às quartas nós lemos a GLit

receba a newsletter sobre literatura, criatividade e criação de conteúdo gratuitamente no seu e-mail

A Cabeça na Cama ♥ Filipe Nassar Larêdo

Uma cabeça surge em uma cama. Sem mais, nem menos. Um mistério que vai corroer as entranhas de quem costumava dormir naquela cama, e do leitor…

A Cabeça na Cama

Autor Filipe Nassar Larêdo

Editora Empíreo

“Pois então, a partir de agora, dentro dos limites que a memória me permite, retrocedendo em alguns trechos, avançando em outros e, na medida do possível, remetendo à minha atual situação, passo a contar a história de quando uma cabeça surgiu em minha cama.”

Sobre o Autor

Em seu primeiro livro, Filipe Nassar Larêdo aproxima o realismo ao inverossímil e ao lado grotesco e cruel da condição humana. Com referências que vão desde as principais tragédias gregas, de Sófocles e Eurípedes, até Franz Kafka, Adolfo Bioy Casares e Jorge Luis Borges, A cabeça na cama é um romance com pitadas de nonsense e narrativa neofantástica.

Sinopse

Tomás é um homem ambicioso, que começa sua carreira como bancário e depois torna-se um bem-sucedido e rico gerente em uma empresa de investimentos financeiros. Trabalhando exaustivamente e sem muitos escrúpulos ou valores morais, não mede esforços para conseguir engordar seus ganhos. E o pouco tempo que tem com a família é recheado de contatos mecânicos e distantes.

Até que um dia, durante o início de uma viagem de férias, Tomás recebe o telefonema do pai, responsável pelo apartamento durante sua ausência, e escuta uma notícia inesperada: surgiu uma cabeça em sua cama. Atordoado, ele volta para casa e, dominado pelo acontecimento insólito, precisa desvendar os segredos que a cabeça esconde.

A Cabeça na Cama

Uma ligação e duas opções: ou o pai de Tomás voltou a beber ou, por mais impossível que possa parecer, uma cabeça acaba de surgir em sua cama.

“Era assim que eu me despedia do dia, com o desejo de passar mais tempo com minha família. Porém, a vida que levávamos aumentava a distância entre nós, cada um satisfazendo seus interesses imediatos.”

Em literalidade ao título, a trama se apega ao fato, aquele que não se sabe de onde veio, porque veio: há uma cabeça na cama de Tomás. O que poderia ser o ápice de uma trama tresloucada é, aqui, colocado em foco, dado de bandeja ao leitor. Resta a pergunta primordial, que vai bem além dos porquês e pra quês da cabeça: como a história se desenrola, afinal de contas, se o elemento surpresa está explícito em sua capa?

O segredo, como é possível imaginar, é a narrativa. Que prende e desembola a ação e não ação, de modo que se quer saber cada mínimo detalhe corriqueiro da vida do protagonista, que faz querer conhecer o passado, os segredos mais íntimos e qualquer outra coisa mais. Um detalhe pode fazer toda a diferença para descobrir os comos e porquês, afinal de contas.

“A falta de informação me deixava ansioso. Enquanto Elisa queria que eu me livrasse da cabeça o quanto antes, eu ansiava por conhecê-la. Desejava saber a quem pertencia, o que falava, de onde teria vindo. Será que eu a reconheceria? Seria de alguém próximo a mim? Por que me senti daquela forma, em transe?”

E é isso que o autor faz com a história, sintoniza o leitor: é este Tomás, esta é sua família, este é seu emprego, sua casa, suas posses, suas falhas, suas qualidades. É homem comum, engolido dia a dia pela máquina capitalista que só faz querer mais, que faz esquecer quem é, quem é quem e o que é o quê. O quê e quem é que importa, o quê e quem é que conta, por mais sem sentido que isso possa soar.

“A cabeça seria minha esfinge. Teria que decifrá-la para permanecer vivo.”

Com várias perdas ao longo da vida, que vão desde a crença em seu pai que se tornou um alcoólatra, à sua capacidade de ser feliz, até os seus princípios e sonhos, tudo fez de Tomás quem ele é hoje, moldou as relações que tem com seus pais, o deteriorado relacionamento com a esposa e o frágil apego dos filhos.

