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O Silêncio da Casa Fria ♥ Laura Purcell

Resenha do romance de horror gótico O Silêncio da Casa Fria, de Laura Purcell, primeiro publicado no Brasil da autora, pela DarkSide Books.

O Silêncio da Casa Fria pode ser percebido por todos os seus sentidos, cada pedaço de você irá arrepiar, indagar e querer descobrir os segredos que a Ponte guarda. Segredos que marcaram gerações de uma família com ranhuras que ultrapassam a sensatez, a lucidez e a sanidade. Bem-vindo A Ponte, bem-vindo a Fayford!

O Silêncio da Casa Fria (The Silent Companions)
Laura Purcell
Tradução Camila Fernandes
DarkSide Books | 2020 | 288p.
Disponível em Amazon
“O pânico aflorou em seu peito. De volta às mesmas três opções. Não dizer nada e ser considerada culpada. Destino: a forca. Não dizer nada e, por algum milagre, ser absolvida. Destino: o mundo exterior, frio e rude, sem nenhum remédio para ajudá-la a esquecer. Só lhe restava uma escolha: a verdade. Mas qual era a verdade?”
Resenha do romance de horror gótico O Silêncio da Casa Fria, de Laura Purcell, primeiro publicado no Brasil da autora, pela DarkSide Books.
Sobre Laura Purcell

Laura Purcell mora em Colchester com o marido e seu porquinho-da-Índia de estimação. O Silêncio da Casa Fria ganhou o prêmio WHSmith Thumping Good Read Award de 2018 e foi apresentado nos clubes literários Zoe Ball e Radio 2. Laura Purcell também já foi livreira, bem como escreveu outros romances: Queen of Bedlam (2014), Mistress of the Court (2015) e The Corset (2018).

Resenha do romance de horror gótico O Silêncio da Casa Fria, de Laura Purcell, primeiro publicado no Brasil da autora, pela DarkSide Books.
Sinopse de O Silêncio da Casa Fria

Quando Elsie perdeu o marido apenas algumas semanas após o casamento, achou que já tinha sofrido o suficiente para uma vida inteira. Praticamente sozinha em uma casa enorme e isolada, ela jamais imaginou que os companheiros silenciosos ― painéis de madeira que imitavam pessoas em atividades cotidianas ―, um dia, seguiriam seus movimentos com os olhinhos pintados. Muito menos que eles apareceriam por conta própria em cômodos aleatórios…

Com uma habilidade narrativa que transporta o leitor para a época vitoriana ― e suas densas neblinas, costumes peculiares, a tão presente discussão entre a ciência e o sobrenatural ―, Laura Purcell desenrola uma trama cheia de nuances enquanto Elsie vai abrindo as portas da casa para tentar desvendar o mistério dos companheiros ― e também do seu passado. O tempo, às vezes, demora a passar no silêncio da casa fria.

Com a atmosfera lúgubre típica das histórias de fantasma vitorianas, O Silêncio da Casa Fria honra os melhores contos góticos. A história de uma mulher confrontada com um medo irracional, que coloca em xeque sua própria sanidade. Estaria Elsie vendo coisas como forma de dar sentido ao luto? Ou realmente havia algo sobrenatural morando sob o mesmo teto que ela? Algumas portas devem permanecer trancadas.

O Silêncio da Casa Fria

Em primeiro lugar, acenda as luzes e, se possível, também algumas velas. Em segundo lugar, caso algum companheiro surja, não tire os olhos dele. Um único desvio de seu olhar pode ser fatal. Para você, é claro.

“As palavras ferviam em seu peito. As costelas doíam e os lábios formigavam perante sua força. Mas eram fantasmas, ecos de eventos passados. Coisas que ela nunca mais viveria.”

Elsie Bainbridge está a caminho da Ponte, a mansão de seu falecido marido que fica em Fayford: uma contrastante cidade decrépita em contraste com a cinzenta e atribulada Londres. Apesar de ir contra sua vontade, Elsie concorda em se hospedar, em companhia apenas de Sarah, prima de seu marido Rupert.

