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O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares ♥ Ransom Riggs

Resenha de O Lar da Srta. Peregrine para Crianças peculiares de Ransom Riggs, publicado pela Intrínseca.
Sobre Ransom Riggs

Ransom Riggs cresceu na Flórida, mas agora reside na terra das crianças peculiares, Los Angeles. Ao longo da vida, formou-se no Kenyon College e na Escola de Cinema e TV da Universidade do Sul da Califórnia, além de fazer alguns curtas-metragens premiados. Nas horas vagas é blogueiro e repórter especializado em viagens.

Sinopse de O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares

Jacob Portman cresceu ouvindo as histórias fantásticas que o avô, Abe, contava. Na época da Segunda Guerra Mundial, o avô havia morado numa ilha remota, num casarão que funcionava como abrigo para crianças. Lá, Abe convivera com uma menina que levitava, uma garota que produzia fogo com as mãos, um menino invisível… Entretanto, todas essas histórias foram perdendo o encanto à medida que Jacob crescia. Até que, aos dezesseis anos, tudo volta à tona para se provar real.

Abalado com a morte misteriosa do avô, Jacob decide ir à tal ilha para tentar entender as últimas palavras de Abe: “Encontre a ave. Na fenda. Do outro lado do túmulo do velho.” Ele encontra o casarão em ruínas, mas, ao passar por um túnel subterrâneo, o menino se vê em outra época, décadas atrás: em 3 setembro de 1940. Nesse lugar protegido no tempo, ele conhece crianças com habilidades peculiares e encontra as respostas para todas as suas perguntas. Mas o fascínio inicial logo se transforma em uma luta para sobreviver e salvar a vida de seus novos amigos.

O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares

Para você, o que é ser peculiar? A palavra nos remete a algo específico, a algo próprio de alguém ou alguma coisa. Talvez, em nossa mente, também remeta a algo um tanto quanto diferente, estranho, quem sabe. E, considerando a noção que o termo peculiar foi adotado por Ransom Riggs em O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares, eu devo dizer que sim, peculiar é alguém que carrega algo inteiramente seu, totalmente diferente do todo. Fora do comum.

Essa não foi a minha primeira experiência com essa leitura, li pela primeira vez em 2016, na edição da Leya, brochura (mas tem também uma edição em capa dura, na cor lilás), no furor que havia para o lançamento da adaptação cinematográfica, que estreou em setembro daquele ano. O furor do filme não foi muito alcançado por aqui… rs Mas a leitura, guardei com carinho. Ao longo dos últimos anos, a série foi sendo lançada, eu querendo ler e, esse ano, finalmente resolvi que leria a série.

“Tendemos a nos apegar aos contos de fadas até a fantasia cobrar um preço alto demais – o que, para mim, aconteceu no segundo ano, no dia em que Robbie Jensen arriou minha calça na frente de uma mesa cheia de garotas e disse que eu acreditava em fadas.”
Resenha de O Lar da Srta. Peregrine para Crianças peèculiares de Ransom Riggs, publicado pela Intrínseca.

Aqui, em O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares, vamos conhecer Jacob. Um garoto qualquer, vivendo uma vida qualquer. Alguém que detesta o emprego na rede de supermercado da família, que tem um único amigo, pais um tanto quanto distantes e uma única relação estreita em sua vida: a que existe entre ele e seu avó Portman.

Portman já é outra história, apesar do próprio filho, Franklin não o ter em alta conta, é alguém que viveu atormentado por fantasmas da guerra. Mas não apenas isso, é alguém que conta para Jacob histórias fantásticas do lar em que viveu antes de se alistar. O lar era comandado pela Srta. Peregrine, um lugar maravilhoso, mágico, mítico. Onde doenças e velhice não alcançam ninguém, onde uma garotinha é capaz de levitar, uma outra lançar chamas com as mãos e tem um garoto que é completamente invisível. Bem, isso são apenas algumas das peculiaridades.

“Quando você nunca recebe permissão para entrar na casa, acaba parando de bater à porta.”

É claro que Jacob, no auge de seus 16, já não acredita nas histórias do avó faz tempo, mas as coisas tomam um rumo diferente quando ele se depara com um evento traumatizante: ao visitar o avô, se depara com seu corpo ensanguentado. E, como se isso não bastasse, nada menos que um monstro em fuga do local do crime.

Daí, como diriam, é só ladeira abaixo. Um monte de remédios, pesadelos incessantes, um medo incorruptível, ansiedade, estresse, paranoia, e sessões intermináveis com o terapeuta Dr. Goulan. Jacob até quer se convencer de que não viu realmente um monstro naquela noite, mas a questão é que as últimas palavras de seu avô não saem da sua cabeça: “Encontre a ave. Na fenda.” Afinal, o que diabos isso quer dizer?

