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Conto ♥ Entremeio |
Sugestão de música para durante a leitura: Hozier feat. Karen Cowley / In a Week Algo que se encontra no meio do caminho, como a pedra do poema de Drummond. Algo que fora deixado exatamente entre dois limites, apto a fazer-lhe parar bem na metade, seja lá do que for. – Tem certeza de que pegou tudo? – Eu insisto. – Claro que sim, Ian. – Detesto quando ele diz meu nome dessa forma, enfadonha, assim como minha mãe o usaria quando eu era uma criança impertinente. – Só estou perguntando, você fez sua mala em cinco minutos, Alan. – Tento imitar o tom indiferente, mas provavelmente sai algo muito mais próximo à malcriação. Ele sorri daquele jeito aberto e espaçoso e sua mão alcança meus cabelos, jogando-os para todos os lados. É claro que eu não posso bagunçar o seu topete perfeito, mas o ato é o suficiente para me acalmar e me fazer suspirar fundo. Não é por ter bagunçado meu cabelo, é óbvio, mas porque seu toque tem esse efeito quase mágico sobre mim. Acalma, quando precisa. Apago o abajur do meu lado da cama e ignoro o fato de que ele acaba de se acomodar com um livro nas mãos. – Vamos acordar em cinco horas, Alan. – Eu sei, só vou terminar um capítulo. – Claro, como se eu acreditasse em tudo que um leitor fala. – Falo, rindo e viro pro outro lado, para evitar a claridade. *** A luz amarela incomoda meus olhos na madrugada, o maldito abajur de Alan ainda está aceso e ele dorme com o livro sobre o peito. A vontade de xingar é logo sobrepujada pelo fato de que me perco admirando-o dormir. A expressão serena que sua face sempre tão ativa assume tem o condão de me fazer querer olhá-la indefinidamente. Mas, como o relógio indica que precisaremos levantar em menos de duas horas, me esgueiro para o outro lado da cama, numa tentativa de não acordá-lo ao alcançar o interruptor do seu abajur. – Espero que tenha uma boa explicação para estar em cima de mim enquanto durmo. – Ele sequer abriu os olhos e sua voz já sai cheia de sarcasmo. Mas não é nem de perto um sarcasmo ofensivo, é aquele tom engraçado e sedutor. Eu paro no meio do caminho, depois de ter apagado o abajur, minhas mãos apoiadas no colchão cada uma na altura de seus ombros. Seus olhos amarelados que nem mel se abrem e deleito em vê-los junto à um sorriso que beira a indecência. Alan coloca o livro de lado no banco que fica o abajur e volta sua atenção para mim, seu sorriso me despertando. Droga, eu preciso dormir! Suas mãos investem por meu peito até chegarem em minha nuca, me puxando para baixo, fazendo com que eu me apoie nos cotovelos e com que meu peito se junte ao seu até que nossos lábios se encontram. Seus lábios não tem pressa e, tampouco os meus. Não importa que eu já conheça cada recanto da sua boca, seu gosto e o modo como seu beijo me toma. Nunca me canso de experimentá-lo de novo e de novo. Um lembrete soa na minha mente como aquelas janelas pop-up inconvenientes que aparecem na internet, me dizendo que preciso dormir. Isso faz com que,...
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