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Sob os Olhos do Delírio ♥ Fábio de Andrade

Algumas portas foram feitas para permanecerem fechadas, alguns locais escondem mais segredos do que aparentam e, invariavelmente, lar será sempre onde o coração está. É nesse tom que a antologia Sob os Olhos do Delírio do autor Fábio de Andrade, nos apresenta a três contos: O horrível fim de José de Alencar, Em casa e OBMEN-01.

Sob os Olhos do Delírio

Fábio de Andrade

Publicação Independente

“Então a única forma que até o momento me satisfez como significado dessa obra é: uma grande garrafa de bebida quase cheia ou quase vazia, onde na metade de baixo estão as histórias e na de cima as emoções.”

Sobre o Autor

Fábio de Andrade, 28 anos, nasceu e vive em Belém do Pará, lugar que serve de extrema influencia para sua escrita e criatividade medonha. Acredita que a literatura é uma deusa que pode salvar o mundo de qualquer problema, porém, ela está na adolescência e tem coisas mais importantes para fazer. Passa a maior parte do dia procurando receitas novas de café e na outra parte, julga se o café estava bom ou não.

Sinopse

O que um senhor solitário assistindo uma garotinha sendo dilacerada por um demônio saltitante, um velho apaixonado e Nikolai, o enfermeiro do hospício Muskov, têm em comum?

Nessa antologia, Fábio de Andrade afoga seus leitores em um mar de agonia enquanto os três infelizes protagonistas só conseguem distinguir a vida da morte enquanto o delírio não tiver consumido por completo seus corpos. Dilemas de desespero, amor e horror são expostos da forma mais simples e poética da palavra, trazendo três situações em que ele deixa na mão do leitor decidir: A tristeza é causa ou consequência?

Deixem que José de Alencar, o enfermeiro Nikolai e o velho marido de Lúcia lhe mostrem o real significado da melancolia em momentos que convergem no sentimento mais antigo e verdadeiro que a raça humana possui: o medo.

Sob os Olhos do Delírio

Um aviso logo de início, estas não são simples histórias de horror, suspense e mistério, são histórias de melancolia, teorias da conspiração e de acreditar em um além mundo digno das descrições do livro do Apocalipse. Como o próprio autor afirma, formam um álbum de fotografias de família. Talvez, em um olhar cru, superficial, as nuances das histórias possam não ser percebidas, mas, lendo entrelinhas, o que está e não está escrito, se sente os pulsantes sentimentos que permeiam as tramas. Cada uma, à sua maneira, irá despertar um lado do leitor, pode ser a surpresa, a apreensão ou a melancolia, mas algo há de surgir durante a leitura, isso é garantido.

O Horrível Fim de José de Alencar

Há que se fazer uma pausa antes de começar, não se trata de uma ficção acerca do destino do conhecido autor nacional de mesmo nome. Dito isto, seguimos à diante, para o começo.

José de Alencar, o falecido, nos avisa: são momentos de dor, terror. Se estivesse ainda vivo… não, este não é o ponto, seria melhor não ter adentrado aquela casa. Talvez ouvido aquela voz interior que o dizia para não seguir em frente. Ou dizia para seguir em frente? Seguiu, já não está mais entre nós.

O conto do horrível fim segue narrado pelo próprio José de Alencar, que, transpondo a quarta parede, avisa ao leitor, siga sob sua conta em risco. Como boa curiosa, segui, vislumbrei seu passado descrito prestes a acontecer. Os horrores. Todos eles lá, queira crer ou não quem está do lado de cá.

Um dos pontos mais interessantes que o conto traz, sem dúvidas, é a brincadeira que se faz com a linha temporal da história, trabalhada para fazer o leitor pensar saber o fim, sem o saber de fato. É, sem dúvidas, o ponto que mais chamou atenção nesse conto, além do bem trabalhado uso de elementos já corriqueiros do sobrenatural para descrever algo que, na mente mais cética, não faz sentido. Não precisa fazer, porque aqui, os sentidos podem enganar e, a boa e velha intuição pode levar ao mais derradeiro e cruel fim.

Em Casa

A saudade sempre presente, num tom necessário de saber se o outro se lembra, afinal, já se passaram 10 anos da última vez que Alfredo encontrou-se com seu amor. Espera-se que ela recorde, ele, sem dúvidas, não teve esquecimento, os anos marcaram a melancolia da ausência e, talvez o tempo só fez contar porque precisava saber o quanto ela aguardou.

