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Septum ♥ Lunna Guedes

Memórias tempestuosas transformadas em palavras, sentidos e sentimentos. Momentos desenhados à mente pelas palavras que reverberam em Septum, que diz sobre a autora-escritora-personagem, tanto quanto sobre a pessoa-leitora.

Septum

Autora Lunna Guedes

Editora Scenarium Plural Livros Artesanais

“vivi centenas de partidas e dúzias de chegadas, como se meu corpo fosse a plataforma de uma estação e os lugares… um comboio a passar por mim…”

Sobre a Autora

lunnaguedes… sagitariana. degustadora de cafés. uma flecha em voo rasante. colecionadora de silêncios. não gosta de fazer compras. detesta dias de sol. ama dias de chuva. não aprecia o verão tropical. ama o outono em qualquer lugar. escreve por escrever somente. seu único compromisso é com seus abismos, onde salta para sentir a sensação de queda, sem pouso. adestradora de pretéritos e desafiadora de futuros… a direção na qual a ponta do grafite avança. sabe que seus escritos são obras inacabados… nunca prontos. ponto final é uma coisa incompreensível. gosta de vírgulas e exclamações.

Sinopse

…nesse diário — parte integrante do projeto diário das 4 estações — Lunna alimenta cada uma das páginas — como se fosse seus cadernos de capa vermelha — com notas, esboços, rascunhos, rabiscos… quase que diariamente — com pretéritos… escolhendo o que contar, piorar ou melhorar de suas vivências reais ou imaginárias. É uma verdadeira ode ao seu existir literário…

Sete… Septem… Setembro… Septum, do latim ‘aquilo que contém’ — quem conhece esta artesã das palavras sabe bem que se encontrará lá dentro, em cada linha de cada página, porque a colecionadora age assim… na calada da noite, nos gritos do dia, transformando pessoas em arte”. [Adriana Aneli]

Septum – Diário das Quatro Estações

Palavras que podem remeter primeiramente, ao agosto. O atual oitavo mês do calendário, que vem logo seguido daquele sete, sétimo, setembro, septum, que já foi, como o nome indica, sucessor do sexto mês. Sucessivos, assim como a constante tempestade que trouxe e que é a persona-personagem – e não intempestiva, como ousaram nomeá-la outra vez.

“No quintal de árvores de galhos nus… as crianças ‘embrulhavam’ a neve para suas guerras sem consequências. Cresciam sem se importar com a segurança da inconsciência do que lhes acontecia de fato. Tentavam driblar o tempo, iludinod-o… mas não se davam conta de que eram iludidos por ‘embrulhos coloridos’ e pela soma passageira da infância na pele.”

“C. me disse anos mais tarde, durante um chá: ‘você nasceu para a escrita. Sabia exatamente o que fazer. Tinha calma, coordenação e total controle dos movimentos’.”

Não que o mais importante da narrativa sejam as datas ou a quantidade de trovoadas, são mais as sensações que marcam os momentos da persona que nos detalha acontecimentos como se proseasse com sua própria mente. Adentramo-nas, é claro, e passamos por sua infância, assistimos as imagens de suas memórias até a vida adulta, das ruas europeias até as brasileiras.

“Ela fechava os olhos apenas para enxergar uma realidade que só existia no fundo de si.”

“Mas ao ler um dos livros favoritos de C., me deparei com um poema – funeral blues – que ficou em mim quase como uma segunda pele e fez surgir em mim a questão: o que leva uma pessoa a praticar o ato da escrita?”

E passamos pelo estado de espírito que é São Paulo, cheio de cheiro e tons de cinza, cheio de barulhos e curvas próprias. Vemos com os olhos da escritora do diário, vemos com olhos de quem já caminhou uma ou outra vez por lá e pulou uma ou outra poça de chuva no passeio.

“esta cidade tem muitos prédios e as pessoas custam não entender que você não quer ser como livros em livrarias novas – empilhados uns por cima dos outros.”

“O humano é um ser em construção – disseram-me certa vez… acontece que quando a construção é falha, a estrutura terá problemas em algum momento. As rachaduras aparecerão.
E qual a solução?
Desconstruir… um processo lento – que pode levar uma vida inteira, mas que em algum momento deverá ser feito. É inevitável, acredito eu.”

