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A Filha do Rei do Pântano ♥ Karen Dionne

Resenha de A Filha do Rei do Pântano de Karen Dionne publicado pela TAG/Verus e comparação com o conto de fadas, de mesmo nome, de Hans Christian Andersen.

A Filha do Rei do Pântano traz um thriller tenso, inspirado em um conto de fadas, mas com elementos cruéis da realidade contemporânea, e claro, humana. Imperdível. E eu já disse cruel?

A Filha do Rei do Pântano (The Marsh King’s Daugther)
Karen Dionne
Tradução Cecília Camargo Bartalotti
Verus Editora
2019 | 266 páginas
Disponível em Amazon
“Jacob Holbrook escapou da prisão. O Rei do Pântano. Meu pai. E fui eu que o pus na prisão.”
Sobre Karen Dionne

Karen Dionne é cofundadora da Backspace, comunidade online de escritores, além de organizar diversos retiros literários nos Estados Unidos e integrar a International Thriller Writers, da qaul já foi uma das diretoras. Mora nos subúrbios a nordeste de Detroit, no Michigan, com seu marido. A filha do Rei do Pântano é seu quarto livro publicado.

Sinopse de A Filha do Rei do Pântano

A fascinante história de uma mulher que deve arriscar tudo para caçar o homem que moldou seu passado e ameaça roubar seu futuro: seu pai.

Helena Pelletier tem um marido amoroso, duas filhas lindas e um negócio que preenche seus dias. Mas ela também tem um segredo: é fruto de um sequestro.

Sua mãe foi raptada quando adolescente por seu pai e mantida em uma cabana nos pântanos do Michigan. Nascida dois anos depois do sequestro, Helena amava sua casa na natureza e, apesar do comportamento às vezes brutal do pai, ela o amava também… Até perceber o quão selvagem ele poderia ser.

Vinte anos depois, ela já enterrou seu passado tão profundamente que até o marido não sabe a verdade. Mas agora seu pai escapou da prisão. A polícia começa uma caçada, e Helena sabe que não irão descobrir nada, pois apenas uma pessoa, treinada por ele mesmo, tem as habilidades para encontrar o sobrevivente que o mundo chama de Rei do Pântano. E essa pessoa, claro, é Helena.

Resenha de A Filha do Rei do Pântano de Karen Dionne publicado pela TAG/Verus e comparação com o conto de fadas, de mesmo nome, de Hans Christian Andersen.
A Filha do Rei do Pântano

A vida de Helena é o que se pode chamar de pacata entre o marido, as duas filhas e as compotas de geleia que faz para vender. O que ninguém imagina, nem mesmo sua família, é que ela esconde segredos enterrados à sete chaves. Segredos de uma parte da sua vida que, de certa forma, ela preferia que não tivesse acontecido.

“Antes de eu deixar de aparecer nas revistas sensacionalistas dos supermercados, as pessoas costumavam me perguntar qual era a coisa mais incrível/surpreendente/inesperada que eu havia descoberto depois de chegar à civilização. Como se o mundo delas fosse tão melhor que o meu. Ou como se fosse realmente civilizado.”

E, esse passado, inclui seu pai, Jacob. Ele é alguém que, como filha ela não apenas amou, mas também, idolatrou. Ele era, sem ressalvas, sua inspiração, seu guia, seu mundo. Sua mãe, por outro lado, é alguém que Helena tolerava. Ela não se importava, não fazia nada quando o pai ficava bravo e, para uma criança, a indiferença pode ser o pior dos sentimentos.

“Antes de mandar derrubar a casa dos meus avós, eu costumava andar pelos aposentos procurando pistas sobre o meu pai. Queria saber como alguém passa de criança para molestador de crianças.”
Resenha de A Filha do Rei do Pântano de Karen Dionne publicado pela TAG/Verus e comparação com o conto de fadas, de mesmo nome, de Hans Christian Andersen.

O detalhe, que a Helena de até doze anos não sabe, é que sua mãe fora sequestrada e mantida em cativeiro por Jacob. Que ela é fruto dos abusos de um crime. Isso até o mundo exterior tocar sua vida e ela perceber que, o que ela acreditava ser amor, amor que o pai sentia por ela, é muito próximo da crueldade para ser real.

“Essa não será a primeira vez que vou caçar meu pai, mas farei o que estiver ao meu alcance para garantir que seja a última.”

Helena, A Filha do Rei do Pântano, vai nos contar sua história, a que ela é obrigada a desenterrar quando seu pai foge da prisão. Ela sabe para onde ele vai, sabe que é perigoso. E também sabe que é a única que pode caçá-lo. Assim, acompanhamos sua busca numa caçada intensa, enquanto nos é narrado, em capítulos intercalados, também o passado. Da menina que escapou do cativeiro. Que desafiou o Rei do Pântano.