É assim que ele parte numa jornada ao lado de seu pai para uma ilhota londrina, Cairnholm. O lugar parece parado no tempo, mas nada que indique a vida que seu avô descrevia. Mas, seguindo pistas do passado, ele será levado até um mundo atemporal. Um em que ser peculiar é o comum. Parece uma prece atendida que Jacob nem sabia que havia pedido. O detalhe é que, como todo mundo é feito de luz e trevas, as figuras assustadoras que já povoaram seus pesadelos após a morte de seu avô, estarão mais próximas do que nunca.

A narrativa de Ransom Riggs

É engraçado como uma releitura tem um sabor bem diferente para a gente. Creio que, se ler o mesmo livro, anualmente, sempre terei impressões novas, descobertas que se revelam sob meu novo olhar, já que mudamos o tempo todo.

Foi interessante perceber como a narrativa de Riggs tem um tom maduro, que talvez não se espere de um adolescente. Mas a parte que faz com que tudo se encaixe é que, enquanto lemos, temos a sensação de que um Jacob mais velho, sábio, ciente dos percalços pelos quais passou, tanto quanto dos erros que cometeu, é quem nos conta a sua história.

Ao mesmo tempo, percebi que a parte inicial da história me pareceu delongada em excesso em alguns pontos, como se a introdução pudesse ser um tanto quanto mais enxuta. E não me recordo de tal sensação na primeira leitura. Mas, depois de certo ponto, a leitura fluiu bem, e foi bom revisitar o lar da srta. Peregrine, que me recebeu de braços abertos.

“A composição da espécie humana é infinitamente mais diversa do que a maioria das pessoas sequer suspeita – começou ela. – A verdadeira taxonomia do Homo sapiens é conhecida por poucos. A partir de agora, você será um deles. Basicamente, é uma simples dicotomia: existem os coerfolc, a imensa massa de pessoas normais, que compõe o grosso da humanidade, e existe o filo oculto, ou Cripto-sapiens, se preferir. São o que chamamos de syndrigast, ou “espírito peculiar”, no idioma venerável de meus ancestrais.”
As mensagens de O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares

Uma das coisas mais interessantes dessa história é que, abertamente, ela é sobre crescimento, independência. É a história da descoberta de Jacob, tanto quanto de sua percepção e aceitação da própria peculiaridade. Aceitar que somos como somos, que essa é a beleza da vida é uma mensagem e tanto, inclusive. É perceber que o extraordinário, o peculiar, está ao nosso redor, que é alcançável, que faz parte de nós, é maravilhoso.

E, além do que a história nos declara abertamente, há também o que ela deixa sob a superfície: a relação entre pais e filhos, a relação que temos com os mais velhos. É interessante como, com o passar dos anos, é habitual dizer que alguém não está em seu juízo perfeito. “Ah, é por causa da idade” e assim foi diminuída a importância da narrativa e da vivência de algum idoso. Mas, será que é mesmo essa a velhice que queremos para os nossos pais, avós, bisavós. Será a velhice que desejamos para nós mesmos?

“Éramos astronautas flutuando em um universo sem estrelas.”
Resenha de O Lar da Srta. Peregrine para Crianças peculiares de Ransom Riggs, publicado pela Intrínseca.

Ao mesmo tempo, vemos duas teias esfareladas, que ecoam no tempo: a relação de Portman com seu filho Franklin, a relação de Franklin com seu filho Jacob. Mas, um laço que foi formado entre Portman e Jacob, não foi suficiente para restaurar o que a geração anterior enfrentou. E é assim que a vida costuma seguir, e nos questionamos, por que algumas relações são mais facilmente estreitadas do que outras?

Agora, retornando para a parte fantástica da história, ela é um prato cheio: temos peculiaridades bem “comuns”, do tipo que se encontra na maioria das histórias em quadrinhos, mas há também alguns truques criativos do autor, assim como uma história bem planejada e interligada. E, ao abrir as páginas, é bom se preparar para aventura, viagem no tempo, romance, mistério e, sem duvidas, muitas peculiaridades. E não deixe a boca aberta, pode entrar alguma abelha.

O Lar da Srta. Peregrine para Criança Peculiares é uma estreia – e tanto – de Riggs não apenas como seu primeiro romance, mas também para abrir as portas para a série mais peculiar que já se ouviu falar!