O gosto principal não é só de chuva, de café coado na hora, do balançar das pernas da criança que, sentada na cadeira, não alcança o piso do chão da cozinha em que vê os hábitos da própria casa se desenrolarem. O gosto de Septum é de vida, de experimentar, de sentir as texturas da costura da calça, roçar o dedo na linha do muro do casarão abandonado, de bater um longo papo como quem descobre um mundo inteiro e absolutamente nada de novo.

“Percebo que a minha escrita acontece em cada passo dado junto às calçadas de São Paulo… mas nem sempre ela alcança o papel, como se preferisse o aconchego das esquinas onde mendiga, implora… e adormece emaranhada em contradições.”

“Há pessoas que não nos querem saber. Querem apenas que a gente se deite no molde que trazem. E se não o fazemos, esperam pela mudança que devemos prover em proveito de tal abençoada amizade-amor, ou seja lá que nome dão a isso. Por isso, desde sempre, é que eu prefiro os livros. As vidas que se encerram em páginas são possíveis de interpretação. O autor sabe disso e conscientemente entrega ao mundo a sua história, para o julgamento alheio. Escrever é não se importar, enquanto viver é aprender a não se importar.”

Lunna Guedes faz de Septum lugar de rememoração, de encontrar seu eu do passado e refletir o presente que logo se torna pretérito. É por suas vivências que nos mostra o que é escrever, o que é ser escritora de si e de histórias suas-alheias. Como é criar além da figura que vemos no espelho da parede e daquele que surge ao fecharmos os olhos. É mais que reinventar-se e aceitar-se, é ver e reinventar o outro, identificar, entre tantas possibilidades, aquela  criatura que espera ser encontrada.

“Você escolhe as melhores palavras, forma as frases com todo o cuidado, tentando a sonhada perfeição. Escolhe o que fica e o que parte. E no fim… não consegue um texto que agrade aos olhos – primeiro – e ao cuore depois…”

“As palavras são pontes… que nos ligam ao abismo que somos. Escrever é percorrer esse caminho frágil e perigoso… apenas de ida, nunca de volta.”

Em Septum, sentei na cozinha da Nona, senti o cheiro do seu café, folheei livros e caminhei em inúmeras ruas de São Paulo, mas fiz bem mais. Foi exercício de decifrar a escrita do outro, aquele que a mente e alma precisam fazer vez por outra. Que precisam arejar as ideias, ainda que não saibam disso. Enveredei-me por versos até então desconhecidos, ergui olhar para palavras e gestos já conhecidos, construí, desconstruí ideias e silogismos. Apaguei o quadro e desenhei uma história nova. Tem sempre uma forma de se estar menos errada na vida quando se abre para tudo que se é, ainda que, de um modo ou de outro, o processo de descoberta de si, seja nada menos que cotidiano. Digo prazer, sete vezes, ao abrir os olhos e ver a figura que surge no espelho pelas manhãs.

Notas de Rodapé

  • Eu e minhas inconstâncias… iria postar essa resenha numa quinta. A semana se embolou e mudei para sexta, depois pensei… Septum não pode ser em 31 de agosto, precisa ser no primeiro daquele que já foi o sétimo mês do ano. Acho que era para ser assim…
  • O livro Septum da autora Lunna Guedes foi recebido em parceria com a Editora Scenarium Plural – Livros Artesanais, que agradeço mais uma vez pela acolhida. A edição tem o primor do trabalho artesanal que eles realizam e, sem dúvidas, sempre acrescenta um ponto a mais na experiência da leitura.
  • Outros livros da editora que já passaram por aqui: Vermelho por Dentro, também da Lunna Guedes; Amor Expresso, da Adriana Aneli; A Construção da Primavera, da Adriana Aneli e REALidade do Obdúlio Ortega.
  • A primeira ideia para as fotos desse livro veio enquanto lia um trecho do livro. Fiquei devendo rodelas de laranja, mas, descobri que tulipas vermelhas são apreciadas pela autora, então, acho que já vale. E, o chá em questão, também tinha gengibre: “chá com gengibre, lascas de laranja e uma pilha de livros” – pág. 71

Septum e os outros livros da Editora, estão disponível em Scenarium Plural.

“E se para eles, o pecado é qualquer coisa de certo e errado – para mim são sete possibilidades. É a famosa ideologia do ‘septum’ que desde sempre me fascina. É o meu número. O meu tom. A minha epígrafe e será de certo o meu epitáfio.”

Que a Força esteja com vocês!

xoxo

Ouvindo: So Many Things – Sarah Brightman

Comente este post!

