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Amor Expresso ♥ Adriana Aneli

O movimento já é padrão, colocar a água para ferver, o apito soar, pó no coador, cheiro que toma todos os cantos da casa, vai para a garrafa, despeja na xícara. Saborear. É com gosto e aroma de café que Adriana Aneli presenteia o leitor com Amor Expresso, um aglomerado de 50 contos publicado pela Editora parceira Scenarium Plural…

Amor Expresso

Autora Adriana Aneli

Editora Scenarium Plural

“Liberdade é uma coisa boa. Liberdade é necessária para se continuar vivendo.”
Amor Expresso

Sobre a Autora

Adriana Aneli é escritora e dramaturga do grupo Baila Comigo. Membro Correspondente da UBE-RJ e Coletivo Marianas. Idealizadora do projeto Tempestade Urbana, comunidade que reúne artistas e trabalhos de várias partes do mundo. Ao lado de Chris Herrmann, é editora da página literária Boca a Penas. Formada em Direito pela USP e pós-graduada em Direito de Família e Mediação de Conflitos Familiares.

“Pousou em sua coxa a xícara quente. Asa que sabia voar. Quando a xícara insistiu, deixou que lhe tocasse os lábios.”
Amor Expresso

Sinopse

Temos pressa. Nada, ninguém nos espera. E se temos tempo apenas para um café, é a partir dele que Amor Expresso conta suas histórias.

A urgência aqui marca também a escolha da linguagem: são 50 minicontos, frases curtas, em que cenários e personagens se renovam numa espiral de humor e melancolia, sem nunca escapar de dois componentes comuns: o café e o afeto – aqui entendido como aquilo que “nos afeta, às diversas manifestações das pulsões, não só as do amor, mas também as da agressividade. O afeto é o que nos emociona, o que nos move, e que ganha no encontro com o Outro, igual ou diferente de si mesmo, a qualidade de sentimento: o que dá sentido às relações” (Groeninga, 2015).

“Pediu café puro, sem leite, sem açúcar. Desceu amargo em sua garganta o cappuccino que o casal na mesa ao lado tomava de mãos dadas.”
O Milagre do Pão

Com ilustrações da artista plástica Cristina Arruda, casa conto revela instantâneos de encontros e desencontros, que podem acontecer numa cafeteria, no meio da rua, entre amantes ou vizinhos, em festas ou na solidão.

Para o apreciador de café, as características mais importantes da bebida são: corpo, aroma, acidez, doçura e amargor. Notas breves e diversificadas, que, ao final, persistem no pensamento do leitor: doces ou amargas.

Café Expresso em Amor | Amor Expresso em Café | Expresso Amor em Café | Expresso Café em Amor

Não é segredo que café, pra mim, de gostoso, só o cheiro. Talvez ocorra um ‘ah, que sacrilégio‘ nesse momento, e talvez, de fato o seja. Detalhes à parte, sempre apreciei o ritual, o cheiro – sempre o cheiro – a necessidade, a cultura, o comércio, a beleza, o momento e a intensidade do café. Tanto que café poderia ser adjetivo, já que é, praticamente ou totalmente, modo de vida: ‘acordei bem café hoje’, ou, quem sabe, ‘ela sempre foi bem mais café que todas as outras garotas’. Sem dúvidas seria um adjetivo revestido de conotação positiva, ainda que crítica, ‘ele sempre foi em demasiado café sem açúcar‘, seria construtiva, afinal de contas, amargor também tem seu lado bom.

“sorriu: há sempre um pouco de paz em cada xícara de café com leite.”
Um Dia Perfeito para o Peixe-Banana

Assim, nesse clima, sem saber se café é ou não adjetivo, se pode virar até verbo e ser conjugado ao meu bel prazer, eis que entra o amor expresso em café. Ou o café expresso em amor da Adriana Aneli, em cada conto que compõe Amor Expresso. O primeiro deles, que dá título à obra, já chega e mostra ao que veio, dá o sabor e faz sentir o aroma. E, a partir de então, é o enlace com todos os tipos de café: coado, podendo ser adoçado com amargura ou reencontro; expresso que pode vir acompanhado de uma fatia de bolo ou de uma desilusão; com leite, que pode ter chocolate ou promessa para vida inteira; latte, para deixar bigode ou descobrir traição…

“Pediram café curto. Não adoçaram. O dela chegou frio, o dele fumegava. Delicadamente, ele trocou as xícaras e sequer percebeu quando ela excluiu todos os outros nomes da lista de contatos.”
Teresinha

Passei por casas, cafés, encontros de amigos, reencontros, conhecidos desconhecidos, salvação, amor novo e latente, ambiente de trabalho, primeiro encontro e bares. Mas, especialmente, passei por pessoas e água fervente, pelo moer dos grãos, pelo jato do expresso, pelos mínimos buracos do coador de papel, pelo açúcar que tempera, pelo sal do engano e pela combinação do leite e do chocolate.