A Série de Livros Peculiares: ordem de leitura e títulos já lançados pela Intrínseca

O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares (Livro I) lançado 12/11/16

Cidade dos Etéreos (Livro II) lançado em 05/02/16

Biblioteca de Almas (Livro III) lançado em 19/08/16

Contos Peculiares (coletânea de contos e fábulas) – 03/09/16

Mapa dos Dias (Livro IV) lançado em 15/10/18

A Convenção das Aves (Livro V) lançado em 24/03/20

Livro VI: ainda sem título e data de lançamento

Resenha de O Lar da Srta. Peregrine para Crianças peculiares de Ransom Riggs, publicado pela Intrínseca.

Li um pouco sobre a série no site da Intrínseca e, ela escrita como uma trilogia: O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares; Cidade dos Etéreos e Biblioteca de Almas. E, claro, tem o extra Contos Peculiares. Já em 2018 foi lançado Mapa dos Dias, que dá início à uma nova fase da série. Agora em 2020, chegou A Convenção das Aves.

Os livros da série são numerados, mas a dúvida geralmente é em relação ao Contos Peculiares, uma edição que reúne contos do folclore peculiar. É possível lê-lo primeiro, sem conhecimento prévio de O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares, mas acredito que isso pode tirar um pouco da magia da história do Lar, e ao mesmo tempo, deixar o leitor um pouquinho perdido. Assim a sugestão que fica é que ele seja lido, após o primeiro livro, em diante. Talvez, o ideal mesmo, seja ler após o terceiro livro, para que não corra o risco de ter spoiler de qualquer destas histórias no livro de Contos. Já li algumas coisinhas dele e percebi que já sei o destino de um personagem, com base nele, então, quem foge de qualquer tipo de spoiler, recomendo ler depois do terceiro.

Resenha de O Lar da Srta. Peregrine para Crianças peculiares de Ransom Riggs, publicado pela Intrínseca.
Aleatoriedades

Enquanto eu falava da releitura desse livro lá no Instagram do Retipatia, algumas pessoas me disseram que parecia ser uma série de terror. Bem, temos alguns momentos mais tensos, e as fotos podem causar algumas sensações variadas em seus observadores, mas a fantasia de Riggs está longe de ser terror. O mesmo aconteceu com o livro A Chama de Ember da Colleen Houck, que também é fantasia, leve e divertida, mas que, pela capa, várias pessoas acreditavam ser uma história de terror.

A garota peculiar da foto em preto e branco que aparece aqui, é a minha mãe. Apesar da foto não ser exatamente diferentona como as do livro, achei que combinou com tudo o mais… rsrs A que tem duas crianças, são meus irmãos, a que é uma paisagem, achei em casa, mas não faço ideia de onde foi tirada…

O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares foi recebido em parceria com a Intrínseca!

Que a Força esteja com você!

xoxo

Retipatia
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  • Vazio Na Flor

    Eu já me surpreendo com suas fotos todos os dias e nunca me canso de elogiar. Pois você gasta um tempão só pra nos deixar feliz e oh, isso não tem preço!!!Obrigada de coração!
    E hoje ela conseguiu encaixar até a mãe e os irmãos(queria ter sua mente, juro rs)
    Eu tenho um carinho muito especial por esse livro e o segundo e terceiro que tenho. Ainda preciso dos outros dois, mas são livros lindos e não falo esteticamente não.
    Por isso, entendo um pouco dos sentimentos que essa releitura te trouxe. É adentrar nesse universo peculiar novamente, mas agora, já com uma pontinha de “sei o que vou encontrar” e mesmo assim, ser surpreendida novamente!
    Adorei!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor(@vazionaflor)

    responder
  • Emerson

    Parabéns pela resenha tão bem detalhada. Tenho os três primeiros livros. Estou terminando o primeiro e achei bem interessante.

    Bom fim de semana!

    OBS.: O JOVEM JORNALISTA está de volta com novos posts. Não deixe de conferir!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

    responder
  • Fabiana Oliveira

    As fotos ficaram lindas e adorei suas unhas coloridas!
    Eu assisti o filme há alguns anos e eu adorei e disse que iria
    comprar o livro e ler todos, mas estou postergando até hoje.
    Fabiana Oliveira | @fabiananenes

    responder
  • Mayara Esteves

    Eu sou doida pelo primeiro livro faz muito tempo, mas me desanima muito essa onda de séries longas, eu desanimo de ter que esperar muito, pois eu gosto de ler tudo de uma vez só. Eu adoraria que fossem divididos apenas em no máximo três livros ou em um calhamaço. No princípio eu também achava que eram contos de terror, pela aura das fotos e tals, mas fui acompanhando resenhas e vi que se tratava de fantasia.

    @amayesteves

    responder