  • Lunna

    Eu vivi um último dia desse agosto (já esgotado) sem a consciência de setembro no dia seguinte (esse hoje que acena) e de repente, estava lá na cozinha a misturar ingredientes e a pensar palavras quando ‘te encontrei’ a avisar-me desse meu septum e desse setembro.
    Fui e voltei de mim, de ti, de ‘nosso lugar’ na Paulista, a livraria onde lhe encontrei e ganhei teu abraço. O café entre esquinas e os passos até lá. Há tanto para dizer, escrever, mas, às vezes, eu apenas me calo, respiro fundo e penso que viver é um abuso. rs

    Grata cara mia por esse colorido novo em meu september.

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    • Retipatia

      Oi Lunna!
      Eu gosto de te ludibriar com as datas, não é mesmo!? rsrsrs Talvez seja para causar expectativa, mas se algum dia eu não atendê-las, tenho certeza que paro com isso… ehehe
      Obrigada pelo seu carinho de sempre, pelas palavras, oportunidades. Pelo agosto e pelo setembro, por Septum e pelo abraço e conversa. Teremos outros mais, sem dúvidas!
      Obrigada pela visita!
      xoxo

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  • Fernanda Akemi Pedotte

    Olá!

    Que post maravilhoso!
    Adorei a resenha e as fotos ficaram incríveis.
    Senti tanto da Lunna a cada palavra e cada quote escolhido. Imagino a experiência fantástica com mais essa obra.
    Além da beleza e tudo cuidado com a edição. E claro, o carinho especial com as tulipas, minhas favoritas também.
    Amei!!! Amei!!!

    bjs

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    • Retipatia

      Oi Fernanda!
      Ah que delícia, feliz em saber que gostou! A Lunna tem uma escrita mesmo que é fácil de associar à pessoa dela e a leitura foi mesmo uma experiência fantástica!
      Que delícia que também gosta de tulipas, amei muito ter essas para fazer as fotos e alegrar o quarto! <3
      Obrigada pela visita!
      xoxo

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  • Ale Helga

    Uau!
    Muito curiosa e desejosa pelo livro!
    As fotos estão maravilhosas!
    Nada melhor que uma xicara de café para acompahar nossas leituras.
    Abraços
    Ale Helga

    responder
    • Retipatia

      Oi Ale!
      Ah Septum é mesmo maravilhoso! Feliz que tenha gostado das fotos também, confesso que prefiro um chá, mas entendo o amor pelo café! <3
      Obrigada pela visita!
      xoxo

      responder
  • Cilene Mansini

    Já esta na minha listinha de desenhos comprar pelo menos um livro escrito pela Lunna, daí vejo suas resenhas e só fico mais curiosa ainda. Adorei a resenha, adorei as fotos e desejei o chá rs.
    Beijos

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    • Retipatia

      Oi Cilene!
      Ah vale muito a pena a colocar todos dela na lista de desejos! A escrita dela me ccativa muito e fico feliz que as resenhas te ajudam a ficar mais curiosa! <3 O dia que der uma passeada nas bandas daqui vem que faço chá pra gente! <3
      Obrigada pela visita!
      xoxo

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  • Amável Casa

    A Lunna é mesmo um brilho estonteante em uma noite escura, que lindo livro este dela e que bela forma de descrever adorei a forma como você colocou as palavras e também as imagens muito carinhosas em lembrança de coisas tão pessoais para Lunna como a flor e o chá, assim como ela não dispenso o café mas amo chá da mesma forma então topo os dois rsrs. Essas palavras me tocaram “As palavras são pontes… que nos ligam ao abismo que somos. Escrever é percorrer esse caminho frágil e perigoso… apenas de ida, nunca de volta.”
    Pois estou em uma fase de expor meus pensamentos através das palavras escritas, coisa que antes fazia muito pouco ou quase nada. Adorei Bjinhos!

