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Conto ♥ Agridoce |
Sugestão de música para ouvir durante a leitura: Like I’m Gonna Loose You – Meghan Trainor feat. John Legend A vida é assim, meio amarga e agridoce. Toda a bagunça que deixei antes de sair de casa, há três dias, continua me aguardando. Deixo minha mala ao lado do sofá, apenas mais um item para arrumar. Descalço meus saltos e coloco o celular no carregador. Alongo o pescoço, deixando meu corpo cair sobre o sofá. Preciso me mover. Banho e depois, dormir. Me levanto e ergo os braços, alongando cada músculo. A claridade da janela me indica que o sol já terminou de se levantar. Talvez com tanto cansaço quanto eu. Meus pés seguem preguiçosos até a cozinha, coloco água para ferver. O telefone começa a tocar. Somente uma pessoa me ligaria esse horário. Na verdade… basicamente só uma pessoa me liga, além do telemarketing, é claro. – Oi. – Não contenho a empolgação ao colocar o aparelho no ouvido. – Adivinha quem acabou de desembarcar? – Não sei, alguma celebridade? – Falo, já rindo pela surpresa. – Depende. – Do que, exatamente? – Posso ser uma celebridade em alguma realidade paralela. – O sorriso está refletido em sua voz. – Claro que pode. – Estou rindo, muito. – Poderia colocar isso em alguma de suas histórias. – Sempre se lembrando dos meus hobbies. – Não escrevo ficção. – Ainda sorrio. – Não é ficção se for verdade em algum lugar. – Faz sentido. – É, sei que faz. – Sua voz é convencida. Um segundo mais longo se passa e meu sorriso desfalece. – Vem para cá? – Pergunto. – Estou a caminho. – Chega em quanto tempo? – Coloco a água quente na caneca e observo a pilha de louça acumulada. – Quarenta minutos. – Ok. – É tempo suficiente para arrumar algumas coisas e tomar um banho. – Tchau, Lena. – Ok. – Repito. Enquanto espero que o chá esfrie, lavo a louça e deixo a cozinha em um estado de graça que não se vê há tempos. Seria bom para ela que eu recebesse mais visitas. Bebericando o chá morno, sigo para a sala e recolho tudo fora do lugar. Contudo, o quarto é a razão dos meus problemas. Troco a roupa de cama amarrotada, recolho as roupas jogadas na poltrona, os livros espalhados e todas as pilhas de papéis. A água morna do chuveiro ajuda meus músculos a relaxarem, disfarçando a ansiedade que começara a crescer desde o momento em que o telefone tocou. Encaro o guarda roupa. Visto um lingerie, jeans e camiseta. Penteio meus cabelos, que já estão na altura de meus olhos, preciso cortar. Tento não vestir a ansiedade, mas ela gruda como suor. Não preciso esperar muito. Assim que estendo a toalha no box do banheiro a campainha toca. Vou literalmente correndo até o interfone, quase abrindo sem perguntar quem é. – Sou eu, Lena! Quem mais? Reviro os olhos com suas palavras e aperto forte o botão do aparelho amarelado. Respiro fundo. Novamente, Lena! Inspira. Solta. Três batidas se fazem soar na porta. Destranco a fechadura e giro o trinco. Seu sorriso convencido está lá, me encarando. O uniforme branco da marinha ajustado a cada curva de seu corpo, o brilho de seus olhos azuis cintilando como água do mar pela...
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