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Conto ♥ Último Beijo |
Sugestão de música para leitura: Pearl Jam – Last Kiss – Luizaaa!!! – Ouço meu nome sendo gritado e olho na direção em que suponho estar sendo chamada. Mila me encara furiosa do outro lado do corredor. Retiro o fone da cabeça, antes de me dar ao trabalho de falar com ela. Irmãs de onze anos são insuportáveis. – O que é Mila? – Estou há horas te chamando, Lu! É importante. Respiro fundo. Claro que é importante, sempre é quando se tem onze anos. Me levanto e minha cabeça lateja, parece que há abelhas a ferroando e minha visão fica turva. Fecho os olhos por um instante e tudo volta a ter foco. – O que é, Mila? – Pergunto, já mal-humorada. – Ah, deixa para lá. – Ela dá de ombros e entra no próprio quarto, batendo a porta. Ótimo. Menos uma coisa para me preocupar. Meu celular vibra no meu bolso novamente. ‘Estou saindo daqui!!!‘ A empolgação de Pedro podia me contagiar, mas com tudo que parece estar por vir, eu simplesmente não sei o que fazer, o que dizer. Quase meia hora exata depois da mensagem, o interfone toca e libero a entrada de Pedro. O porteiro apenas interfona por hábito, porque Pedro vem aqui há tantos anos e fica sempre tanto tempo que parece que ele mora aqui. Antes que eu chegue na porta, Mila passa correndo por mim para fazê-lo. Ela é impossível… Reviro os olhos e isso faz minha dor de cabeça aumentar. Mas que inferno! Me deixo cair no sofá e me sento embrulhada em uma manta, colocando até meus pés para cima do assento. – Eu não posso acreditar! – Ouço a voz de Pedro e quero sorrir apenas por isso. Me contenho, o efeito que ele tem em me fazer derreter não é bem-vindo no momento. Pedro e Mila estão conversando sobre alguma coisa qualquer que não dou atenção e logo vejo ela puxando-o pela mão e segurando o pacote de bolinhos que ele sempre traz da confeitaria do pai dele, onde ele trabalha aos fins de semana. Ele geralmente fica um bom tempo com Mila, eles jogam videogame, assistem (e me fazem assistir também) aqueles seriados infanto-juvenis ridículos de pessoas com nomes de cores e plantas e, depois que ela se cansa, nós dois finalmente somos deixados em paz. Mas, ao me ver no sofá e, muito provavelmente, minha expressão séria e não rabugenta como de costume, ele estaca e me encara, dizendo para Mila que logo a alcança. – Oi, Lu. – Ele fala, bagunçando aquele seu cabelo lindo. – Oi. Pedro se aproxima e se senta ao meu lado, sua mão logo encontrando a minha, mesmo com toda a coberta ao meu redor. – Está tudo bem? – A melhor parte dessa pergunta é que sei que ele fala sério. Pedro só me faz essa pergunta quando sabe que tem algo errado. Desde que fiquei doente, ou descobri estar doente, Mila foi a única pessoa, que não demonstrou piedade. Até minha mãe me deu um olhar desses. Eu nunca havia me sentido tão mal em toda minha vida até aquele momento. Eu balanço a cabeça em negativa, tentando colocar ordem nos meus pensamentos. Se ele me der um olhar assim, eu não sei o que vai acontecer. Mesmo...
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