“Ela os havia enterrado tão fundo que agora só conseguia alcançar um ou dois. O suficiente para confirmar que não queria tocar o resto. Sempre que tentava recordar, ela os via. Os rostos horrendos bloqueando o caminho para o passado.”
Resenha do romance de horror gótico O Silêncio da Casa Fria, de Laura Purcell, primeiro publicado no Brasil da autora, pela DarkSide Books.

A casa reflete seus mais de duzentos anos de construção, sempre pertencente a família Bainbridge. Contudo, sua capacidade de ecoar os atos do passado é capaz de transcender o tempo, a madeira e a carne.

“A polícia encontrou os restos de quatro corpos. Duas das mortes já haviam sido registradas. São os outros dois que precisamos identificar.”

Assim, aos poucos, Laura Purcell nos leva num intrincado trio temporal: de um lado temos o tempo presente de Elsie, que tenta descobrir o que aconteceu a si diante de uma memória que parece não querer resgatar nada que lhe infrinja dor. Mesmo que Elsie tenha dificuldades para lembrar, é exatamente para resgatar sua memória que a segunda linha temporal chega, levando-nos para 1865, quando ela estava vivendo na Ponte.

“‘Estes me foram entregues em Amsterdã. São chamados de companheiros silenciosos.’ Ele pigarreou. ‘Esses holandeses, senhora, adoram um pouco de ilusão. Não são loucos só pelas tulipas. Eles têm caixas de perspectiva e comida falsa – até mesmo casas de boneca com mobília mais fina que a do palácio de um duque.'”

O detalhe é que não são apenas barulhos estranhos vindo do sótão fechado que atormenta a casa, além disso, uma história de perdas vai sendo revelada. E, quando Sarah encontra o diário da bruxa temida em Fayford, ou assim conhecida, Anne Bainbridge, o ano de 1635 começa a se desbravar.

“O encarceramento nunca era o verdadeiro castigo. Castigo eram as pessoas com quem se estava presa.”

Mas junto a isso, surgem também os companheiros, estruturas de madeira vindas da Holanda, pintadas com retratos realistas de pessoas que ficavam no sótão até então. Se um deles apareceu por acaso onde ninguém havia deixado, ou se lhe parecer que algum deles está fixamente te olhando, só pode ser um engano ou apenas um truque de pintura. Mas tome cuidado redobrado caso uma delas seja uma menina de olhar travesso segurando uma rosa branca, ela parece sempre estar em todos os cantos.

“Teve a estranha sensação de que aquele não era seu ventre – não mais. Era apenas uma casca. Ela era uma casca, e outro corpo, um corpo estranho, crescia no interior.”

Certamente são a esses pedaços de lógica e razão às quais Elsie tenta se agarrar. Enquanto a situação na casa se deteriora e acontecimentos sangrentos e horripilantes surgem, vamos conhecendo mais da história de cada personagem. Então, incluo aqui a própria Ponte como a protagonista de O Silêncio da Casa Fria. Ao lado dela, o próprio silêncio horripilante se faz um personagem único. Aliás, a descrição sonora do livro é tão imersiva, que é como se ouvíssemos o ranger da madeira logo acima de nossas cabeças.

“Não se pode explicar o medo; só se pode senti-lo, rugindo em meio ao silêncio até congelar seu coração.”

Construindo um clima tenso a autora nos leva às sensações de contos de terror tais quais a leitura de Edgar Allan Poe é capaz de despertar. Assim como nas histórias clássicas, não se trata exatamente de uma história sobre fantasmas ou bruxas, sobre algo sobrenatural. Porque o que temos em O Silêncio da Casa Fria é bem mais profundo que isso, é um misto de pavor que leva a questionar os próprios conceitos de lucidez, de sanidade. Ou o que seria o medo… ou quão fundo ele pode adentrar nas entranhas de alguém.

