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BEDA #14 ♥ Ratobúrguer ♥ David Walliams

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Bom dia, tarde e noite people!

Décimo quarto dia de B-E-D-A! O tempo está literalmente voando e, como hoje é dia literário aqui no blog, vou falar de um pequeno achado. Domingão de dia dos pais e post falando de livro que trata de uma relação entre pai e filha bem bacana.

Há um tempinho, passeando nas Lojas Americanas, vi uma bancada de livros em promoção. Geralmente não dou muita trela porque são livros de temáticas que não curto, mas achei, no dia, dois que me pareceram muito legais: Ratobúrguer – David Walliams e O Presente do Meu Grande Amor: Dez Histórias de Natal – Organização de Stephanie Perkins, ambos da Editora Intrínseca. O Ratobúrguer li super rápido porque é um livro infanto-juvenil de leitura bem fácil e o outro, eu comecei a ler o primeiro conto, mas resolvi ler na época de Natal, porque faz muito mais sentido kkkkk. Então, só falarei dO Presente do Meu Grande Amor no fim do ano ou no ano que vem… ehehe

Ratobúrguer

Autor: David Walliams

Ilustrações: Tony Ross

Editora Intrínseca

Sinopse (primeira orelha): As coisas não vão nada bem para Zoe. Com o pai desempregado, uma madrasta horrível viciada em batatinhas de camarão, a valentona da escola atazanando sua vida e a morte de seu hamster, ela não tem muitos motivos para ficar feliz. Mas tudo parece melhorar quando Zoe encontra Armitage, um ratinho muito fofo e inteligente, embaixo de sua cama. Um novo vilão, porém, chega à cidade: Burt, um terrível, malvado e assustador vendedor de hambúrgueres. E parece que ele está de olho em Armitage! Nesta nova e hilariante aventura, você vai conhecer uma menina que não desiste nunca, não importa o que aconteça.

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Ratobúrguer já apareceu aqui no blog, na postagem do projeto fotográfico Ângulo Criativo desse mês de agosto (para conhecer é só clicar aqui), que teve como tema Blue Books.

A história é sobre uma garotinha chamada Zoe, que mora com seu pai, que está desempregado e passa o dia todo no bar, e sua madrasta, que claramente não gosta da menina e tem um vício incontrolável por batatinhas de camarão.

Zoe tem um hamster chamado Gergilim que, dado dia, aparece morto em casa. Além disso, a garota, que mora em um prédio absurdamente alto e torto, é atormentada diariamente pela valentona da escola, que mora no mesmo prédio também.

Fora as provocações cotidianas, Zoe tem problemas de sobra: seu pai não consegue um emprego, não há comida em casa e as discussões entre ele e a madrasta são contínuas.

Para alegrar sua vida, um ratinho filhote, que Zoe decide batizar de Armitage, aparece em seu quarto e a menina logo decide ficar com ele, para lhe ensinar a dançar break, como fizera com Gergilim.

Contudo, Zoe sabe que sua madrasta não deixará que ela fique com o rato e decide levá-lo para escola, mesmo diante da existente proibição de levar animais.

Na escola, apesar de constantemente faminta, Zoe nunca tem dinheiro para comprar lanche e, mesmo assim não iria fazê-lo, se o tivesse. O vendedor de hambúrgueres que fica na porta da escola se chama Burt, e cada sanduíche não poderia ser mais repulsivo.

Mas, o resultado do passeio de Zoe com seu pequeno novo amigo resulta na suspensão da escola. A partir daí, Zoe passa por diversas dificuldades e aventuras para manter seu ratinho Armitage, a salvo da madrasta, que chama um exterminador de ratos para encontrá-lo.

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A leitura do livro, como esperado, é rápida e fluida. E a história é contada por um narrador, que interage várias vezes com o leitor. Acho isso muito legal para livros infanto-juvenis, ajuda a manter a atenção durante a leitura das crianças, suponho.

