esperamos mais da tecnologia do que uns dos outros.”
Sherry Turkle
Quanto tempo você fica conectado? Quanto tempo passa rolando feeds, vendo as notícias que pipocam a cada milésimo de segundo? Quantas vezes o mundo parou de girar quando você se afastou do seu celular?
Já parou para pensar em como nosso vida, às vezes (ou quase sempre), gira em torno da tecnologia? Ela nos acompanha do abrir de nossos olhos ao fechar. E falo isso pensando no acordar e dormir e do nascer ao morrer. Vencer uma batalha de discursos raivosos no Twitter não trará sua paz. Ter um feed perfeito no Instagram também não. Muito menos perder 5 horas preciosas de sono assistindo uma série que estará disponível pela eternidade na Netflix. Coloque na balança: o quanto da sua vida depende da tecnologia? O quanto você espera que ela preencha as lacunas da sua vida?
Observação Número 4
“Quando se sentem bem com o próprio corpo, as pessoas se tornam mais propensas a cuidar dele em vez de tratá-lo como um inimigo, ou, pior ainda, como um objeto.”
Pamela Keel
Seu corpo é o seu templo. Não é apenas o que te mantém vivo, é o que te mantém ativo, são. Os padrões que a sociedade impôs nunca serão alcançáveis, todas as técnicas que existem nunca serão suficientes, tudo que é lançado nunca será o bastante. Porque, caso não tenham lhe contado, é esse o segredo: manter você sempre insatisfeito e, assim, sempre em busca de algo que não possui, seja uma barriga tanquinho ou um jeans novo.
Cuidar de si vem de dentro. Não se trata do número de calorias ou de quanto o seu prato está verde. De quantas horas você passa na academia. Ser saudável não é medido pelo número de verduras e frutas que você ingere. Inclui ter corpo e mente bem nutridos e não apenas daquilo que dizem ser saudável, mas daquilo que nos afaga, que alimenta corpo, mas também, a alma.
“decorar tão bem nossa casa interior a ponto de nos sentirmos bem, felizes por receber quem quiser chegar e ficar, mas igualmente felizes quando estar sozinho for inevitável.”
Edith Wharton
Vale acrescentar o lembrete, somos naturais, somos animais, somos imperfeitos. Nas palavras de Alice Walker:
“Na natureza, nada é perfeito e tudo é perfeito. As árvores podem ser retorcidas, curvas de uma maneira estranha, e ainda assim belas.”
Alice Walker
Observação Número 5
“somos o que fingimos ser, portanto tenha cuidado com o que fingimos ser.”
Kurt Vonnegut
Em um mundo em que somos incentivados a alcançar a perfeição, em ter tudo em ordem, em manter as aparências, em comparar nossa vida com o feed alheio, esse é um belo lembrete. Permanecer fiel a si inclui quem você é do lado de fora da porta da sua casa tanto quanto quem você dentro dela, ou quem você é pela tela do celular. Mostrar uma foto sorrindo não significa estar feliz. Quem você é não se encerra no seu perfil online, é claro. E é bom se lembrar disso. Mas o quanto dele reflete quem você é?
“A questão é libertar o eu. Deixar que ele encontre suas dimensões, sem ser impedido.
Virginia Woolf
Observação Número 6
“A comparação é o ladrão da alegria.”
Theodore Roosevelt
Talvez isso esteja intrinsecamente ligado ao que já falamos em outros pontos, especialmente no anterior, mas vale ressaltar. Você é você e o outro é o outro. É muito fácil em uma vida conectada deixar-se levar, abalar e influenciar pela opinião alheia. Especialmente acerca de si mesmo e, nesse caminho, voltamos à ideia anterior, quem você vê no perfil do outro não é o outro em completo. Então, por que se comparar sendo que aquilo não é exatamente ele e, muito menos, uma versão sua? A comparação costuma levar apenas à ideia equivocada de que não somos bons e felizes o suficiente. Você é o suficiente. Sendo você.
“A vida deve ser tocada, não estrangulada.”
Ray Bradbury
Observação Número 7
“Não entramos em estado de choque quando acontece uma coisa grande e ruim. Tem de ser algo grande e ruim que ainda não entendemos.”
Naomi Klein
Quer frase mais certeira do que esta em tempos de pandemia? É provável que você já tenha ouvido aquela comparação (olha a tal da comparação aí), sobre nos chocarmos com um avião em queda e não com o número de mortes do covid? Lembra quando a pandemia teve início, que o medo se instalou? Lembra quando, apesar dos números subirem, a preocupação diminuiu? É porque a ideia, o evento em si já caiu no hábito. Notícias e notícias e notícias. E, através dela, somos conduzidos a ficar mais ou menos preocupados. Mais ou menos cautelosos. Mais ou menos submetidos à vontade do sistema. Sair desse ciclo pode não ser fácil, mas é necessário.
Observação Número 8
“Muita gente conversa com os animais. Mas poucas os escutam. Esse é o problema.”
A. A. Milne em O Ursinho Puff
Aqui, vou deixar uma pergunta: já viu um animal preocupado? Preocupado com as notícias, com o mau tempo, com a bolsa de valores, com a política, com o peso, com o jogo de futebol? Animais são terapêuticos porque sabem o verdadeiro valor da vida, sabem o que realmente importa. Sabem que a vida continua.