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    • Retipatia

      Oie!
      Sim, com certeza esse livro reflete bem esse brilho! ehehe Estou rindo da sua disputa entre café e chá, apesar de só gostar do segundo, aprecio muito a cultura do primeiro! Esse quote também foi dos meus favoritos, tocou profundo e refletiu o que sinto! Que bom que está a se aventurar na escrita, é sempre uma delícia se expressar dessa maneira! <3
      Obrigada pela visita!
      xoxo

      responder
  • Claudia

    Oi Renata!
    Eu AMO a escrita da Lunna e pelo que leio no Catarina, estou muito ansiosa para saborear este livro.
    As fotos ficaram ótimas e os destaques do livro, maravilhosos
    Com café ou chá, valem a apreciação.
    Beijos, querida

    responder
    • Retipatia

      Oi Claudia!
      Ah eu te entendo, é difícil não saborear o modo como ela tece as palavras! Feliz que gostou das fotos e dos destaques do livro! Foi difícil não colocar mais… ehehe
      Obrigada pela visita!
      xoxo

      responder
  • Juliana Sales

    A Lunna é uma escritora incrível! Sempre me perco nos textos dela. Gosto das reflexões que ela propõe, dos lugares no espaço e no tempo aos quais ela nos leva. Muitas vezes me identifico com os sentimentos/situações/lugares que ela descreve e mesmo quando isso não acontece fica fácil de enxergar tudo como se fosse pelos olhos dela, justamente pela forma como ela se exprime. Uma artesã das palavras, sua definição foi perfeita! Gostei muito do “clima” da sua resenha, as fotos e tudo mais. Ficou uma mistura bem interessante sua (na forma como você escreve suas resenhas) e da Lunna.

    responder
    • Retipatia

      Oi Juliana!
      Sim, a Luna sempre traz textos incríveis, uma escrita única, sem dúvidas! Também gosto muito que ela nos faça transportar para o lugar-estado das coisas independente de da identificação pessoal com a situação.
      Feliz que tenha gostada da mistura que a resenha trouxe, do meu estilo com o dela! <3
      Obrigada pela visita!
      xoxo

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  • Patricia Monteiro

    Ah que viagem maravilhosa é percorrer os caminhos da escrita da Lunna! Ela sabe usar as palavras de um jeito tão acolhedor, parece que somos transportados para dentro de suas lembranças. A resenha captou muito bem essa essência, as tulipas e o chá deram o toque especial, amei ❤

    responder
    • Retipatia

      Oi Patrícia!
      Ah é realmente isso, uma viagem maravilhosa! Essa resenha ficou com bem mais quotes do que de costume, porque precisa transmitir um pouco da magia da escrita dela, que nos leva pro lugar em que ela está/esteve. Feliz que tenha gostado da resenha e da composição das fotos! <3
      Obrigada pela visita!
      xoxo

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  • Ana Claudia

    Ah,eu me encantei com o (ré) conhecer a Lunna Guedes em sua resenha! As fotos incríveis e o estar com água na boca por esse livro que parece ma-ra-vi-lho-so. Parabéns mais uma vez!

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    • Retipatia

      Oi Ana Claudia!
      Ah que delícia esse (re)conhecimento! E feliz por ter gostado das fotos e, o livro, é mesmo maravilhoso!
      Obrigada pela visita!
      xoxo

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  • Ana Claudia Soriano de Angelo

    Uma escrita belíssima no livro de Lunna Guedes, ao que me parece, e que bem entrelaçou-se à sua resenha, que por sinal, muito bem elaborada, me guiou e me instigou a adentrar pelo mundo da autora.

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    • Retipatia

      Oi Ana Claudia!
      Ah feliz demais que tenha gostado e obrigada pela visita! <3
      xoxo

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  • Rita Moraes

    Gostei da sua postagem, sempre estou visitando seu blog e lendo suas postagens.. Seu blog está salvo em meus favoritos..

    Parabéns!

    Amo seu blog ❤️..

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    • Retipatia

      Oi Rita!
      Feliz que goste daqui e obrigada pela visita! <3
      xoxo

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  • Luana Souza

    A Lunna escreve muito bem, dá pra perceber isso pelos textos no blog dela. Fico imaginando o quão fascinante e quantas reflexões (sobre si mesma, sobre a sua coisas simples, sobre os outros…) devem haver nos livros delas. Achei o nome tão simbólico! <3
    A resenha me deixou curiosa, e as fotos ficaram um amorzin!
    beijos, amora.

    responder
    • Retipatia

      Oi Luh!
      Sim, a escrita da Lunna é incrível (apesar de que já sou bem suspeita pra falar isso… ehehe)! A leitura tem esse tom especial e o nome é realmente simbólico, e faz todo sentido durante a leitura!
      Feliz que tenha gostado das fotos! <3
      Obrigada pela visita!
      xoxo

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