“Os jornais chamavam meu pai de Rei do Pântano, como o ogro do conto de fadas. Eu entendo por que lhe deram esse nome, como qualquer um que conheça o conto de fadas entenderá também. Mas meu pai não era um monstro. Quero deixar isso absolutamente claro. Sei que muito do que ele disse e fez foi errado. Mas, no fim das contas, ele só estava fazendo o melhor que podia com o que tinha, como qualquer outro pai.”

Preciso começar dizendo o quanto esse livro me surpreendeu e foi uma leitura que devorei! Eu não costumo ler sinopse, então fui ler um pouco às cegas, como acontece de vez em quando. Mas, foi surpresa atrás de surpresa. Acho que, especialmente, porque eu havia feito recentemente a leitura de Bambi: a história de uma vida na floresta, de Felix Salten e que retrata muito a caça predatória, do ponto de vista dos animais.

“O cérebro de cada animal era do tamanho exato para curtir seu couro, meu pai disse, o que me fez pensar que o Grande Espírito realmente sabe o que faz.”

Já explico a razão: aqui, em A Filha do Rei do Pântano, temos uma história narrada de maneira crua. Helena, nossa narradora, nasceu e viveu no cárcere (apesar de não saber, a princípio) com sua mãe por doze anos. Isso num casebre no meio dos pântanos do Michigan, um lugar que Jacob encontrou para não ser encontrado. E, nesse mundo selvagem, Helena aprendeu de tudo, desde à caça até à esfolar os animais. Seguir trilhas, rastros, se esconder, encontrar frutas, diferenciar os venenos. E tudo isso ela nos conta nos capítulos que seu eu do passado narra, sem floreios, em descrições que saltam vísceras, por vezes.

“Penso em minha mãe, morta e esquecida por quase todos, penso em minhas filhas. Penso em meu marido, sozinho, esperando por mim. As mortes têm que parar. Eu vou encontrar meu pai. Vou capturá-lo. Vou devolvê-lo à prisão e obrigá-lo a pagar por tudo o que fez.”

Nessa narrativa, ela nos mostra também como foi seu abrir de olhos para quem seu pai realmente era. E, a partir daí, como a fuga se tornou possível. Do outro lado, que estamos a acompanhando caçar seu pai, os sentimentos do passado, com as percepções do futuro são ótimas reflexões sobre quem ela foi, as influências que teve. Em como seu pai saiu do pedestal, mas, ao mesmo tempo, sem deixar de ser o seu pai.

“Pedir desculpa não é suficiente. Acidentes sempre têm consequências. Não sei como posso ensinar você a se lembrar disso.”

Como já deu para notar, o livro levanta um tema bastante forte: o sequestro e abuso que a mãe de Helena, sofre. E que, infelizmente, não é algo distante do mundo real. Inclusive, esse é um ponto forte no livro, a autora trabalha tudo com um toque de realidade e Helena não revela o nome de sua mãe. Ela afirma que é porque essa não é a história dela (e de fato, não é), mas também, aumenta a ideia de suspense, como se a identidade da mãe fosse revelar o nome de uma vítima que vimos na mídia.

“Sempre tive medo do meu pai, mas, até aquele momento, tinha sido mais um temor respeitoso. Um medo de desagradá-lo, não porque eu temesse ser castigada, mas porque eu não queria decepcioná-lo. Mas ver meu pai quase afogar minha mãe me aterrorizou – especialmente porque eu não entendia por que ele quis matá-la ou o que ela havia feito de errado. Eu não sabia, na ocasião, que minha mãe era sua prisioneira, ou que ela poderia de fato estar tentando fugir.”
Resenha de A Filha do Rei do Pântano de Karen Dionne publicado pela TAG/Verus e comparação com o conto de fadas, de mesmo nome, de Hans Christian Andersen.

Mas, o ponto alto da história fica com a relação pai e filha que a autora consegue construir. É interessante notar como cada pedaço da história se junta não apenas para nos revelar o passado e construir quem vemos no futuro, mas para dizer que, quem somos, em nosso cerne, jamais será alterado.

“Há um estigma em ser a filha de um sequestrador, estuprador e assassino de que não é fácil se livrar.”

Um livro muito forte, provocador. Karen Dionne usou um thriller para debater temas fortes, como a pedofilia, o abuso parental e até mesmo a caça, tão presente na história. Uma leitura visceral, que vai te levar até o recôndito reino do Rei do Pântano, mas você terá a oportunidade de chegar por lá pelos pés de sua filha. Não estará só.