“Ela não sabia, mas estava pronta para descobrir, pensou, enquanto num toque de mãos uma década inteira desaparecia entre eles.”
Encontros & Desencontros

E, como se tudo isso não bastasse, tem a deliciosa combinação do título, que une amor, personagem central dos minicontos, mais café expresso. Uma curiosidade é que, o que conhecemos como café expresso vem, na verdade, de espremer ou exprimir e não da ideia de rápido, como se pode pensar (eu mesma sempre associei ao tempo de preparo e não ao modo), e, por isso, poderia ser chamado de café espremido, ou, no termo italiano, café espresso.

“Com uma resistência acomodada no tijolo, uma caneca e pó de café, era ele quem devolvia a todos um pouco de humanidade.”
A Metáfora das Asas

Voltando ao nome, até brinquei aqui no subtítulo da resenha com o nome do livro, amor expresso virou café expresso em amor, amor expresso em café, expresso amor em café, expresso café em amor, porque, em cada página, das frases curtas aos contos pequenos, é essa brincadeira que permeia as palavras, esse jogo de café misturado ao amor, que encanta e faz rimar uma coisa com a outra.

“Amante da literatura acreditou que bastavam: caneta, moleskine e uma xícara de café durante horas sobre a mesa do bar.”
Um Amor e Uma Cabana

A autora, que já me conquistou com a leitura de A Construção da Primavera, me propôs nova viagem: fiz café em cada conto, e me tornei um pouco café também. Beberiquei a xícara, deixou marca de batom, senti, por vezes, o amargor, em outras, o adocicado. O aroma cobriu o corpo inteiro e afastou a brisa fria do outono. Vi os grãos torrarem e a espuma dizer que me ama. E ficou aquele restinho na xícara, a dose do santo, já gélida, mas que casou com os restos de pó de café jogados na lixeira, com a ausência na mesa do lado da cafeteria, com a separação da cafeteira e com o vazio de quem pressupõe o café com adoçante.

“a esposa odeia cheiro de café. O marido levava vida secreta na padaria da rua de baixo. A mancha na calça denunciou a traição.”
Até Que a Vida Nos Separe

A narrativa tem o gosto do café, daquele bem balanceado, que indivíduo algum colocaria defeito, mesmo os que, como eu, não são cafezeiros. E, se pra fazer café precisa de ritmo e ritual, Adriana tem de sobra, sem fórmula secreta, mas com carinho, amor e prosa boa em cada linha escrita.

“Ela ainda ensaiava um sorriso, quando o golpe veio fatal… então ele levantou e saiu da sua vida. Ela tomou um café. Salgado e frio.”
O Sal da Terra

Mais Alguns Expressos…

“Queria café. Café, moço. Perdeu o juízo, mas não a vontade. Só queria um copo de café quente, muito quente, tão quente que descesse pela garganta queimando, queimando, quente… até aquecer a ponta dos dedos nesta manhã gelada.”
O Pescador de Ilusões

“Escritor independente busca editor ousado, atencioso, companheiro, interessado em múltiplos gêneros literários para bate-papos em café ou algo mais. Sigilo absoluto.”
Café da Manhã em Plutão

“Aos 70 anos cometeu a sua primeira rebeldia: livrou-se do coador de pano e comprou uma cafeteira de extração francesa… cafeinada e muito sexy.”
Gato preto, Gato branco

“Escapou por um milagre e um dia venceu a dependência… Mas contam que, secretamente, ainda coleciona recortes sobre os benefícios do café para o coração humano.”
Bicho de Sete Cabeças