“E o descaso com que era tratado por aqueles que usufruíam dos meus suores só me fazia ter mais certeza de que a cabeça não surgira por acaso.”

Bem, esse é Tomás. Mas e a cabeça, talvez você pergunte? E confesso que foi das primeiras coisas que passei a indagar, ainda que, de um modo ou de outro, soubesse que essa, talvez, não fosse a pergunta correta.

“As horas corriam para mim e para a cabeça dentro do quarto. Como um pêndulo hipnótico, o tempo com a cabeça – que naqueles momentos serenos falava com lapsos um pouco maiores entre uma frase e outra, aparentemente dando cochilos esporádicos – apreendia toda a minha atenção.”

Voltemos a cabeça, é ela que dá título ao livro. Ou seria ela quem dá título ao livro? Seja como for, um detalhe é certo, ela pode não ter corpo ou pode ser tida, de todo modo, como viva. Só que não está morta. Fala, fala e fala. E repete e repete. E não faz diferença o quanto Tomás tente ouvir, sabe que seu prazo é curto, ainda que ninguém tenha dito isso, ele sabe, sente em seu âmago. E passamos a sentir também, agonia, asco, curiosidade e um misto de sensações.

Uma história inteligente, crítica e questionadora, que mantém a expectativa do leitor por todas as páginas, que te leva a conhecer todos os lados do personagem e, claro, bem mais da cabeça do que se espera. A Cabeça na Cama faz de cada detalhe, reflexão do mundo corroído de Tomás, da cabeça e de quem lê.

“Pode parecer loucura o que vou dizer agora, mas passei a entender o que ela dizia, mesmo sem decodificar suas palavras. Ela falava dentro de mim, dentro de minha essência, as respostas. Bastava que eu fixasse minha total atenção nela.”

Aleatoriedades…

  • O livro A Cabeça na Cama foi recebido em parceria com a Editora Empíreo, que agradeço pela confiança e oportunidade! Amei conhecer o trabalho deles e essa edição impecável, desde o trabalho da capa, à diagramação, texto, revisão, o tipo de papel escolhido… tudo um primor, feito pra uma ótima experiência de leitura.
  • As fotos dessa vez tiveram um tom minimalista, pensei muito em como queria fotografar esse livro e, claro, a ideia de uma cabeça na cama, em tom literal, seria um pouco complicada de executar… rsrsrs De toda forma, a ideia foi aplicada, se a mensagem foi transmitida com sucesso, aí é outra história…
  • O livro pode ser adquirido diretamente na loja da Editora Empíreo ou na Amazon.

“A única e genuína preocupação que eu tinha era com a deterioração significativa pela qual a cabeça passava, diante de mim.”

Que a Força esteja com vocês!

xoxo

Ouvindo: Ray LaMontagne – Let It Be Me

Comente este post!

  • Alexsandra Helga

    Sabe aquele livro que a gente torce o nariz quando vê na livraria, sim torço o nariz para alguns, esse seria um desses…
    Após a leitura da resenha impossível não chegar mais perto…
    Parabéns pelas fotos e resenha…
    Abraços

    responder
  • Lunna

    Buongiorno, cara mia

    Assim que comecei a ler-te, pensei em Hamlet, mas depois me afastei da trama shakespereana e conforme avancei na leitura e nas suas impressões, combinadas com as fotografias, pensei no próprio homem, sua história. A cabeça se tornou a do próprio homem. Claro que não li o livro, apenas imaginei (like always) o que é trama por trás do que leio.
    Engraçado, títulos nem sempre me interessam, quando escrevo, nunca me ocupo disso, deixo vir e sei que virão em algum momento. Geralmente escapam das leituras que faço. Comumente estão em poemas, a espreitar meu olhar. E nunca presto muita atenção ao que margeia uma trama. Já vi títulos que nada representavam a trama. Nesse caso, fiquei intrigada mais pelo que não diz. A cabeça na cama é muito direto, mas penso o quando não é feito para enganar. O quando diz e não diz da trama.

    Ok. parei.
    bacio

    responder