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Cumulonimbus – Camila Quintanilha

não há pergunta mais adequada para o momento do que já olhou para o céu hoje? já viu formas nas nuvens, afofou uma delas, já foi recoberto pela longa formação de uma cumulonimbus?

cumulonimbus

autora camila quintanilha

coleção yebá

quintal edições

o mundo
é um vasto prelúdio delicado
mas ao acordarmos tudo se transforma em nulidade
acho que ninguém entende
pois é tão simples de explicar

sobre a autora

camila quintanilha nasceu em 1988. foi criança em presidente prudente, estudante em porto alegre, mochileira em berlim, artista plástica em são paulo. não come peixe e não dorme fácil. prefere comidas quentes e bebidas frias. escreve desde pequena, porém cumulonimbus é seu mergulho inaugural no mundo literário.

sinopse

cumulonimbus expressa na concretude do cotidiano aquilo que é e provavelmente sempre será impalpável. a poesia que tantas vezes olha pra cima e se interessa por nuvens e estrelas tem, ao mesmo tempo, o ritmo das precipitações e das cidades por que passa. ela mobiliza imagens alheias a si, às quais, porém, parece pertencer de maneira natural. a poesia de camila quintanilha é sobre a inquietação que acompanha a consciência da transitoriedade, seja do céu, do feminino, do fastfood ou das línguas, mas é também uma tentativa de achar em tudo isso um lugar seu, mesmo que temporário.

cumulonimbus

voltamos àquela ideia (in)sensata de que não se resenha livro de poesias. tem céu nublado, burguer king, vazio de dentro, do chuveiro que serve pra canto, dança, choro, fala e vida. da tevê ligada no outro cômodo e do desenho que apareceu na cabeça da land que nunca faz cold na cabeça dela, mas que na minha congela até eu começar a cantar ‘é só isso, não tem mais jeito, acabou, boa sorte‘…

eu tentei voltar para mim, mas não dava. não tá dando. hoje eu vou dormir fragmento

mas não para nada por aí. o amontoado nuvens fofamente perversas estragam a chapinha, não deixam lavar a roupa em paz e mofam o teto do banheiro. e faz o corpo congelar como se fosse anna de frozen, com coração brilhante que resplandece e faz brilhar por todos os poros enquanto segura punhado de terra nas mãos que vento nem sopro faz espalhar. e tem alma que tenta escapar do gelo do corpo inteiro, que só você sabe se vai rachar ou estilhaçar.

todo mortal sabe que chuveiro serve para banho, canto e pranto.

só que se esquece que tudo isso não faz sentido algum, porque a gente insiste em sailing when there’s no water – e tenta usar braços como remos no ar que venta e sopra as comulonimbus – e lembra que nimbus é a marca de vassoura bruxa -, tentando alcançar myself. só que me, myself and I, está e não está aqui pra entender porque está tudo coisado na tentativa – vã – de virar uma adulta exemplar. mas também não como peixe.

lembre dos corredores coloridos
(eu que tanto prezo o colorido)
e lembre dos chineses que se amavam mas não podiam dizer
(lembre que a gente se amava e dizia isso sempre
thanks god we are latin)

no fim do dia, só quero que você hold my hands, love me tender e deixe a chuva do lado de lá da janela, pés descalços para espantar o calor e algo sólido, líquido e gasoso pra transformar qualquer coisa em um poema glacial.

I’ve been sailing in a boat but there is no sea and no water
(I guess I wasn’t even sailing)

das letras minúsculas, às referências do cotidiano. em deixar os sentimentos tão bem representados que só comprovam o que fórmula matemática alguma seria capaz: somos todos tão iguais ao mesmo tempo que somos todos tão diferentes. sabor de chuva molhada, fast food, manhã ouvindo balada norte-americana, agradecendo porque nem tudo está perdido, mesmo se o vazio inteiro tomou conta do lado de dentro. desenha imagens na cabeça de quem lê como as nuvens formam formas pelos olhos de quem vê. é cumulonimbus.

aleatoriedades

  • esse livro de poemas incrível, que me trouxe uma conexão sem igual com as ideias da autora (eu sentia que ela lia minha mente em alguns momentos), é da coleção yebá, que é deusa brasileira, parte da mitologia dos índios dessana, e criou a si mesma quando nada existia, para depois criar o mundo. não podia ter nada mais bonito do que ligar yebá à literatura na qual a quintal acredita: somos nós, mulheres, que nos geramos, para poder conceber também tudo aquilo que nos rodeia. e foi recebido em parceria com a quintal edições.
  • já rolaram outras resenhas de títulos da editora por aqui: m: fadas e copos no canto da casaincômodo contoo que ficou por fazerbatismo, noite prateada, molhada e vermelhacoroa de leite e maio.
  • a ideia inicial para essas fotos era de pegar o céu, aquele azul de verdade lá pra além do espaço sideral e mostrar o livro, mas minha destreza e celular ainda não permitem tal proeza de maneira adequada… ou eu mostrava o céu ou eu mostrava o livro… daí fiquei com o céu amarrotado…

Cumulonimbus e outros livros da Coleção Yebá estão disponíveis na Loja da Quintal Edições.

que a força esteja com vocês!

ouvindo: boa sorte – vanessa da mata (only in my mind…)

Comente este post!