Aleatoriedades

  • Mais uma edição maravilhosa recebida da Scenarium Plural, uma edição artesanal de qualidade, com aquele toque de aconchego e personalização que traz sempre um tom mais especial para a leitura.
  • O livro é todo ilustrado pela Cristina Arruda, que é escritora, artista plástica e compositora. A imagem linda da Deusa do Café (ahaha que eu tô dizendo que é tá, não tá escrito em lugar algum), tanto quanto as 50 ilustrações que acompanham cada conto, fazem composição perfeita com o livro.
  • No fim da edição temos ainda a Cafégrafia, que indica as origens dos nomes de cada um dos 50 contos, que variam de músicas, a documentários, filmes e poemas.
  • As fotos foram caseiras, o pão de queijo foi saboreado de verdade, assim como o chocotone fora de época. O café? Fiquei devendo, mas minha mãe saboreou por nós duas. Teve ainda direito à mancha real de café na toalha, causada sem querer pra ‘fabricar’ a marquinha de xícara que só deixou meu livro mais especial (ainda que possa parecer uma blasfêmia… rsrsrs).
  • Amor Expreso é o terceiro livro da Scenarium Plural que ganha resenha aqui no blog, os anteriores foram: Vermelho por Dentro da Lunna Guedes e Diário das Quatro Estações: A Construção da Primavera, também da Adriana Aneli.

O livro Amor Expresso e outros títulos da Editora Scenarium Plural podem ser adquiridos diretamente pelo site é só clicar aqui para acessar!

Que a Força esteja com vocês!

xoxo

Ouvindo: o silêncio barulhento dos meus pensamentos…

Comente este post!

  • Adriana Aneli

    Mas, menina, gostando ou não de café, você é fantástica! Imagens incríveis, olhar generoso. Feliz demais com as suas palavras!

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    • Retipatia

      Oi Adriana!
      Ahhh assim eu derreto! ahahaha E olha que nem sou torrão de açúcar que adoça café… Obrigada pelo carinho, é um prazer ler cada palavrinha sua, as daqui e as dos livros! <3
      xoxo

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  • Luciana – Ciana Andrade

    Olá Re! Quanto tempo hein. Andei sumida por muitos motivos e agora que o baby já chegou estou tentando me organizar para pelo menos depois do resguardo retomar ao blog e também voltar a interagir com os blogs que nessa caminhada eu aprendi a amar. O seu com certeza está entre eles viu.
    Olha eu amei a resenha, adoro livros de contos. O grupo Baila Comigo tem grandes e realmente a Adriana é muito talentosa. Espero ter a honra de ler também, fiquei apaixonada por tudo o que você mostrou.
    Bjs

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    • Retipatia

      Oi Ciana!
      Muito tempo mesmo!!! Espero que esteja tudo bem com você e o baby! Muita saúde pra vocês! <3 Bom te ter de volta!
      Obrigada pelo carinho, fico feliz demais em saber que gosta aqui do meu cantinho! <3
      Esse livro é maravilhoso mesmo, e se gosta de contos tenho certeza que vai apreciar a leitura! E a Adriana, já me conquistou de cara com A Construção da Primavera e, agora, com Amor Expresso, ela é realmente incrível! <3
      Obrigada pela visita!
      xoxo

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  • Patricia Monteiro

    Que livro mais amoroso! Se tem uma coisa que amo é café, não vivo sem! Outro amor é a literatura, e livros no formato de contos me agradam demais. Então nem preciso dizer que amei essa proposta, encontros que se passam em cafeterias podem mesmo render ótimas histórias! O projeto gráfico é um atrativo à parte, está belíssimo

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    • Retipatia

      Oi Patrícia!
      Own é amoroso mesmo, como você falou, a combinação do tema, a roupagem que o livro ganha, os sabores de cada conto. Tenho certeza de que, se gosta de café e de contos, deveria aproveitar e degustar a leitura, eu me apaixonei! <3
      Obrigada pela visita!
      xoxo

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  • Kimberly Kelly

    Que resenha mais amorzinho, Rê!
    Fiquei encantada com a sua descrição do livro e deu muita vontade de ler.
    Nào posso esquecer de elogiar suas fotos maravilindas!
    Beijinhos, Kim.

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    • Retipatia

      Oi Kim!
      Own obrigada, feliz que tenha gostado!!! Esse livro é mesmo um amorzinho e vale a pena a leitura! Feliz que gostou das fotos também! <3
      Obrigada pela visita! <3
      xoxo

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  • Obdulio Nunes Ortega

    Barista-resenhista de primeira, Retipatia, você soube tirar esse Café Expresso com maestria e expressividade. Deu vontade de tomar goles dele pela terceira vez…

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