“Será que as pessoas sabiam quando estavam enlouquecendo? […] Será que sentiam a estrutura da mente desmoronar? Ou era como passar para um doce mundo de sonhos?”

Ao mesmo tempo em que torcemos pelos personagens, que nos angustiamos com os acontecimentos, com as possibilidades, que indagamos o que será o mistério enterrado em 1635, vemos a força do passado em nosso presente. Não apenas daqueles dias vividos, passados em tormenta ou conforto. Mas o peso da ações de nossos antepassados.

“Havia alguma coisa errada na Ponte. Em Londres, ela aprendera a desdenhar do medo como uma bobagem, mas agora que estava de volta podia senti-lo, rastejando, serpenteando. Uma coisa escura e pérfida, tocando até as raízes das plantas que cresciam no jardim. Não era só o passado, aqueles estranhos acontecimentos no diário de Anne Bainbridge de que Sarah falava. A própria estrutura da casa era malévola.”

Enquanto entrelaça a trama através do tempo, enquanto a Ponte range, o silêncio destoa e a chama arde, Laura Purcell nos leva a crer no incrível, a ver o que está descrito, a ouvir cada rangido e a temer cada vislumbre de um companheiro. Mas não se engane, esta não é uma história apenas sobre o medo, a desgraça, o infortúnio e a perda. É uma história sobre a luta, o luto e o feminino. É uma história sobre a tênue linha que não conseguimos ver e que divide a sanidade da insanidade.

“A senhora escreveu sobre esses companheiros, como os chama. Disse que tinha medo deles. Mas sabe o que nos assusta de fato? Não são as coisas que espreitam – ou mesmo sussurram – à noite. Nossos medos são muito mais próximos que isso. Temos medo das coisas dentro de nós – sejam lembranças, doenças ou impulsos pecaminosos.”

Shhh… não faça barulho, O Silêncio da Casa Fria é capaz de preencher qualquer coisa… eu, você e qualquer um que se atrever a entrar nela.

“O antigo medo. Nem a razão nem a lógica poderiam apagar esse sentimento. Ela conhecia o mal desde criança – reconhecia sua voz aveludada.”
Resenha do romance de horror gótico O Silêncio da Casa Fria, de Laura Purcell, primeiro publicado no Brasil da autora, pela DarkSide Books.
Aleatoriedades

Uma curiosidade interessante é que os chamados companheiros silenciosos foram um costume europeu muito popular nos séculos XVIII e XIX, em especial, entre os ingleses e holandeses. Não apenas as famílias aristocráticas pregavam peças com tábuas de madeira ricamente pintadas e esculpidas, representando desde animais e plantas até pessoas.

O título original de O Silêncio da Casa Fria é The Silent Companions, que em tradução livre seria Os Companheiros Silenciosos, mas a escolha de ressaltar o silêncio trouxe uma proximidade de referência às casas mal-assombradas que o original não traria. Ao mesmo tempo, o título original, que remete a um costume pouco conhecido no Brasil, poderia não gerar expectativas ao leitor… mas depois de ler, reconheço a simplicidade e beleza também do título original.

Da mesma forma que O Silêncio da Casa Fria me prendeu, vou deixar uma dica de um suspense com uma reviravolta para lá de inesperada: A Paciente Silenciosa de Alex Michaelides.

Que seus companheiros te acompanhem, aonde você for!

xoxo

Retipatia

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  • Angela Cunha

    Desculpa o sumiço,mas cá estou eu de volta! E fico aqui lendo a resenha(que já li no Insta) e olhando agora meu exemplar na estante.
    Ainda não o tirei do plástico,mas pretendo e muito ler esse agora em Março(que meus outros livros escolhidos não me leiam)
    Mas eu amo um gênero e amo uma Editora!
    Penso que ficarei demais com a leitura desse suspense!!!
    Beijo

    Angela Cunha/O Vazio na Flor

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