Sem contar que o nome da personagem principal já seria o suficiente para que eu quisesse ler o livro, já que tenho uma doll com esse nome também! ahahah

O desfecho da história é simples e atende à faixa etária, com algumas coisas bem legais como a reconciliação de pai e filha e entre a personagem principal e a valentona da escola. A amizade consegue florescer a partir do momento de entendimento entre as personagens e, em relação à relação de pai e filha, é importante mostrar a importância da família na relação à superação dos percalços da vida e o apoio mútuo. Tem algumas partes engraçadinhas também e as ilustrações servem para manter a história mais cativante.

Num todo, poderia ser tido como um bom livro, e poderia facilmente entrar na minha Reclassificação de Livros como “Leio assim que puder me sentar no ônibus”. Mas alguns detalhes me deixaram desconfortável e insatisfeita com a história. Livros infanto-juvenis são lidos, em suma, por crianças em fase de desenvolvimento, tanto de sua concepção de si mesmos quanto das pessoas e do mundo ao seu redor.

Assim, o livro traz alguns problemas muito válidos, tais como o desemprego, amizade e bullying. Que devem ser pensados e debatidos, ainda que de forma descontraída, como na história, para o público infantil. Contudo, uma associação, que me incomodou bastante, é feita de imediato, todos os “vilões” são gordos. Pode não parecer nada, a princípio e mera coincidência, mas a descrição feita das pessoas gordas é sempre colocada de modo a parecer um atributo negativo dessas pessoas.

Tanto a valentona da escola, quanto a madrasta quanto o vendedor de ratobúrguers, são gordos. Se fosse apenas isso, talvez passasse despercebido. Mas, quando a associação é feita de modo negativo ao personagem e não apenas como uma característica do personagem, isso é ofensivo. Ainda que a valentona da escola depois de um tempo “mude para o lado da luz da força”, a característica já fora associada erroneamente. É mais um daqueles momentos em que, talvez não por real vontade, mas por senso comum, os personagens gordos e usualmente, considerados menos simpáticos e bonitos, são aqueles aos quais as crianças estão vendo/lendo e assimilando que não devem se espelhar e identificar.

E isso não é apenas ruim, é o mesmo tipo de comportamento e ideia que faz com que pessoas gordas sejam preteridas a todo tempo em vista de pessoas que se enquadram de maneira mais adequada ao padrão de medidas que a sociedade exige. É preconceito, é gordofobia.

Ser gordo, como no livro, passou a ser associado a ser mal e ruim. Errado. Indesejado. E essa visão precisa ser combatida e, um livro infanto-juvenil, tão bem elaborado e que traz alguns temas tão atuais e necessários, não deveria refletir esse padrão errôneo e equivocado.

Depois dessa visão mais profunda da história, é inevitável a queda do livro na Reclassificação. Realmente o livro se enquadra na descrição de “manter o leitor interessado“, que compreende a “Leio assim que puder me sentar no ônibus“, mas, com esses pequenos detalhes que me faziam questionar durante a leitura. Então, mesmo sendo de leitura rápida e eu querer terminar para confirmar o desfecho da história, e inicialmente parecer ser um bom livro infanto-juvenil, sofre de um clássico problema. Carece de realidade em alguns aspectos, de que as pessoas são diferentes e não é sua aparência que dita se são boas ou más. E, de bom livro, caiu para um livro ruim, não por má escrita, revisão ou qualquer outra coisa, mas por expressar um princípio não digno de ser validado. É claro que nada disso desmerece as partes boas do livro, como a relação fofa entre pai e filha que é demonstrada, que consegue superar a adversidade que a vida lhe impõe. Só que, ao fim da leitura, a parte que incomoda ofuscou um pouco as partes boas, fazendo com elas perdessem parte de seu brilho.

Ouvindo: R. City ft. Adam Levine ♥ Locked Away

xoxo

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Comente este post!

  • Daniele

    Os problemas discutidos no texto são bastante válidos, tendo em vista a faixa etária estabelecida para esse livro. Pela capa parece ser engraçado e eu gosto de livros com essa temática, parece ser super gostoso de ler. É muito ruim quando o livro decepciona já no final, né ? Mesmo assim gostei muito da resenha, achei muito massa a forma como você abordou os aspectos do livro e acho que leria ele sim, mas sem criar muitas expectativas.
    Beijão

    responder