Observação Número 9
“Em todo o caos existe um cosmos, em toda desordem, uma ordem secreta.”
Carl Jung
Você nem sempre estará no controle. E se lembrar disso é o primeiro passo para aceitar. É o primeiro passo para se lembrar que, às vezes, tudo estará uma bagunça: o mundo, seu quarto, você. Mas está tudo bem. Você é único. E humano. Imperfeito. E está tudo bem por isso também.
“O nitrogênio de nosso DNA, o cálcio de nossos dentes, o ferro de nosso sangue, o carbono de nossas tortas de maçã nasceram no interior de estrelas em colapso. Somos feitos da matérias das estrelas.”
Carl Sagan
Observação Número 10
“Progredir, é se aproximar de onde você quer estar. E, se virou no lugar errado, seguir adiante não vai levá-lo mais para perto de seu destino.”
C. S. Lewis
A ideia da perfeição sempre nos persegue. Um ideal de quem devemos ser, não apenas pela expectativa do mundo, daqueles ao nosso redor, mas também, a nossa própria. Lembra de aceitar quem se é verdadeiramente é um passo em direção ao progresso de que Lewis fala. É se conhecer. É reconhecer os passos que quer dar e corrigir a rota sempre que for preciso. Deixar a vida te levar e seguir o fluxo, nem sempre são as melhores ideias. Avançar simplesmente por avançar, pode não te levar a lugar algum.
“Se você busca a perfeição, nunca estará satisfeito.”
Anna Karenina de Liev Tosltói
Nas palavras de Matt Haig, “Tudo o que há de especial no ser humano – nossa capacidade de amar, de fazer arte, de praticar a amizade, contar histórias e tudo o mais – não decorre da vida moderna, mas do fato de sermos humanos.” Não se esqueça disso.
Aleatoriedades
Observações sobre um planeta nervoso foi recebido em parceria com a Editora Intrínseca! Para garantir seu exemplar, é só clicar: Amazon!
Para quem quiser ler mais um pouquinho sobre bem-estar na pandemia, tenho um texto bem legal aqui no blog com dicas para te ajudar a relaxar e com ideias para te ajudar (a não surtar) e cuidar da sua saúde (física e mental, que estão extremamente interligadas): Saúde Mental em Tempos de Pandemia. E se quiser uma leitura curta e rápida para relaxar, tem o conto: Amor em Tempos de Pandemia.
xoxo
Rubro Rosa
Engraçado que nessa semana que passou, eu falei com uma colega daqui de onde moro sobre me desligar da net,tv e me jogar num livro ou simplesmente numa série.
Ela riu e disse que ninguém conseguia ficar mais de uma hora desconectado e eu respondi que conseguia bem mais.
Faz bem fazer isso, quando o mundo lá fora está ardendo. E isso não é ser alienada, não ter nada com isso, é apenas respeitar o seu momento, o seu templo, a sua sanidade mental.
E oh, não falo isso somente pela pandemia não,mas pela maldade humana, pelo levar a vida sem sentido como se só isso importasse.
Adorei conhecer um pouco mais sobre o livro, pois é realmente o que penso e sim, o que já sigo há um tempo.
Eu tenho depressão e crises de ansiedade fortes. Daí, quando começo a ficar conectada demais, querendo me juntar ao mundo a todo custo, sinto o peso disso.
Já é um livro que preciso.
Agora preciso perguntar uma coisa depois de elogiar as fotos(Pra variar)
São goiabinhas???? rsrsrsrsrs
Beijo(Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor @vazionaflor)
Retipatia
Sim, é muito bom se desligar, isso faz parte do processo de se manter bem e são. Às vezes também me desligo e é a melhor coisa que eu faço. As pressões são muitas e a gente fica mesmo viciado nesse mundo tecnológico. E com certeza, é algo que não é de agora da pandemia, mas do mundo moderno, de como tudo avança mais rápido do que somos capazes de acompanhar.
Eu acho que você vai gostar muito da leitura, me fez muito bem e meio que, além de eu querer que todo mundo leia (ehehe), fico sempre voltando e lendo uma coisinha ou outra. Está quase virando um exemplar de cabebceira.
ahaha obrigada, fico feliz que tenha gostado!
São uns chocolatinhos envoltos em uma casquinha tipo do recheio de Sonho de Valsa, sabe? ehehe
Obrigada pelo carinho e pela visita!
xoxo
Rê
Mayara Esteves
Eu ia perguntar se eram sonhos de valsa sem casquinha, rs.
Mayara Esteves
Esse parece ser daqueles livros que a gente lê e passa dias absorvendo, entendendo, descobrindo e depois quer que o mundo leia com os nossos olhos e entenda o que entendemos. Esse assunto deveria ser mais debatido, ás vezes valorizamos muito mais as pessoas que estão do outro lado da tela, passamos tempo compartilhando causas e não fazemos nada fisicamente de verdade, nem pelas pessoas próximas. A internet é maravilhosa, mas não deve ser mais valorizada que as coisas reais e as pessoas que amamos.
Mayara Esteves
@amayesteves