“Não consigo acreditar que tive vontade de vê-lo de novo. Que um dia amei esse homem. Um homem que mata com tanta facilidade quanto respira. Que acha que, quando quer alguma coisa, tem que ter. Minha mãe. Nossa cabana. Minhas filhas.”
Resenha de A Filha do Rei do Pântano de Karen Dionne publicado pela TAG/Verus e comparação com o conto de fadas, de mesmo nome, de Hans Christian Andersen.
A Filha do Rei do Pântano de Hans Christian Andersen

No início de alguns capítulos do livro, existem trechos do conto de fadas A Filha do Rei do Pântano, de Hans Christian Andersen. O conto narra a história de Helga, uma garota que tinha uma grande missão na vida, já que era única capaz de salvar seu pai avô, um rei egípcio, de uma doença grave. Ela é filha do Rei do Pântano e de uma fada que ele sequestrou e sua essência mistura os dois extremos de seu pai e sua mãe. Ela precisa encontrar seu lado bom para poder salvar o avô e a si.

Fiquei bastante curiosa com a escolha do conto, que vai sendo apresentado ao longo do livro, e acabei pesquisando um pouco sobre ele. E encontrei o conto disponível inclusive no Kindle Unlimited, quem quiser conferir, só clicar aqui. A versão que tem nesse do Kindle é um pouco mais enxuta, bem no estilo de contos de fadas, sem narrativas mais trabalhadas. A versão da edição da Verus, tem uma narrativa mais detalhada, floreada.

“Talvez o encantamento de que me recordo da infância tenha se extinguido nos anos na prisão. Talvez nunca tenha existido. Lembranças podem ser enganosas, especialmente as de uma criança.”

No site da TAG, que já publicou o livro pelo TAG Inéditos, há algumas informações legais, como que a autora Karen Dionne disse que sonhou com algumas partes da história e que decidiu buscar inspiração em contos de fadas para a história.

Assim, alguns elementos são coincidentes, o nome da protagonista Helena foi inspirado no de Helga. E a cabana foi situada no pântano, para trazer elementos mais interessantes para o thriller, assim como, no conto, a história também se passa, em parte, no pântano.

É interessante que existem vários paralelos entre o conto de Andersen e a história criada por Dionne. Começamos com um sequestro, o Rei do Pântano, em ambas as histórias é o autor desse crime e, também dos abusos que resultam em uma filha com a vítima.

Mas, a história, logo fica claro, não é sobre a mãe sequestrada. É sobre a filha. No conto temos Helga, e no livro, Helena. Ambas criaturas nascidas de uma dualidade ente bem e mal. E, em meio à natureza rude, não perderam o lado humano, aquele que, mesmo sem saber, se relaciona à mãe.

“Coisas ruins acontecem. Aviões caem, trens descarrilam, pessoas morrem em enchentes, terremotos e tornados, Motos de neve se perdem. Cachorros levam tiros. E meninas são raptadas.”

Gostei muito em como o livro pode ser visto não apenas como inspirado no conto, mas uma verdadeira releitura do conto de Andersen. Agora, deixo um trechinho do conto, na versão da Verus:

“Aqui estavam duas naturezas, que mudavam interna e externamente com a ausência e o retorno da luz do sol. E assim acontecia que, durante o dia, a criança, com a forma de sua mãe, tinha a disposição feroz do pai; à noite, ao contrário, a aparência exterior mostrava claramente sua ascendência do lado do pai, enquanto, por dentro, tinha o coração e a mente da mãe.” A Filha do Rei do Pântano de Hans Christian Andersen – Ed. Verus de A Filha do Rei do Pântano de Karen Dionne – pág. 90

A Filha do Rei do Pântano foi recebido em parceria com o Grupo Editorial Record / Verus Editora.

Que a Força esteja com vocês!

xoxo

Retipatia
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  • Dhyese Raianne dos Santos

    Moça, você leu a minha mente!

    Não sou muito fã de thriller e estou começando nesse gênero. Tanto que encontrei esse livro, estava pensando em ler e a sua resenha fez a vontade aumentar.

    Amo relações familiares em livros e por que não tê-las em um thriller?

    Bjs, até

    responder
  • Vazio Na Flor

    Ela consegue ser tão fantástica, que além de ter me feito dar atenção a um livro que meio mundo ou abandonou ou falou, ainda consegue colocar até um esmalte combinando com o tom das fotos!
    Você é maravilhosa!!!!
    Quando esse livro foi lançado, eu me lembro de ter desejado ele demais, só que aí as resenhas começaram e puxa, nada era positivo. Isso quando terminavam a leitura.
    Acabei foi esquecendo dele e só me lembrei ontem no Ig.
    Agora já vou no Skoob ver se consigo uma troquinha rs
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor(@vazionaflor)

    responder
  • Mayara Esteves

    Eu super achava que esse livro era de terror ou fantasia, rsrs. Jamais havia se passado pela minha cabeça que era um thriller e adorei isso, pois sou doida por esse gênero, principalmente se for policial. Apesar de alguns gatilhos, após essa resenha vai pra minha wishbooks. Não preciso nem elogiar as foto nér? Você sabe que arrasa!

    responder