  • Lunna

    Bem, eu discordo que não se resenha livro de poesias. O que eu acho que não se faz é sair analisando o poema, a estrutura, o poeta. Me cansa. Ou então, aqueles que inventam de interpretar o livro e dizer o que a gente deve sentir ao ler. rá
    Ainda não peguei em mãos os livros dessa editora, mas quero muito tocar. Em breve o farei.
    Mas lhe confesso que o pouco que li das poesias, nesse momento-noite, não me chamou. E poesia é isso, tem momento, é como um click, às vezes são mil e nada agrada. Às vezes, você olha e clica e pronto. Acontece.

    bacio

    responder
    • Retipatia

      Oi Lunna!
      Bem, talvez essa seja mais ou menos minha concepção sobre resenhar livros de poesia, geralmente eu gosto de analisar as leituras, mas quando se trata de poesias, a análise fica toda guardada pra mim, o que tento é mostrar os meus sentimentos na hora da leitura e ver se eles interessam a mais gente. Não sei, é algo complicado.
      Eu sou muito suspeita para falar da Quintal, porque adoro, mas não consigo deixar de recomendar, porque cada leitura, um amor novo brota.
      Também acho que poesia tem que ter seu tempo, às vezes pego algo para ler e não causa muito burburinho, eu outro dia, é como desanuviar olhos e mente!
      Obrigada pela visita! <3
      xoxo

      responder
  • Juliana Sales

    Nossa, esse livro parece ser uma delícia de ler! Como pessoa que ama admirar e fotografar o céu, o nome já me prendeu a atenção logo de cara. E que mistura louca é essa de céu nublado, burger king, chuveiro e desenhos na tv? Adorei! Eu achei essa frase simplesmente sensacional: ” todo mortal sabe que chuveiro serve para banho, canto e pranto.” E todos os livros dessa coleção Yebá parecem ótimos, não me lembro de ter visto nenhum deles por aqui que eu não tenha gostado. E vou ser repetitiva mesmo e dizer que as fotos estão lindas como sempre!

    responder
    • Retipatia

      Oi Juliana!
      Ah acertou em cheio! Essa leitura foi uma delícia! Eu também me encantei pelo nome, o modo como a palavra prende e faz imaginar o que autora pretendia com ela. É o nome de um dos poemas e um dos mais gostosos do livro! E essa miscelânea que rola aí, é exatamente o que me trouxe tanta identificação com as mensagens que senti enquanto lia!
      A quote do chuveiro é minha favorita! Transmitiu a vida de banhos… ahahah
      A Coleção Yebá tem mesmo títulos incríveis, eu super recomendo a leitura! <3
      Obrigada pela visita, feliz que tenha gostado! <3
      xoxo

      responder
  • Ana Claudia Soriano de Angelo

    Lindíssima apresentação! O livro me cativou junto das imagens belíssimas e da biografia da autora, de coração! E concordo com a Lunna quando diz que discorda quando dizem que não dá para resenhar livros de poesias! Quem foi que se atreveu a isto, céus!? Se é justamente nesse gênero que temos infinitas possibilidades de usarmos e abusarmos das amplitudes dos autores!!! Você, como sempre, arrasou! Eu amo poesias e quero guardar essa dica linda na minha wish list! Obrigada!

    responder
    • Retipatia

      Oi Ana Cláudia!
      Ah que amor! Esse livro mexeu muito comigo também! Eu sempre acho estranha a ideia de resenha poesias, no tom mais completo de se pensar numa análise de um livro. Talvez seja como vocês falaram, com estrutura distinta, é possível passar as ideias e, ainda assim, ser uma resenha. Como você disse, é um gênero de infinitas possibilidades!
      Feliz que tenha gostado e que o livro esteja nos seus desejos também!
      Eu que agradeço a visita e o carinho!
      xoxo

      responder
  • Analia Menezes

    Adorei a sua resenha poética e acho que sim, deve interpretar sua concepção literária mesmo que o tema é poesia. É bom muito ler esse tipo de resenha. Até difícil de encontrar por ai. Amo livros poéticos com essa temática.
    Adorei as fotinhos e se aquilo for jujuba.. eu não conseguiria tirar um foto sequer. Amo forte!

    responder
    • Retipatia

      Oi Anália!
      Ah feliz em saber que gostou do estilo da resenha! Gosto muito da temática desse livro e a forma como a autora conseguiu trabalhá-lo!
      E as balas não são jujubas, mas são tão tentadoras quanto! ahaha Eu comia uma entre um clique e outro… ahaha
      Obrigada pela visita!
      xoxo

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  • Claudia

    Oi Rê
    Eu adoro os posts que você faz sobre os livros desta editora, parecem todos ótimos
    Suas fotos são sensacionais, sempre! Amei estas também. E estas balas?! Hummmm, parecem deliciosas
    Também entendo que poesias são para serem sentidas e fiquei bem curiosa para ler este livro. Ja ouvi falar do trabalho da Camila, mas não li nada dela ainda
    Já disse e repito, adoro as suas aleatoriedades!
    Beijos

    responder
    • Retipatia

      Oi Cláudia!
      Ah que amor! Eu tenho um carinho enorme pela Quintal e todas as leituras me trouxeram ótimos momentos! Feliz que tenha gostado das fotos também! <3 E as balinhas são viciantes! ehehe
      Ah e vale a pena conhecer o trabalho da Camila, eu adorei essa leitura e tem uma leveza e identificação enormes! Gostei de saber que curte as aletoriedades também! <3
      xoxo

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