Em casa é, sem dúvidas, do tom da melancolia. Não aquela que respinga o papel e deixa rastro de tinta ao passar a mão por cima, mas daquela que permeia o esperado, aquele fato que, só se descobre estar à espera quando ocorre. Falo do ciclo da vida, da saudade, da espera e do amor. Todos entrelaçados como se fossem fios da mesma renda.

Casa, aqui, é lar. É pertencer. E nem sempre esse é o lugar em que residimos de corpo, mas aquele em que a alma encontra alento, encontra sentido de ser. Sem dúvidas é meu conto favorito dos três que compõem a antologia. É sincero e simples, como estar em casa.

OBMEN-01

Muskov. Sanatório. Um plano certeiro, não tem chance alguma de dar errado, ele sabe os movimentos, os horários. O plano está em ação e o enfermeiro não vai falhar, não é apenas a sua vida que está em risco.

Mais do que vida em risco, é amor em risco, sanidade, realidade, vida do lado de fora. A possibilidade de viver algo que as paredes confinam, de respirar do lado de fora. Mas… será que é mesmo? Será que é a liberdade que se busca? Será que a realidade é o que acreditamos ser verdade ou a verdade é o que acreditamos ser a realidade?

O principal revés do conto é justamente o jogo da realidade, a pergunta que fica no ar é se a verdade e a realidade podem andar juntas. Se é a verdade de alguém, é a sua realidade não é mesmo?

Um conto com uma reviravolta à lá filmes do gênero de suspense, aquela que você pode até esperar que vai acontecer, mas vai se surpreender de toda maneira. Não porque se reinventa a roda, mas porque o eixo que faz girar prende, e traz vários sentimentos contraditórios bem costurados à trama.

“São esses momentos que refutam a ideia de que um destino premedita a vida de todos; o ser humano apenas toma decisões erradas quando as corretas são óbvias.”

“Foi então que percebi que a loucura e a paixão são duas irmãs egocêntricas.”

Sob os Olhos do Delírio sem dúvidas será mais que leitura de entretenimento, irá despertar, em cada conto, da curiosidade à empatia e horror.

Aleatoriedades

  • As bonequinhas nas fotos estão aí para combinar com o primeiro conto, O horrível fim de José de Alencar e são Blythes, para quem quiser saber mais sobre elas, é só acessar esse post.
  • O autor Fábio de Andrade tem também um projeto super legal de podcast com o autor Lenmark Andrade, o Barzinho dos Andrade, em que são discutidos vários temas literários, vale a pena conferir!

A antologia de contos Sob os Olhos do Delírio está disponível para compra na Amazon e também pelo Unlimited.

Que a Força esteja com vocês!

xoxo

Assistindo: 3%

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  • Luana Souza

    “Um aviso logo de início, estas não são simples histórias de horror, suspense e mistério, são histórias de melancolia, teorias da conspiração e de acreditar em um além mundo digno das descrições do livro do Apocalipse.” Só por essa frase inicial na sinopse eu já fiquei doida pra ler, pois amo esses temas. Tenho anotado vários títulos nesse gênero para fazer leitura, e pretendo ~desatrasar~ tudo assim que terminar de ler os livros que tenho aqui em casa 🙂

    Como sempre, eu adorei sua resenha, e ainda mais por você ter falado de cada um dos contos. Parece ser tão interessante e diferente *-* As fotos também estão um amor, eu AMO suas bonecas!

    Beijos, amora.

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    • Retipatia

      Oi Luh!
      Esse aviso é mesmo ótimo né, só por ele eu facilmente me jogaria na leitura, sem receios! Esses contos são curtinhos e, por serem tão gostosos de acompanhar, acho que facilmente você consegue ler quando chegar a vez dos suspenses/trillers/horror/terror! <3 Eu ando na vibe de desafogar um pouco também, mas acho que até o fim de junho tudo entra nos eixos! É a meta, né?! rsrsrs
      Obrigada, feliz que tenha gostado da resenha, os contos são mesmo diferentes e interessantes! <3 Ahhh minhas bonecas mandam um oi especial para você então! ehehe <3
      xoxo

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